Ingoma completa 11 anos divulgando as ra?zes das Congadas e Moçambiques

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Ingoma completa 11 anos divulgando as ra?zes das Congadas e Mo?ambiques
Sábado, 8 de fevereiro de 2020, atualizada às 8h15

Ingoma completa 11 anos divulgando as raízes das Congadas e Moçambiques

Angeliza Lopes
Repórter

Ao completar 11 anos de criação, o grupo Ingoma pretende disseminar e trazer para conhecimento popular os ritmos presentes nas raízes das Congadas e Moçambiques do interior de Minas Gerais para Juiz de Fora. O músico, compositor e arranjador, Lucas Soares, é o coordenador do Ingoma e detalha os percursos percorridos pelo grupo até este ano de 2020. O projeto trouxe nomes de relevância do mercado independente da música brasileira e já capacitou dezenas de juiz-foranos nas oficinas de tambor mineiro. Confira entrevista na íntegra logo abaixo:

ACESSA.com: Como o Ingoma surgiu? E quando?

Lucas Soares: O Ingoma surgiu no fim de 2008, tendo, portanto, acabado de completar 11 anos. O grupo nasceu do encontro de um movimento de tambor mineiro que ganhava o estado e chegava a Juiz de Fora entre o início e meados dos anos 2000. Foi nessa época que os circuitos de divulgação cultural possibilitaram oficinas na cidade ministradas por artistas como Maurício Tizumba e o grupo Tambolelê.

ACESSA.com: Quantos integrantes fazem parte do grupo?

LS: Atualmente, o Ingoma, enquanto grupo de palco, tem oito integrantes: cinco percussionistas (que começaram como alunos das oficinas de tambor mineiro que o grupo ministra), um violonista (o coordenador do grupo e professor de tambor mineiro, Lucas Soares), um baixista e um baterista. Mas, enquanto bloco que fará o Cortejo de Carnaval no próximo dia 15, são mais de 80 integrantes, também alunos dos módulos mais avançados das oficinas de tambor mineiro.

ACESSA.com: Existe todo um estudo por trás do trabalho apresentado pelo bloco. Quais representações culturais ele pretende reafirmar e dar continuidade?

LS: Desde seu início, o Ingoma dedicou-se, artisticamente, a conversar com os ritmos presentes nas raízes das Congadas e Moçambiques no interior de Minas Gerais, que, com suas homenagens a Nossa Senhora do Rosário e suas coroações dos Reis Congos, constituem símbolos de construção e de luta pela preservação da identidade de matriz africana no estado. No entanto, é importante salientar que o Ingoma é um grupo laico, de pesquisa artística e musical, que se inspira da tradição do Congado, com a mais profunda reverência, e mescla seus ritmos, toques, toadas e cantigas a composições autorais e músicas conhecidas do cancioneiro popular brasileiro. Se o Congado é uma tradição essencialmente religiosa, trazer suas canções para o centro de uma festa popular como o carnaval exige licença poética e, claro, muito respeito. Por isso, todo esse trabalho é feito com enorme profunda deferência a essa expressão tão própria da herança afro-mineira, vinda dos povos bantus, e àqueles que são seus herdeiros e detentores legítimos. Nossa motivação é artística, mas é também despertar o olhar da cidade para essa manifestação que é muito mineira, mas que estava muito ausente em Juiz de Fora. Queremos que seja cada vez mais forte o interesse por essa cultura.

ACESSA.com: Vários nomes de relevância na música já se apresentaram em Juiz de Fora com o grupo, quais foram e com qual objetivo trazem esses artistas para a cidade?

LS: O Ingoma já trouxe parta Juiz de Fora nomes importantes nacionalmente, como Maurício Tizumba,  o grupo Tambor Mineiro, os Meninos de Minas, Rita Benneditto, Fred Ferreira e Sérgio Pererê. O primeiro objetivo é propiciar para a cidade o contato com artistas que nos influenciam, que admiramos e que são representantes dessa cultura que pesquisamos e defendemos, ou de vieses semelhantes da cultura afro-brasileira. Além disso, na linha da ideia da formação de público, a gente acredita muito nas parcerias. Todos esses artistas não estão no mainstream das rádios, mas são muito reconhecidos no mercado independe. Então, nosso público passa a conhecer artistas que são importantes para nossa trajetória ao mesmo tempo que o público desses artistas passa a conhecer nosso trabalho. Sem falar que são artistas maravilhosos, com trabalho de muita qualidade, e que só abrilhantam a nossa festa. Isso vale também para os artistas locais, que têm se destacado na cidade, e com os quais também estabelecemos uma relação de proximidade. É o caso do RT Mallone, parceiro de vários shows, e da MC Xuxu, de cujo disco Senzala o grupo participou, assim como é também o caso do Encontro de MCs e do Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, que já foram convidados especiais do nosso cortejo e o tornaram ainda mais bonito.

ACESSA.com: Vocês também oferecem oficinas. Como funciona? Abrem todos os anos?

LS: As oficinas de tambor mineiro do Ingoma abrem novas turmas semestralmente (as próximas matrículas serão depois do carnaval) e são divididas em quatro módulos: no primeiro, há todo um trabalho de musicalização a partir do método d’O Passo (desenvolvido pelo músico Lucas Ciavatta, que também esteve na cidade a convite do grupo) e aprendizado dos cinco principais ritmos usados pelo Ingoma: Marcha Grave, Congo, Moçambique Serra Acima e Moçambique Serra Abaixo, que são ritmos típicos do Congado, e Ijexá, que é um ritmo afro-brasileiro bastante presente na música popular. Nos módulos 2 e 3, há um aprimoramento desses ritmos e aprendizado de variações dentro deles, com novos grooves e viradas mais complexas. E, por fim, há um grupo de estudos permanente para os alunos em nível mais avançado, com constante aperfeiçoamento. A partir de 14 anos, qualquer interessado pode se inscrever e não há necessidade de conhecimento musical prévio. As aulas acontecem uma vez por semana, às terças, quartas ou quintas à noite (a depender do módulo), e têm duração de 1h30. O valor da mensalidade, atualmente, é R$ 60.

ACESSA.com: Quais ações fazem para conseguir manter o Ingoma?

LS: O Ingoma é um grupo independente e tudo o que fazemos visa manter esse trabalho. Em termos financeiros, as oficinas de tambor mineiro são a principal fonte de recursos, além, é claro, dos  nossos shows. O Ingoma também tem investido no desenvolvimento de projetos de descentralização e num diálogo maior com periferias e escolas, a fim de fortalecer ainda mais essa cultura e conseguir levá-la a outros públicos.

ACESSA.com: Este ano qual será o enredo?

LS: Diferentemente de outros blocos, o Ingoma não tem um enredo. O cortejo é feito dessa mistura de cantigas tradicionais com música do cancioneiro popular brasileiro.

ACESSA.com: Vocês têm programação já definida para as próximas semanas?

LS: No dia 15 de fevereiro, a partir de 15h, estaremos concentrados no Parque Halfeld para nosso grande cortejo de carnaval, que vai descer o Calçadão, pegar a Avenida Getúlio Vargas e terminar num show incrível e gratuito na Praça Antônio Carlos, também com participações muito especiais.