Você já deve ter observado que existe uma distância muito grande entre a abordagem que os profissionais de saúde têm sobre a alimentação e a percepção da população sobre essas mesmas recomendações.
Sempre que, você procura serviço de saúde pode ser aquela mesma história. Você recebe uma chuva de orientações sobre alimentação e estilo de vida. Cortar um alimento, reduzir o outro, comer coisas que até então você nem sabia qual era o gosto. Você tenta durante um tempo e depois volta tudo como era antes e na consulta seguinte nada das suas taxas mudarem.
Isso ocorre tantas vezes ao longo da nossa vida, sendo extremamente comum alcançarmos os 60 anos e decidirmos que agora viveremos uma vida como bem entendemos. É assim que milhares de idosos todos os dias abandonam tratamentos de diversas doenças.
Aposto que você tem pelo menos um parente que descobriu, por exemplo, um diabetes e ignora o problema diariamente. Acertei? Pois saiba, que existem pelo menos 3 motivos para isso acontecer, que são:
1.Falta de motivação para mudar
Às vezes, temos antigos costumes que não temos vontade de mudar, isso acontece muito à medida que envelhecemos. A recomendação dada pelos profissionais pode não considerar fatores importantes na vida de uma pessoa, fazendo que ela não queira abdicar do comportamento, por acreditar que estará deixando de lado algo que ela gosta muito, como, por exemplo, ter que recusar um almoço em família por ter algo que não se pode comer.
Recusar um almoço familiar não é necessário para se ter uma alimentação saudável, uma vez que, comer bem, tem a ver com equilíbrio e não restrição, mas a superficialidade que determinadas recomendações são passadas e a falta de tempo em consultas para se abordar a relação do indivíduo com os alimentos, fazem com que muitos tenham uma ideia errada sobre o que é alimentação saudável.
Outro ponto a ser considerado, é que as relações sociais ganham um peso cada vez maior à medida que se envelhece e também merecem destaque nos impactos positivos que causam na vida de longevos. Portanto, se a nova alimentação proposta afetar a qualidade desses contatos sociais, a maioria das pessoas simplesmente vai ignorar as recomendações.
2.“Pedagogia do medo” não funciona
Um segundo ponto importante, é que a argumentação dos profissionais sobre o impacto de uma alimentação boa ou ruim ao longo dos anos, pode não ser fácil de visualizar para muitas pessoas. Afinal, nem todo mundo encara a velhice com positividade, fazendo com que seja comum ouvirmos frases como: “vou prevenir mais o que na minha idade?”
É mais fácil mudar comportamento quando conseguimos visualizar benefícios tangíveis, como melhora de sintomas e da disposição a curto prazo. A pedagogia do medo não funciona na aderência de comportamentos saudáveis na velhice, muito pelo contrário.
Vale lembrar, que a velhice traz inúmeras adversidades e novos fatos para se lidar, dentre eles, a ideia de finitude. Enquanto uma pessoa está aprendendo a se adaptar a uma nova fase da vida, pode ser muito pouco acolhedor lembrá-la sobre assuntos que ela ainda não se sente apta a lidar, fazendo com que ao invés de aderir o tratamento ela simplesmente ignore as recomendações.
3.Distanciamento entre profissional e paciente
Outro ponto é que a maneira de passar as orientações, muitas vezes, é realizada de forma hierárquica, ou seja, o profissional ocupa o local de detento do conhecimento, dificultando a compreensão do indivíduo sobre a própria condição.
Isso nos leva ao último ponto, que responde a seguinte questão: por que às vezes não seguimos recomendações médicas, mas ouvimos orientações do vizinho, dos nossos avós ou daquelas pessoas que você acompanhada pela internet a meses?
Isso ocorre porque o que nos faz seguir uma recomendação, muitas vezes, tem a ver com o parentesco e amizade e não com o grau de especialização de um profissional. A empatia e o acolhimento, ajuda na confiança que nós desenvolvemos com um profissional de saúde, fica mais fácil mudar o comportamento, porque sabemos que encontraremos compreensão com as dificuldades.
Esses fatores ficam cada vez mais relevantes ao longo da vida. Idosos não são teimosos, apenas estão imersos em uma sociedade que não compreende a complexidade do envelhecimento e as necessidades dessa população.
Mudar a alimentação é um processo de médio a longo prazo, que envolve a reorganização de um sistema de crenças e a busca por autonomia alimentar. Afinal, ninguém quer fazer dieta pelo resto da vida. Para iniciar mudanças, busque os seus motivos internos que farão você se manter motivado. Comece respondendo essas 3 perguntas:
1. O que você ganha se aderir determinado hábito?
2. Como você vai se sentir quando esses ganhos ocorrerem?
3. O que melhora no seu dia quando você executa esse hábito?
Assim, a alimentação na velhice é muito mais sobre cuidar, presentear e doar do que sobre quantificar e medir. Busque profissionais que entendam sobre a complexidade do envelhecimento e que poderão apoiar você durante todo o processo, acolhendo as suas dificuldades e te conduzindo para um estilo de vida mais saudável, dentro das suas limitações e sem neuroses.
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