|
Hist?rias de pessoas que decidiram deixar tudo para tr?s para encarar o
desafio de um emprego ou estudo em outra cidade
|
Ricardo Corr?a
Rep?rter
30/12/05
|
|
|
Veja o que diz o estudante Vin?cius Araujo, sobre os desafios que viveu
quando se mudou para Juiz de Fora para estudar e trabalhar.
Clique no ?cone ao lado!
|
|
|
|
|
|
|
Sair de casa, deixar a fam?lia, os amigos e tudo o que conhece em busca de
um sonho. ? essa a realidade de muitas pessoas, que possuem o objetivo claro
de evoluir seja nos estudos ou profissionalmente. A hora de decidir por uma
nova vida ? cercada de incertezas, e nem sempre a mudan?a acontece sem
traumas ou dificuldades de adapta??o. Por isso sempre pinta a d?vida: vale
? pena arriscar? A estudante Eline Lima (foto abaixo), 25 anos, achou que sim. Por isso saiu de
Manaus, no Amazonas, e veio aportar em Juiz de Fora. O objetivo era fazer uma
p?s-gradua??o em sua ?rea de atua??o, a administra??o de empresas. "Eu queria ter uma base diferente da minha forma??o, da minha faculdade, que
era particular. Mas tamb?m queria saber se o que eu havia estudado estava
dentro do que as outras pessoas estavam estudando tamb?m", explica ela,
dando outros motivos para rumar para t?o longe de casa.
"Como no meu estado a educa??o ainda ? fraca, e cursos feitos em outros
estados e profissionais de fora eram mais bem vistos, resolvi fazer minha
p?s fora", diz.
Mesmo depois de decidir que queria mesmo arriscar a vida fora de casa,
outras d?vidas pintaram. A primeira delas: o local para fazer o curso.
"Passei um ano estudando v?rios locais, economizando e planejando minha
viagem. Tinha pesquisado na internet cinco cidades. S?o Paulo, Rio, Recife
e, a princ?pio, Belo Horizonte e Curitiba. Conforme fui estudando as
cidades, vendo coisas como infraestrutura, qualidade de vida, e todas as necessidades de locomo??o eu
optei por Juiz de Fora", contou Eline.
Um grande desafio para quem morava com a fam?lia e teve trabalho para
convencer os pais.
"No come?o foi complicado explicar para eles que seria bom tanto pessoal
como profissionalmente". O motivo da preocupa??o familiar fazia sentido. Em
um lugar localizado a quil?metros de dist?ncia, Eline iria no escuro, sem
conhecer quase nada. "Fui sem nada. Larguei um emprego est?vel e fui. S? conhecia uma pessoa,
um amigo de inf?ncia do meu irm?o", conta Eline, que no entanto tinha na
cabe?a ainda mais motivos para encarar o desafio.
"Tinha vontade de passar por tr?s est?gios na minha vida. Morar com os pais,
morar s? e morar junto", diz.
Realizou o segundo. Ficou um ano em Juiz de Fora e praticamente n?o
conseguiu fazer amizades. As diferen?as em rela??o ao seu povo foram logo
notadas. "Quando cheguei foi complicado porque apesar de empolgada percebi as
dificuldades da cidade. Apesar de ser refer?ncia no ensino,
profissionalmente n?o era muito bom. Al?m disso tinha a quest?o do clima, da
cultura. Na minha terra as pessoas s?o mais amorosas, receptivas. Por isso
tive de dificuldade de adapta??o", lembra, ressaltando que n?o conseguiu,
mas valeu ? pena.
"Em todos os aspectos. Consegui trabalhar em uma empresa na qual pude
aprender v?rias coisas. Mas foi inusitado porque me ofereci para trabalhar
de gra?a, pela experi?ncia. E consegui. Cresci pessoalmente porque aprendi a
passar por situa?es em que somente eu poderia resolver e decidir. Aprendi a
ser tolerante e paciente principalmente porque estava prestes a conseguir o
que eu queria. E pelo curso. Consegui fazer o que tinha me proposto a fazer
desde o in?cio", diz ela, que no entanto, viveu momentos complicados,
principalmente por causa da saudade.
"Muitas vezes esmorecia, a saudade apertava. Era dif?cil lidar com esses
sentimentos. Porque quando voc? sai de casa, voc? quer sair para vencer.
Espera que tudo d? certo", lembrou.
Eline ficou um ano em Juiz de Fora, mas n?o resistiu esse tempo todo antes
de ir para casa. Cinco meses depois, no Dia das M?es, foi visitar a fam?lia,
para ficar um fim de semana. Acabou ficando tr?s semanas inteiras. Voltou
para JF, completou o curso e agora retornou para Manaus. Como saldo de tudo
isso, garante:"Tive tempo de me conhecer. Agora sei dos meus limites".
Mesmo que por motivos profissionais, uma mudan?a como essa vem junto com
muito aprendizado pessoal. Assim como aconteceu com Eline, funciona com
todos os que enfrentam um desafio como esse. Assim pensa a psic?loga
Maria Aparecida Frade Pires (foto ao lado), especialista em
Recursos Humanos. Por isso a vida pessoal deve ser levada em considera??o na
hora de tomar a decis?o de ir ou n?o. "A pessoa tem que ver o que vai estar buscando n?o s? profissionalmente mas
na vida dela tamb?m. N?o vai ter ajuda do outro. N?o ter? caf? pronto. Muitas
vezes n?o tem com quem conversar. Vai ter que estar mais ligado ? quest?o da
disciplina", explica a especialista.
Basicamente, segundo ela, a pessoa estar? saindo da "zona de conforto". Por
isso ter? que buscar algumas alternativas para se adaptar ao novo ambiente.
Ter? que tomar algumas novas decis?es, ter? novas responsabilidades. Para Maria Aparecida, se a mudan?a se d? por uma quest?o profissional,
as dificuldades s?o em dobro.
"Se ? por causa de um novo emprego, ? mais dif?cil, porque j? existe a
dificuldade de adapta??o a um novo ambiente de trabalho. Essas coisas novas
parecem amea?adoras e na verdade n?o s?o. ? a chance de conhecer gente nova,
de criar novos relacionamentos".
Seguindo essa tese, no caso de Vin?cius Araujo, 21 anos, as
dificuldades foram em dose tripla. Ele veio de S?o Jo?o del-Rei em
busca de um emprego e da aprova??o no vestibular de Comunica??o Social.
Desde fevereiro est? na cidade, estudando e trabalhando em uma empresa de
telecomunica?es. Em um ambiente novo, sem conhecer muita gente e com tantas
tarefas, s? tem praticamente estudado e trabalhado.
"? complicado para amizades. At? porque o povo ? mais fechado, mais quieto e
eu conhe?o pouqu?ssimas pessoas. N?o saio muito", conta Vin?cius, que s? n?o
teve mais dificuldades porque veio a convite de um amigo, que divide um
apartamento com ele.
A psic?loga Maria Aparecida Frade explica que dessa forma ? mais f?cil,
assim como nas viagens de interc?mbio. "Assim ? melhor porque cada um vai suprir o limite do outro. Quando se vai
sozinho ? complicado porque precisa-se aprender desde os afazeres b?sicos
at? a quest?o de amprender a lidar com a solid?o", ressalta a
especialista.
Mesmo tendo o amigo para ajudar, Vin?cius tamb?m sofreu com isso e ainda
sofre.
"? complicado. Deixei minha namorada e minha familia l?. Nunca tinha sa?do de
casa", conta Vin?cius, cuja fam?lia j? est? acostumada com isso. Ele saiu de
casa logo depois que o irm?o voltou de Lavras.
Se vai valer ? pena profissionalmente, Vin?cius ainda n?o sabe dizer, mas na
quest?o pessoal ele j? viu diferen?a.
"Mudou meu modo de ver as coisas, aprendi a valorizar mais o dinheiro. Em
rela??o ao profissional, s? depois que vai dar para ver se deu certo. Minha
inten??o ? passar no vestibular e ficar. Tirando esse stress da cabe?a
poderei me dedicar mais ao trabalho e a tend?ncia ? que as coisas
melhorem", diz Vin?cius ainda cheio da esperan?a que o trouxe para outras
terras, longe casa.