Cidade de a?car

Por

 Juliano Nery 29/10/2010

Cidade de açúcar

Conforme me disse em certa feita, o amigo e jornalista Filipe Delage, não há Dia de Finados sem chuva. Sem saber qual o motivo, no dia em que nos dedicamos aos mortos é, costumeiramente, de muita água. Permitindo-me ampliar o conceito pra lá de correto do meu nobre colega, quando se trata de Juiz de Fora, é bem certo que todo o feriado prolongado esteja com mau tempo. E com sol, também. Afinal de contas, por aqui, as quatro estações do ano são totalmente passíveis de acontecer. E o problema é que, esticando um pouco mais o horizonte pluviométrico lançado na primeira frase, torna-se bem possível que engatemos chuvas diárias até ali pelo mês de março, ocasião em que as águas do Tom Jobim fecham o verão...

Ao contrário de outro baluarte da nossa música brasileira, o Raul Seixas, eu ainda não perdi o meu medo da chuva. Não da chuva que lava e na qual já andei muitas vezes sem rumo, com a roupa colada no corpo. Mas, daquela que traz leptospirose, causa enchentes, derruba encostas e desabriga gente. Somente na última semana, de acordo com dados da Defesa Civil de Juiz de Fora, 13 ocorrências já foram registradas e o que tivemos, vale dizer, é somente uma amostra do que está por vir. E, talvez, seja por isso que eu não possa cantar o refrão do Raulzito com todo o entusiasmo e a veracidade que gostaria.

Talvez, me acalmasse mais, se soubesse que nossas galerias pluviais são realmente capazes de suportar todo o volume d'água que as nuvens nos enviam pra cá. Ou mesmo, que o cidadão juizforano, não ajudasse a entupir os bueiros e bocas-de-lobo com tanta porcaria, impedindo a correta captação da água da chuva. Ou ainda, que houvesse um plano de contingência para que os moradores que passaram o ano todo nas áreas de risco, durante o período de estiagem, não corressem os riscos peculiares desta época. É triste ver a mesma fotografia estampada todo ano nos jornais. Não gosto de ver a mesma cena. Espero que a cidade não seja de açúcar, aquela que não pode molhar, porque, senão, desmorona. É preciso coragem, determinação e um bom planejamento para conter as intercorrências causadas pelas intempéries.

E por falar no lixo que entope nossas vias, espero que os santinhos com as faces e propostas de governo do nosso(a) próximo(a) presidente ou presidenta não se associem com as águas do santo que tem as chaves do céu, o São Pedro. Já chega o trabalho que o pessoal do Departamento de Limpeza Urbana terá para limpar a cidade após a disputa deste domingo, na qual o vencedor ou a vencedora terá muito trabalho com as situações de emergência por conta da chuva. Somente no passado recente, tivemos catástrofes em Alagoas, Maranhão, Rio de Janeiro, Santa Catarina. Demandas que vão além de rixas partidárias, rodoanéis, passado político e outras tantas coisas que tem chegado no meu e-mail durante a campanha.

Independentemente da nossa vontade, a chuva continuará a cair. Desde o dilúvio universal, lá do Noé, é assim. Ele se preparou com a arca para os 40 dias de chuva. E o que será feito por Juiz de Fora? Aguardaremos o mesmo chamado divino à ação? Mitologias a parte, relembro uma música composta pelo meu não menos amigo, o webdesigner, Amaro Baptista, que canta versos sobre o clima na cidade. "Eu não sou do Rio, eu não sou de BH. Sou de Juiz de Fora e hoje o tempo vai mudar..." Neste feriado, não se esqueça de levar o guarda-chuva e nem dos mortos. Ah, e vote certo!

Juliano Nery aposta 10 mangos que no dia 2 de novembro, como de praxe, irá chover em Juiz de Fora. E vai fazer sol.



Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.