Videogames: her?is ou vil?es?

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Videogames: heróis ou vilões?   Jogos eletrônicos provocam depressão e vício, se praticados em excesso. Com moderação, podem ser instrumentos de união familiar e de diversão

Pablo Cordeiro
*Colaboração
28/8/2009

O videogame é capaz de prender os jovens por horas em seu universo. O estudante Fellype Alberto conta que durante três anos dedicou até 12 horas por dia ao Lineage 2. "Nos finais de semana, ultrapassava 18 horas. Ocupava todo tempo com o jogo", afirma.

Segundo a psicóloga Vivian Werneck, o quadro do estudante pode ser caracterizado como vício, assemelhando-se à dependência de drogas. "Toda atividade realizada em exagero pode causar depressão. O pior é que a pessoa só percebe quando já está em estado crítico, e isto pode demorar anos."

Fellype Alberto acredita que não estava viciado e não se arrepende das horas investidas. Entretanto, admite que poderia ter feito atividades mais saudáveis, como praticar esporte e sair com os amigos. Ele decidiu parar por iniciativa própria, pois estava ingressando na faculdade e não teria mais tempo para jogar. "O jogo era um reflexo da vida. Eu podia dominar cidades, eliminar inimigos da mitologia e formar grupos." Hoje, o estudante prefere não jogar para não cair em tentação. "É preciso se dedicar. Com poucas horas por dia, não é possível alcançar grandes feitos."

A psicóloga aponta que pessoas ansiosas costumam exceder no tempo dedicado a uma determinada atividade. "Geralmente, a atitude está relacionada com a fuga dos problemas. É um mecanismo de defesa do nosso ego. Inconscientemente, a pessoa se concentra na tarefa para esquecer os problemas da vida real." Ela destaca que o vício só é identificado quando chega ao limite. "A recomendação é a terapia psicoterápica. O paciente não descobre o problema sozinho porque não consegue refletir. É necessária a intervenção de um profissional."

Socialização

O estudante Hugo Delgado também passou por situação semelhante. Segundo ele, já foi praticante assíduo de diversos jogos on-line, os chamados MMORPG (Massive Multiplayer Online Role-Playing Game ou Jogos Online Massivos para Múltiplos Jogadores). Nesses jogos, o usuário cria um personagem (avatar) e interage com outros personagens de pessoas reais em um mundo virtual. "Achava fantástico poder conversar com pessoas do mundo todo. Ficava horas do meu dia fazendo missões para evoluir meu avatar."

Delgado conta que jogou o Ragnarok por três horas diárias, durante um ano. "Tinha consciência de que poderia investir meu tempo em outras tarefas, mas jogava porque gostava." Ele conta que o game ultrapassava as fronteiras do computador, pois mantinha contato com outros usuários. Ele chegou a fazer amizades por meio do jogo.

Fellype Alberto também criou amizades por meio da prática. "Jogava em um servidor (mundo virtual) nacional e internacional. Fiz amigos dentro e fora do país. Era uma ótima oportunidade de descobrir novas culturas e praticar outras línguas. Um conhecido no jogo mudou-se para São Paulo e se casou com uma pessoa que conheceu no Lineage."

A psicóloga Vivian Werneck ressalta que um dos males causados pela transposição do mundo virtual na realidade é a falta de socialização. "Acontece um esvaziamento na pessoa, um forte sentimento de introspecção. Não apenas pelo videogame, mas também pela internet, as relações pessoais estão sendo, cada vez mais, intermediadas pela máquina." 

Diversão para toda família

Sem excessos os jogos eletrônicos não trazem nenhum malefício. Pelo contrário, são perfeitos instrumentos para a aproximação familiar e convívio de pais e filhos. O professor de português e cerimonialista, Sérgio Soares, usa o videogame para a diversão com sua esposa. "Antes, jogávamos quase todos os dias um jogo de futebol. Hoje, por falta de tempo, praticamos mais nos finais de semana. É uma forma de estarmos juntos."

O jornalista Ricardo Miranda sempre que pode joga com os filhos de 10 e 12 anos. "Acho que o videogame dosado aguça a criatividade e desenvolve a curiosidade pelas novas tecnologias." Ele conta que fiscaliza os horários para evitar que outras atividades sejam prejudicadas. "É fundamental esse tipo de diversão. Os meninos têm hora para jogar, assim como também têm para o inglês, a religião e o esporte."

Para Miranda, os games eletrônicos facilitam o convívio entre os adolescentes. "Eles sempre fazem campeonatos entre os vizinhos e amigos da escola. Não vejo problemas na prática, desde que tenham um bom rendimento escolar." 

Vivian Werneck aprova esta interação e recomenda a diversão eletrônica para os adultos. "Esta é uma forma do adulto voltar a ser criança. Esse desligamento momentâneo é fundamental para a vida. Você consegue trabalhar bem e produzir melhor quando está relaxado." A psicóloga atenta para a competição que pode ser gerada entre pais e filhos. "Jamais se deve competir e brigar com os filhos. Este é um divertimento saudável e não uma corrida para ver quem é o melhor."

*Pablo Cordeiro é estudante do 9º período de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes