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Que lições tirar do caso Cunha?

Cláudio de Oliveira - Junho 2016
 

O Conselho de Ética da Câmara aprovou parecer pela cassação do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), cujo mandato já havia sido suspenso pelo STF. O plenário deverá confirmar a decisão diante das denúncias que envolvem o deputado no esquema de propinas na Petrobras.

Como foi possível a vitória de Cunha para a presidência da Câmara em 2015? Cunha obteve 267 votos contra 136 dados a Arlindo Chinaglia (PT-SP). Mesmo que o petista tivesse recebido os 100 votos obtidos pelo deputado Júlio Delgado (PSB-MG), apoiado pelo PSDB, PSB, PPS, PV, mais os 8 votos dados a Chico Alencar (PSOL-RJ), mesmo assim o candidato do PMDB teria sido eleito.

A eleição de Cunha pode ser vista como resultado da crise da coalizão governista provocada pela disputa de poder entre os dois maiores partidos que davam sustentação ao governo Dilma Rousseff. Mas observemos que a insistência do PT, segundo partido em número de deputados, em manter uma candidatura própria sem chances de êxito mostrou a sua incapacidade de buscar uma negociação mais ampla e estabelecer um consenso das forças democráticas e progressistas no Congresso.

Não era a primeira vez que o PT demonstrava sua atitude hegemonista na eleição da mesa diretora da Câmara. Em 2005, a vitória do deputado Severino Cavalcanti (PP-PE) revelou que o projeto de poder do petismo importava mais do que o avanço geral do processo político no país.

O pouco compromisso do PT com uma negociação ampla com as forças democráticas levou ao desastre da eleição do chamado "rei do baixo clero": Severino Cavalcanti obteve 300 votos contra 195 dados a Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP). No primeiro turno, Luiz Eduardo Greenhalgh obteve 207 votos; Severino Cavalcanti, 124; Virgílio Guimarães (PT-MG), 117; José Carlos Aleluia (PFL-BA), 53; e Jair Bolsonaro (PFL-RJ), 2.

As vitórias de Severino Cavalcanti e Eduardo Cunha podem ser vistas também como a conformação na Câmara do chamado "novo Centrão", bloco de 218 deputados de siglas como PP, PR, PSD, PTB e PRB, infladas pelo troca-troca partidário incentivado durante o governo Lula para enfraquecer a oposição e construir uma maioria governista no Legislativo.

Nos governos do PT, os setores conservadores e atrasados do PMDB foram prestigiados, enquanto peemedebistas históricos como Pedro Simon, Itamar Franco, Jarbas Vasconcelos, entre outros, foram marginalizados. Esses líderes, vinculados à figura de Ulysses Guimarães, juntamente com parlamentares do PSDB, PSB e PPS, protagonizaram momentos altos da história do Congresso brasileiro e foram responsáveis pela atual Constituição da República, a mais democrática de nossa história.

Creio que a lição a ser tirada das eleições de Severino Cavalcanti e de Eduardo Cunha é que somente um entendimento amplo dos partidos democráticos e progressistas será capaz de isolar e vencer as forças conservadoras e atrasadas do Congresso. Não só para eleger uma direção de nível para a Câmara, como especialmente para promover as necessárias reformas do sistema político. Caso contrário, os derrotados serão novamente PT, PSDB, os setores democráticos do PMDB, PSB, PDT, PPS, PV e Rede, entre outros. E especialmente a sociedade brasileira, que se sente cada vez menos representada.

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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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