Servidores municipais adiam decisão de greve

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Servidores municipais adiam decisão de greveDivergências sobre a contraproposta da PJF impediram que a categoria deflagrasse a greve. Nova paralisação está marcada para quarta-feira

Guilherme Arêas
Repórter
29/04/2009

Após discussões e desentendimentos sobre a contraproposta oferecida pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) na manhã desta quarta-feira, dia 29 de abril, os servidores municipais adiaram a decisão de greve para a próxima semana. Em assembleia no Terreirão do Samba (terreno ao lado da PJF), os trabalhadores marcaram nova paralisação para a próxima quarta-feira, dia 6 de maio, às 9h, nas escadarias da Câmara Municipal. Na ocasião, os funcionários definem se aceitam a contraproposta ou se aderem à greve, já iniciada pelos professores da rede municipal nesta quarta.

As divergências entre os servidores surgiram após a PJF oferecer reajustes e abonos que contemplam apenas parte dos 16 mil servidores do órgão, principalmente os que estão em início de carreira e/ou possuem os salários mais baixos. Alguns trabalhadores se posicionaram favoráveis às contrapropostas da PJF, mas grande parte ainda se mostrou insatisfeita.

Pela proposta, o salário básico para os servidores municipais seria de R$ 565. O aumento representaria 21,5% de reajuste para os trabalhadores que recebem salário mínimo de R$ 465. Já os funcionários que ganham até R$ 700, receberiam um abono de R$ 70. Para vencimentos entre R$ 701 e R$ 769,99, o benefício seria proporcional até o salário chegar a R$ 770.

Propostas encaminhadas pela PJF
  • Abono salarial para todos os servidores da administração direta e indireta que possuem salário inferior ou igual ao mínimo vigente. Assim, nenhum servidor receberá menos do que R$ 565. O compromisso é estendido a todos os aposentados e pensionistas e representa reajuste de 21,5%;
  • Abono salarial de R$ 70 para os servidores que recebem até R$ 700. Os que ganham entre R$ 701 e R$ 769,99 receberão o complemento de forma a atingir o salário de R$ 770;
  • Ascensão de carreira para as categorias não contempladas atualmente, de acordo com a disponibilidade financeira do município. A primeira categoria beneficiada este ano será a dos motoristas. Para isso, a PJF propõe enviar um projeto de lei à Câmara Municipal até o dia 30 de junho;
  • As recreadoras terão salário equiparado ao das educadoras. Isso representa R$ 153,18 a mais, valor que será pago em três parcelas, uma a cada dois meses, sendo a primeira parcela no mês de maio;
  • Adicional de R$ 40 para os agentes comunitários do Programa Saúde da Família, com início do pagamento em junho de 2009;
  • Novo aporte ao plano de saúde dos servidores municipais;
  • Abertura de concurso público para algumas classes que têm contrato temporário, com prioridade para os agentes de endemia;
  • Compra de uniformes e EPIs (Equipamentos de Proteção Individual), de acordo com a disponibilidade orçamentária e financeira;
  • Busca de um terreno da PJF para abrigar a sede campestre do Sinserpu;
  • Manutenção do ponto dos servidores que aderiram à paralisação desta quarta;
  • Criação de uma comissão para acompanhar a situação financeira da Prefeitura, com o objetivo de avaliar a possibilidade de conceder benefícios durante o período, caso ocorra melhora do orçamento da PJF.
Adesão ao movimento

No fim do dia, a Prefeitura divulgou o balanço dos órgãos afetados pela paralisação dos servidores. Mais de 90% dos professores cruzaram os braços. Foi a categoria com maior adesão. No Demlurb, saíram apenas quatro caminhões: do lixo hospitalar, dos supermercados e dois para a região central. Na Secretaria de Obras, 90% dos funcionários faltaram. A adesão na Empav e na Agenda JF chegou a 80%.

Na área da saúde, as Regionais Leste e Norte, HPS, Pam Andradas e Núcleo de Redes Assistenciais tiveram funcionamento comprometido. Entre as UBS´s da área urbana, 11 funcionaram normalmente, 19 não funcionaram (correspondem às que não tinham médicos e/ou enfermeiros ou que não atenderam às ligações na parte da tarde) e 12 funcionaram parcialmente (quando alguns profissionais aderiram).

Funcionários da Cesama, fiscais da Secretaria de Atividades Urbanas e os 506 servidores que trabalham no prédio da Prefeitura (MRS) não aderiram à paralisação.

Recepção da contraproposta

Durante a assembleia que apresentou a posição da PJF em relação à campanha salarial dos servidores municipais, a alternância de discursos no palanque improvisado demonstrou que a contraproposta foi recebida com um misto de aplausos e vaias. O principal temor dos servidores recaiu sobre o termo "abono", que não poderia ser incorporado ao salário-base. A proposta do Sinserpu, de acordo com o presidente do órgão, Cosme Nogueira, é que os valores reajustados sejam permanentes.

Outra desconfiança para boa parte dos que se mostraram contrários à alternativa apresentada pelo Executivo se lançou sobre o fato de o secretário de Administração e Recursos Humanos, Vitor Valverde, ter realizado as negociações de forma individual com cada categoria. A atitude, segundo sindicalistas, teria o objetivo de enfraquecer o movimento grevista. "Povo dividido é povo facilmente dominado", argumentou o assistente de recursos comunitário da AMAC, Emílio de Sá.

A mesma opinião foi compartilhada pelo presidente da CUT Regional Zona da Mata, Péricles de Lima. Ele propôs que os abonos salariais apresentados sejam incorporados aos salários dos servidores para evitar que os benefícios sejam extintos futuramente. Ele também defendeu a greve geral da categoria, o que gerou desconforto e um bate-boca com o coletor de lixo Jairo Gérson, membro da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB). "A proposta da Prefeitura já foi um grande avanço. Todos vão ganhar", defendeu Jairo.

O presidente da Associação dos Motoristas da PJF, Wanderson dos Santos, também concorda com a suspensão do indicativo de greve. Para ele, os reajustes apresentados serão naturalmente repassados aos outros trabalhadores durante os anos, já que agora todas as classes possuem a ascensão de carreira. "Para quem não iria ganhar nada, temos que acreditar que há um avanço."

Os textos são revisados por Madalena Fernandes