Casamento contempor?neo
dispensa mudan?a do sobrenome

Tudo come?ou com uma fogueira de suti?s. Nas tr?s d?cadas que se seguiram ao levante feminista, as mulheres conquistaram direitos e espa?os em diferentes ?reas. Constru?ram uma hist?ria de luta e mostraram sua for?a. Sobre saltos ou chinelos, elas mostram mais uma faceta de sua emancipa??o: n?o querem mais adotar o sobrenome do marido.

Nos meios acad?micos, a influ?ncia da heran?a patriarcal - dominada por valores de posse e dotes - , foi praticamente abolida. Manter o nome de solteira depois de casada ? uma ineg?vel tend?ncia entre as mulheres de n?vel universit?rio. Enquanto cart?rios de bairros de classe m?dia continuam a alterar 90% dos nomes de fam?lia das noivas, escriv?es de regi?es nobres das capitais s?o cada vez mais poupados da mudan?a no registro matrimonial.

As regras do jogo mudaram. E com elas, o papel do homem. "Hoje, a mulher que casa quer um companheiro e n?o algu?m que apenas sustente os gastos caseiros", diz a psicanalista Gina Duarte. Co-autora est? diretamente relacionado ? auto-afirma??o. "Mais independente, a mulher moderna est? optando por manter o nome que a identificou durante toda sua vida". afirma.

A atitude quase sempre desagrada ao homem, por mais l?gica que essa op??o possa lhe parecer. Muitas vezes, a necessidade de se discutir o assunto ? subestimada pelo casal que acaba se dando conta do problema na ?ltima hora. Escriv?es como Fabiana Castilho, volta e meio presenciam desentendimentos entre noivos em pleno cart?rio, segundos antes da oficializa??o do matrim?nio.

Press?o social cria dilema para a noiva

Como todas as mulheres que se preparam para o casamento, a advogada Ana L?cia de Oliveira est? sobrecarregada de trabalho na organiza??o a cerim?nia. Para se poupar de dores de cabe?a com problemas de ?ltima hora, a noiva, tradicional - que n?o vai dispensar o v?u, a grinalda, a festa e a lua-de-mel na Europa - iniciou os preparativos do cas?rio com um ano de anteced?ncia. Apesar de tantas precau?es, a apenas um m?s do evento, Ana ainda n?o decidiu se adotar? o sobrenome do futuro marido.

A jovem, independente e de carreira promissora, sente-se dividida. "Por um lado ? muito mais pr?tico, mas, por outro, acho que meu noivo e nossas fam?lias n?o iriam compreender", angustia-se. Segundo a psic?loga Gina Duarte, o dilema de Ana com freq??ncia atinge mulheres que est?o para se casar. "Por mais segura que a mulher possa parecer, por resqu?cios da educa??o patriarcal, ela ainda depende muito do homem", diz Gina. A inseguran?a acaba provocando o medo de desapontar o companheiro com a negativa de adotar seu sobrenome.

A mulher que decide n?o seguir a tradi??o da fam?lia, mesmo que a respeito de um h?bito antiquado e descompassado com sua ?poca, inevitavelmente enfrenta resist?ncias. "Para superar o confronto, ela tem de se desprender de certos valores da educa??o conservadora que teve", explica Gina.

A press?o da sociedade tamb?m ? um fator que influencia na decis?o da noiva. "Quando disse que n?o pretendia mudar meu nome, s? ouvi exclama?es por parte das pessoas, inclusive das melhores amigas", conta Ana L?cia. Gina diz que se a mulher n?o estiver psicologicamente forte, esta situa??o, que pode parecer banal ? primeira vista, se torna dif?cil de lidar. Nesses casos, para evitar complica?es, a mulher acaba optando pela alternativa tradicional. "J? tenho coisas demais com que ocupar a cabe?a na organiza??o do casamento, n?o preciso de mais uma", desabafa Ana L?cia, que j? est? inclinada a seguir a tradi??o.

Texto: Karin Dauch
Fonte: http://www.estado.com.br/edicao/mulher/relac/nome.php