Na noite do dia 30 de mar?o tivemos a alegria de ouvir mais uma vez a Tur?bio Santos, sem d?vida um dos maiores, se n?o o maior, dos int?rpretes de Villa-Lobos ao viol?o, aqui em Juiz de Fora. Sua presen?a solista ? sempre um desagravo ao cora??o e ao ouv?-lo se tem uma vontade grande de ser brasileiro, se n?o por raz?es pol?ticas, ao menos por raz?es musicais. O concerto para viol?o e orquestra executado nesta noite foi de uma redu??o para cordas muito bem feita da vers?o original. O original ? esplendido e a redu??o foi muito cuidadosa e n?o deixou nada a desejar. Teria ficado muito bonito se tivesse sido interpretada mesmo.
E por falar em interpreta??o, retomo o que j? tratei em muitos outros textos. Interpretar n?o ? tocar forte. No mesmo concerto com o Tur?bio Santos, a orquestra de C?mara do Pr?-M?sica resolveu incluir o concerto para obo? e violino de Bach, que j? apresentaram no ano passado. Depois de algum tempo imagina-se que estaria melhor, mas n?o ? isso que se ouve. Os solistas continuam maltratando a m?sica.
Interpretar ? ter algo novo a dizer com o que j? ? velho. J? ouvimos dezenas de vezes os concertos de Bach ou este de Villa-Lobos e o que me faz sair de casa e ir a uma sala de concerto em vez de me limitar ao CD ? a esperan?a de ouvir algo novo em uma pe?a que j? se conhece. Aqui est? o m?rito de um Tur?bio Santos, que mesmo tocando muitas vezes o mesmo concerto, o faz sempre de maneira nova, rica, descobridora, reveladora. N?o adianta tocar sempre igual ou pior a mesma pe?a. O int?rprete n?o ? um virtuoso, capaz de tocar muitas notas ou passagens dif?ceis. O int?rprete ? um m?sico que foi al?m das notas e da m?sica. Ele tem que ser erudito e acima de tudo ter algo a dizer.
Erudito porque quando executa uma pe?a est? dialogando com a tradi??o, com as outras interpreta?es, com as intertextualidades da obra. Enfim, tem que ir al?m da t?cnica. Quem n?o sabe o que significou sociologicamente, culturalmente ou mesmo politicamente um nacionalismo musical n?o pode se aventurar a tocar Villa-Lobos, ou Zoltan Kodaly. Quem n?o tem a menor id?ia do que seja a filosofia de Nietzsche, do conceito de apolineo e dionis?aco, n?o consegue chegar dignamente perto da m?sica de Wagner. Formar executantes ? muito f?cil, formar virtuoses ? trabalhoso, mas formar int?rpretes n?o tem receita.
O "ter algo a dizer" nascer? naturalmente desta erudi??o, desta conviv?ncia com a m?sica e com as humanidades. O int?rprete quando conhece uma obra, um compositor, um estilo, ele passa a ser uma voz no grande di?logo universal que ? a m?sica. Ele passa a ser ouvido em v?rias partes e a fazer parte da tradi??o. E ? sempre bom lembrar, fazer parte da tradi??o n?o ? apenas repeti-la, mas recri?-la, renov?-la, reinvent?-la.
Tur?bio Santos nos deu tradi??o e interpreta??o. A orquestra continua nos devendo um Bach mais digno (e eu nem vou falar nada do concerto de P?scoa!!!!).
Bons concertos.
Jo?o Sebasti?o Ribeiro
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