Violência doméstica: especialista fala sobre mitos e verdades

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Viol?ncia dom?stica: especialista fala sobre mitos e verdades
Quarta-feira, 17 de setembro de 2014, atualizada às 11h52

Violência doméstica: especialista fala sobre mitos e verdades

Eduardo Maia
Repórter

Estimular as denúncias de casos de violência doméstica é um dos pontos que mais vêm sendo discutidos por especialistas da área. Casos de agressão psicológica, física ou de violência sexual podem ser detectados nas relações dentro da própria casa, seja no convívio com os pais e padrastos, seja com tios, padrinhos e avós.

Pesquisadora da Escola de Serviço Social da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rosana Morgado alerta para mitos e verdades nas informações compartilhadas sobre a violência doméstica. Segundo a especialista, um dos casos mais comuns é a "culpabilização" do menor pelas agressões, principalmente quando se refere ao estupro.

"Um dos mitos é dizer que a adolescente é que provocou a violência sexual. Isso é incorporar a desculpa utilizada pelo agressor. O vetor da violência é de uma adulto contra a criança ou adolescente. Quando se fala em violência doméstica, em termos nacionais e internacionais, leva-se em conta um perpetrador que é do sexo masculino. É uma questão de gênero e é uma discussão que se espera na sociedade", afirma.

Outro ponto importante citado pela pesquisadora é a atribuição da violência doméstica ao uso de entorpecentes ou alcoolismo. "O que se sabe de pesquisas nacionais e internacionais é que o uso de álcool e outras drogas é que sejam mais graves, mas há homens que não usam substâncias químicas e são violentos com suas parceiras. O uso abusivo do álcool é um agravante na força, agrava a dimensão da violência doméstica", reforça.

Para a especialista, o aumento do número de casos de violência registrados no país deve levar em conta o maior registro de denúncias nos últimos anos. Em Juiz de Fora, levantamento realizado pela Secretaria de Estado de Defesa Social (SEDS) aponta que, nos primeiros oito meses de 2014, foram registrados 65 casos de estupro.

"No Brasil, ainda temos que avançar na consolidação dos dados sobre a violência doméstica, seja contra o homem, seja contra a mulher. Atualmente temos um disque denúncia, mas ainda é muito pouco o que se tem construído em termos de dados. É necessário criar uma série histórica de dados em termos estaduais e nacionais. O que a gente pode dizer é que há um crescimento da notificação dos casos de violência doméstica contra a criança e o adolescente", reforça.

Rosana afirma que também é necessário fortalecer a rede de proteção, como professores e outros profissionais. "É preciso que os profissionais sejam qualificados para entender sinais. Na escola é fundamental, porque é onde as crianças estão todos os dias. Saber se há professores qualificados para perceber sinais de violência, portanto é importante esta rede de proteção no enfrentamento da violência sofrida pelas crianças", sugere.

A pesquisadora palestrou na manhã desta quarta-feira, 16 de setembro, na qualificação de Casas de Acolhimento em Juiz de Fora, realizada no anfiteatro do Banco do Brasil. O evento é uma promoção da AMAC e tem uma parceria com a Faculdade de Serviço Social da UFJF.