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A derrota de Cunha e a dissolução do "Novo Centrão"

Cláudio de Oliveira - Julho 2016
 

A eleição de Rodrigo Maia (DEM-RJ) para a presidência da Câmara dos Deputados com 285 votos foi uma derrota do ex-presidente da Casa, Eduardo Cunha. O candidato apoiado por ele e inicialmente apontado como favorito, Rogério Rosso (PSD-DF), obteve apenas 170 votos.

A candidatura de Rodrigo Maia foi articulada pelo bloco PSDB, DEM, PSB e PPS, antiga oposição à presidente Dilma Rousseff, e contou com o apoio de expressivos setores do PMDB. No segundo turno, o deputado fluminense obteve ainda o voto de parte do PT, do PDT, PCdoB, Rede, PR e outros.

A eleição de Rodrigo Maia se sobrepôs à disputa direita vs. esquerda ou à clivagem governo vs. oposição. Entre um liberal-democrata com alguma qualificação e um oportunista dos mais desqualificados, a primeira opção é sempre melhor. Creio ter sido esse o caráter principal da disputa.

Mas, a meu ver, o dado mais importante da vitória de Rodrigo Maia foi a derrota e provável dissolução do "Novo Centrão", esta apoiada discretamente pelo Planalto. O grupo, formado em 2015 e liderado pelo PP, PSD, PR, PTB e PRB e base de apoio a Cunha, chegou a reunir 217 deputados, então o maior bloco partidário da Câmara.

Além do pesado fisiologismo, o "Novo Centrão" se caracteriza pelo conservadorismo social e cultural, perigosamente próximo de áreas do fundamentalismo religioso que, se prosperar, pode se constituir em forte entrave ao avanço dos direitos civis no Brasil. Mesmo desarticuladas, tais correntes ainda detêm muita força política.

Os outros blocos parlamentares estão assim representados: a antiga oposição, formada por PSDB, DEM, PSB, PPS, PV e Rede, com 149 deputados; o PDMB, com 66 deputados; e a nova oposição, formada por PT, PDT, PCdoB e Psol, com 95 deputados.

O mandato-tampão de Rodrigo Maia vai até fevereiro de 2017, quando então serão realizadas novas eleições para a mesa diretora da Câmara. Um diálogo entre aqueles três últimos blocos é fundamental para isolar e derrotar as forças que constituíram o "Novo Centrão", representantes do que há de mais conservador e atrasado na política brasileira.

Uma reforma política democratizante, com a rediscussão da criação de uma cláusula de barreira de 3% e o fim das coligações proporcionais, poderia ser um ponto comum para o diálogo entre PMDB, PT, PDT, PSDB, PSB, PPS, Rede, entre outros.

Prefeitos e vereadores são importantes cabos eleitorais para a eleição de deputados federais e senadores. Por isso mesmo, o próximo pleito de outubro não está dissociado da necessidade de melhorar o sistema político brasileiro e exige grande responsabilidade das forças políticas democráticas e dos eleitores.

No site do PSB, o presidente do partido, Carlos Siqueira, recomenda "o contato direto com o eleitor". Um bom caminho.

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Cláudio de Oliveira, jornalista e cartunista.

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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