Juliano Nery 28/1/2011 Cadê?
- Cadê o dinheiro que estava aqui?
- Paguei o famoso IPTU, Imposto Predial e Territorial Urbano.
- E cadê o dinheiro do IPTU?
- Achei que tinha sido usado para pavimentar aquela rua...
- Então, cadê a pavimentação daquela rua?
- É mesmo. A pavimentação daquela rua mais afastada do centro nunca foi feita. Vai ver que a arrecadação foi usada para fazer uma praça!
- Cadê a praça?
- Não tem pracinha nova, que eu me lembre... O dinheiro deve ter sido usado para reformar alguma existente. Mas, elas andam tão mal cuidadas... Vai ver que estão pintando o prédio de alguma escola.
- E cadê a pintura da escola?
- Eu sei lá... Vai ver que a grana do IPTU foi usada pra contribuir com a iluminação pública!
- Cadê as ruas iluminadas?
- É, devo concordar... As ruas andam bem escuras por aqui. Já sei! A Prefeitura deve ter mandado verba para melhorar a coleta de lixo!
- Mas, cadê a coleta de lixo bem feita?
- A coleta de lixo anda mesmo bem precária. Sei não, vai ver que usaram a arrecadação do imposto para fazer benfeitorias em outros bairros.
- Cadê as benfeitorias em outros bairros?
- Não sei, não tenho visto nada no noticiário. Vai ver que a grana é investida no lazer da população...
- E cadê os eventos de lazer para a população?
- Estranho, mas também não consigo visualizar bem essas opções com o dinheiro do IPTU. E olha que esse ano não saiu barato o pagamento do imposto.
- Cadê o seu carnê?
- Paguei tudo à vista para ver se eu conseguia um bom desconto.
- Mas, cadê o troco?
- Mesmo assim, foi muito caro. O troco também ficou para o IPTU.
- Ué, então, cadê a função desse imposto tão caro?!
- É o que estou tentando descobrir até agora. E não achei uma explicação plausível para tanto dinheiro.
- Cadê a satisfação do contribuinte?
- Essa não passou nem perto de mim.
- Quer saber, desisti de brincar desse jeito! E não dá nem para fazer com o Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores, o IPVA. O resultado, provavelmente, vai ser o mesmo e a brincadeira não vai ter a menor graça.
- Que tal voltarmos a brincar da maneira tradicional, então?
- Cadê o toucinho que estava aqui?...
Parece brincadeira de criança, mas é uma versão bem próxima da realidade sobre o IPTU de muitos lugares no Brasil. Até de cidades nas quais moramos e conhecemos. Inclusive, em Juiz de Fora.
Juliano Nery adora brincadeiras, mas quando tem que enfiar a mão no bolso para pagar impostos exorbitantes, cobra seus direitos de cidadão com muita seriedade.
Juliano Nery é jornalista, professor universitário e escritor. Graduado em Comunicação Social e Mestre na linha de pesquisa Sujeitos Sociais, é orgulhoso por ser pai do Gabriel e costuma colocar amor em tudo o que faz.