Fam?lia Como conciliar, sem culpa, filhos e trabalho


Raquel Chrispim
Colabora??o*
05/08/1999
A rotina do casal Alana Ad?is Tavares e Basileu Tavares ? de tirar o f?lego. Engenheiros, trabalham em m?dia dez horas por dia, fazem cursos de atualiza??o e cuidam da casa. O cotidiano do casal n?o passaria de mais um se n?o fossem os filhos, Rodrigo (12) e Eduarda (3). Assim como todas as crian?as, eles exigem aten??o, cuidados e muito carinho. Alana e Basileu juram, no entanto, ?tirar de letra? a responsabilidade de criar os dois filhos.

O hor?rio de levar as crian?as para a escola e a noite, quando chega do trabalho, s?o reservados por Alana para uma boa conversa e muita aten??o. ?Eu acredito que esse tempo que tenho com as crian?as ? muito importante para n?s, ent?o, eu tento aproveit?-lo da melhor forma poss?vel. Isso n?o quer dizer que fa?o todas as vontades delas, mas que me dedico completamente a elas?, explica. Do outro lado est? Rodrigo, que sabe a import?ncia do trabalho da m?e, mas confessa sentir sua falta, principalmente, nas horas em que fica em casa, durante ? tarde, sem ter com quem conversar.

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Receita Milagrosa
Segundo a psicopedagoga especializada em Psicologia do Desenvolvimento e Educa??o, Neila Almeida, a estimativa de mulheres que trabalham fora nos grandes centros do Brasil ? de 18 milh?es. N?mero que tende a aumentar nos pr?ximos anos.

Outro dado ? que a m?dia de n?mero de filhos por casal vem decaindo para dois. Esses n?meros comprovam que, a cada dia, milhares de crian?as precisam aprender mais cedo a conviver sem a presen?a dos pais. Mas, como tornar concili?vel a educa??o dos filhos com o trabalho sem prejudicar nenhum dos dois?

At? agora n?o existe uma resposta exata para essa pergunta, apenas conselhos de especialistas que acreditam que a conviv?ncia sincera e organiza??o do tempo pode ajudar na cria??o dos menores. Dar atividade extra aos filhos, sem exagero, ? uma boa op??o para se ver os frutos do trabalho investido e evitar a solid?o.

A estudante de pedagogia Andr?ia Gomes de Castro, m?e de Yuri (8), faz o curso de manh?, enquanto o menino fica sob os cuidados do pai, Nery Castro. ? tarde, ela trabalha em um centro de pesquisa, nesse hor?rio Yuri est? na escola. O ?nico tempo que tem para ficar com o filho ? a noite, quando precisa, ainda, cuidar da casa.

"Quando tenho um tempo s? meu e dele, eu tenho que me policiar para n?o fazer todas as suas vontades", confessa. Ela reconhece, por?m, que ?s vezes sente remorso por isso. "Dizem que todo filho ?nico ? mimado, mas o Yuri tornou-se uma crian?a super agrad?vel e independente". Segundo ela, o filho se esfor?a em manter as coisas arrumadas. "Isso contribui para que o dia-a-dia fique mais f?cil", conta Andr?ia.

"A educa??o perfeita n?o existe", confirma a psicopedagoga. Muitas vezes, observa, a culpa ? a maior ferida dos pais que deixam seus filhos aos cuidados de outros. No entanto, entre estar longe dos filhos e a responsabilidade com a conquista e a manuten??o do trabalho para cri?-los, os pais escolhem a segunda op??o.

Sabemos dividir muito bem, e quando estou com elas sou s? delas. Quando estou no trabalho penso s? naquilo que estou executando, acho que essa distin??o ajuda a ser uma boa m?e e uma boa profissional?, revela Alana. Ela lembra que, quando ganhou o segundo beb?, ficou em casa sete meses. "Eu j? estava ficando cansada, achava que n?o estava mais produzindo em casa e precisa trabalhar para voltar a ser uma boa m?e, uma boa dona de casa", desabafa.

Os Primeiros Planos
Preparada para ser m?e pela primeira vez, a soci?loga Magda Ferreira Machado, gr?vida de 8 meses, j? faz planos para conciliar a profiss?o com a educa??o do beb?. ?Vou ficar em casa dois meses e, depois, minha m?e, minha irm? e minha sogra v?o se revezar at? o beb? completar seis meses, quando vou coloc?-lo em uma creche perto da minha casa?, explica Magda.

Apesar de acreditar que o per?odo ideal para colocar uma crian?a na escola seja a partir dos dois anos, ela reconhece que a necessidade financeira mudou sua mentalidade. ?A necessidade financeira obriga que a crian?a v? para a creche mais cedo, mas n?o abro m?o dos seis meses para amamentar?, desabafa a soci?loga.

Segundo a psic?loga Neila Almeida, n?o h? idade ideal para se levar uma crian?a para a creche, pois cada uma delas t?m necessidades diferentes. Se a m?e optar, no entanto, por essa escolha, ela aconselha uma conviv?ncia maior com os filhos at? os dois anos. Durante esse tempo, observa, a crian?a ainda precisa de cuidados b?sicos.

Da rela??o direta fam?lia X trabalho surgiu um projeto na C?mara dos Deputados com o objetivo de aumentar o tempo de licen?a gestante, mas esse per?odo ainda n?o foi determinado. Atualmente, a licen?a ? de quatro meses.

Qualidade X Quantidade
Falar em qualidade de tempo ?, muitas vezes, o discurso que se tem pregado no intuito de compensar a quest?o da falta e da quantidade de horas passadas ao lado dos filhos. A psicopedagoga Neila Almeida acredita que os dois referenciais devem ser considerados.

A falta de dedica??o integral dos pais faz com que algumas crian?as tornem-se mais independentes e seguras. ?No entanto, ? importante ressaltar a ?independ?ncia qualitativa?, que acontece quando a crian?a tem consci?ncia de si, dos seus limites e desfruta com gozo da presen?a dos pais. Independ?ncia n?o ? indiferen?a?, opina Neila. Outras, mostram caracter?sticas de car?ncia, como indagar sobre a m?e a todo o momento, durante a sua aus?ncia.

*Raquel Chrispim ? studante do 6? per?odo
da faculdade de Comunica??o Social da UFJF


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