Diante da demanda, energia nuclear tem sido vista sob nova ?tica

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Cecília Junqueira 11/5/2011

Renascença nuclear?

Hoje, quando falamos em energia nuclear, pensamos logo na usina de Fukushima, que sofreu uma explosão logo depois do tsunami no Japão, em março deste ano. Para as pessoas com mais de 40 anos, os registros de episódios nucleares passam também por Chernobyl, Three Mile Island, Hiroshima e Nagasaki. Os dois primeiros, acidentes, os dois últimos, guerra mundial, a segunda, para ser mais específica.

Certamente por isso, ficou no imaginário coletivo a repugnância à energia nuclear, porque o que chega até a mídia cotidiana é a força de destruição da energia nuclear, seu poder de devastação... que de fato é avassalador! Quando se trata de energia nuclear, o fator erro é gravíssimo em consequências!

Mas a necessidade de autossuficiência em energia, principalmente em países com escassez de fontes para isso, tem motivado o mundo a olhar com outros olhos para a energia nuclear. Mesmo o Brasil, privilegiado que é nas energias limpas (água, vento, sol), tem investido na nuclear. Angra 3 está a caminho, prevista para 2015, a um custo estimado de R$ 7 bilhões, e terá maior capacidade energética em relação a Angra 1 e 2. Possuímos a sexta reserva do mundo de urânio, o que nos assegura também grande autonomia gerencial.

Apesar de cara, a energia nuclear usada para fins pacíficos não contribui para o aquecimento global, ao contrário do petróleo, grande protagonista do efeito estufa...

Hoje, existem cerca de 440 reatores em ação ao redor do mundo, localizados em 31 países e gerando aproximadamente 17% da produção global de eletricidade. Cerca de 50 reatores estão em construção na China, Coreia do Sul e Rússia. França, Finlândia e o nosso Brasil estão erguendo novas plantas. A França, aliás, possui o maior percentual de energia nuclear na matriz energética do mundo, cerca de 77%. Já os EUA ficam em primeiro lugar no número de usinas, são 104 no total, e estão em pleno vapor.

Erros humanos desencadeiam vazamentos nucleares, por este motivo, os novos modelos são mais simples e dependem menos da mão humana e mais da máquina para seu funcionamento, o que me faz lembrar do filme 2001: Uma Odisseia no Espaço de 1968, do diretor Stanley Kubrick, em que a nave Discovery é totalmente controlada pelo computador Hal 9000, que entra em pane e tenta assumir o controle na nave, eliminando um a um os pilotos... Revolta do feitiço contra o feiticeiro!

Voltando à questão do investimento em segurança nas usinas nucleares, desde setembro de 2001 (qualquer semelhança com a data do filme é mera coincidência), quando houve o ataque às torres gêmeas, afirma-se que os projetos de centrais nucleares são reforçados de modo a resistir a um impacto direto de avião. Será?

O que se sabe é que os eventos internos (incêndio ou quebra de tubulação) geram riscos muito mais baixos do que eventos externos (terremotos, tsunamis, aviões); nestes casos, de nada adianta centralizar o comando para o computador, o perigo vem de fora, como efeito surpresa... Faz-se necessário incluir os eventos externos como riscos previstos.

Outro risco é o lixo radioativo. Existem o de baixa, média e alta radioatividade. Os de baixa são os rejeitos de hospital e indústrias, os de alta são os restos do combustível nuclear, que podem ser armazenados em lugares provisórios e/ou permanentes. Quando a vida útil da usina acaba, várias partes dela ficam contaminadas; até hoje, nenhuma foi desmontada, e os cientistas não têm uma resposta pronta sobre o que fazer com esses materiais.

A energia nuclear está longe de ser a ideal, mas em um mundo voraz em energia, ela deve ser considerada. As benesses e os malefícios pelo uso da energia nuclear serão colhidos por todos, por isso cabe à sociedade, governo e os investidores a discussão responsável dessa questão fundamental.

Abraços verdes!

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Cecília Junqueira é gestora ambiental, pós graduanda em problemas ambientais urbanos
e integrante da "Mundo Verde projetos ambientais".