Sutileza. Emo??o. Crática. "Philomena"

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Sutileza. Emo??o. Cr?tica. "Philomena"

Victor Bitarello 16/07/2014

Sutileza. Emoção. Crítica. "Philomena"

Será que deve-se ter coerência, a todo momento, quando está-se tomando decisões que podem mudar sua vida de maneira ampla e para sempre? Por que? E quando, na vida, nós precisamos decidir tanto, em tão pouco tempo, o que fazer? Sobre o que fazer, só cada um saberá no momento. Ou não saberá, mas fará, mesmo quando sua inércia cause consequências. Em um determinado momento da vida pode-se ser chamado a essas decisões, como no caso real da Sra. Philomena, cuja história foi contada no filme de mesmo nome.

A vida de uma mulher está prestes a alterar-se. Philomena, uma senhora já bem idosa, confessa à filha (sim, o verbo é bem adequado no que diz respeito ao contexto do filme) que, em sua adolescência, teve um filho, e que fazia 50 anos que não o via. A filha, ao conhecer um jornalista, sugere ao mesmo que escreva a história de sua mãe e seu passado triste durante o internato numa abadia sob os cuidados de freiras (com valores bastante questionáveis, diga-se). Na oportunidade, Philomena pede ao jornalista que a ajude a encontrar seu filho. Em suas pesquisas, ele acaba por descobrir que o menino foi para os Estados Unidos quando de sua adoção e, assim, eles viajam em busca da história desse garoto, no intuito de conhecê-lo, com todas as emoções e descobertas que essa viagem está apta a apresentar.

Não é a primeira vez que Judi Dench faz um filme como "Philomena". Digo isso por causa do fantástico "Notas sobre um escândalo", que tem a mesma sistemática, qual seja: você acredita que o foco do filme é um e, logo após, esse foco se "resolve", acontece algo como um "subfinal", e você percebe que a história é muito mais que aquilo. No caso de "Philomena" então, é um foco amplíssimo. Isto porque o filme não tem somente uma proposta de roteiro incrível (o roteiro é maravilhoso, não espanta a quantidade de prêmios que recebeu ou foi indicado). O filme trás uma enxurrada de propostas críticas. Muito se "cutucou" no longa, em especial as problemáticas que envolvem os dogmas da Igreja católica. Ele também fala sobre a ética jornalística, a hipocrisia política, a importância do diálogo. Caramba! Como o filme lida bem com a arte do diálogo! Este ponto é muito legal porque ele nos traz muitas questões a discutir, sem se aprofundar em nenhuma delas, porque sua proposta é justamente esta, ou seja, trazer tais questões à baila. Philomena tem sua forma de pensar e, mesmo que possa parecer a menos "pensável" pela maioria, ela coloca as coisas de maneira tão imponente, sem ser arrogante, que no mínimo nos faz refletir. E, assim, pensa-se: por que ela está errada? Por que Philomena não tem o direito de perdoar?

É um filme sutil. O amor de uma mãe que se preocupa a todo o momento com seu filho é muito tocante. É muito sutil. É muito bonito.

E outra coisa que ajuda demais o filme é essa atriz incrível que o lidera. Judi Dench é sempre impecável. Ela passa a emoção certa da personagem em cada momento de maneira magistral. Há uma cena no filme em que ela consegue mostrar o quanto aquilo é importante para uma mãe, só que sem nenhuma palavra. E isto não impede de ficar tudo muito entendido e emocionante. Foi um excelente trabalho de atuação somado a um trabalho de direção muito feliz. Juntando com o roteiro então, formou-se um filme digno de ser considerado perfeito. "Philomena" é um filme perfeito.

Assim como no filme, não cabe aqui, principalmente por questões de coerência com a proposta desta coluna, adentrar nos méritos das questões reflexivas trazidas pelo longa. São várias e todas muito interessantes. Vale muito a pena se juntar com quem eventualmente assista-o junto com você para conversar sobre elas. Esforce-se para fazê-lo como no filme. Esforce-se pelo diálogo. Permita-se dialogar com os personagens. Aceite suas humanidades. Ouça-os.


Victor Bitarello é bacharel em Direito pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), pós-graduado em Direito Penal e Processual Penal pela Universidade Candido Mendes (UCAM). Ator amador há 15 anos e estudioso de cinema e teatro. Servidor público do Estado de Minas Gerais, também já tendo atuado como professor de inglês por um período de 8 meses na Associação Cultural Brasil Estados Unidos - ACBEU, em Juiz de Fora. Pós graduando em Direito Processual Civil.