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As relações China–EUA e o Brasil

Cláudio de Oliveira - Outubro 2016
 

A partir de 2011, a China se tornou a segunda maior economia do mundo, abaixo apenas dos Estados Unidos. Mas, segundo o FMI, o PIB nominal per capita da China é inferior ao do Brasil, respectivamente US$ 7,99 e US$ 8,67, enquanto o dos EUA é de US$ 55. Apesar disso, o crescimento econômico da China é admirável, acima de 10% do PIB desde fins da década de 1970 até recentemente. Só nos anos 1990, o país conseguiu tirar mais de 100 milhões de chineses da miséria.

Evidentemente, tal constatação não nos leva a fechar os olhos ante os problemas da China, entre eles especialmente o regime político de ditadura de partido único, com o qual não concordamos. Como também os problemas decorrentes de regimes autoritários, como a corrupção, a falta de controle da sociedade e de transparência nas decisões de governo. Ou ainda, a acusação de exploração da mão de obra barata. Creio que a diplomacia brasileira deve debater as questões de direitos humanos nos fóruns internacionais adequados.

O ponto que pretendo ressaltar é o seguinte: como a China conseguiu emergir da condição de país pobre e miserável na primeira metade do século XX à de potência econômica no século XXI? Numa análise superficial, talvez a resposta esteja no fato de que o país tenha conseguido tirar proveito do processo de globalização da economia mundial.

As reformas econômicas empreendidas por Deng Xiao Ping, a partir de 1978, buscaram tanto o investimento e tecnologias externos quanto o mercado mundial para os produtos chineses. Com isso, a China ampliou o investimento privado estrangeiro no país, colocou a economia em movimento, acumulou capital, o que permitiu ao Estado chinês fazer pesados investimentos na infraestrutura econômica, criando assim um círculo virtuoso. O maior parceiro comercial da China nessa empreitada sempre foram os Estados Unidos, seguidos pela Europa, lugares de grande mercados consumidores e de capitais, muitos deles aplicados em investimento produtivo na economia chinesa.

Ainda na época de Mao Tse Tung, a China conseguiu sair da lógica da Guerra Fria e deixou de se alinhar à União Soviética, com a qual havia rompido desde a segunda metade dos anos 1950. O PC chinês nunca conviveu bem com a ideia de se subordinar à liderança do PC soviético. Assim, o líder da Revolução de 1949 iniciou um diálogo com os Estados Unidos após uma surpreendente visita do presidente Richard Nixon ao seu país, em 1972. A partir de então, a China saiu do isolamento, ampliou suas relações internacionais e começou a atrair o investimento e a tecnologia dos países desenvolvidos.

A ascensão da China como segunda maior potencia econômica do globo tem causado fricções no relacionamento com os Estados Unidos. Tentando contrabalançar a força econômica da China na Ãsia, os norte-americanos têm reforçado laços políticos, econômicos e militares com outros países daquela região, como a Ãndia, e lançaram recentemente a Parceria Transpacífico. A China respondeu com uma proposta de retomar a Rota da Seda, num aceno de livre comércio à União Europeia. Os interesses de grandes empresas norte-americanas estabelecidas na China servirão como contrapeso às tentativas de setores xenófobos nos Estados Unidos contra o dragão asiático. A China sabe que uma nova Guerra Fria não lhe interessa e seus governantes têm sido hábeis em negociações internacionais.

O impulso do crescimento chinês na década de 1990 abriu o chamado ciclo das commodities, elevou o preço de produtos primários, como petróleo, minério de ferro, soja e outros, e favoreceu países como o Brasil. A China tornou-se neste século o nosso maior parceiro comercial. Acredito que o Itamaraty deva ampliar e aperfeiçoar essa parceria, buscar a cooperação com os Brics (Brasil, Rússia, China e Ãfrica do Sul) e seguir o exemplo do grande país oriental: sem preconceitos ideológicos, ter os Estados Unidos e a União Europeia como importantes parceiros comerciais, colocar-se dentro das cadeias globais de produção e dos grandes fluxos comerciais, sem deixar de estreitar os laços com os países da América Latina, da Ãfrica, da Ãsia e do Oriente Médio.

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Cláudio de Oliveira é jornalista e cartunista

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Fonte: Especial para Gramsci e o Brasil.

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