"Quem" ? a cidade de Juiz de Fora hoje?

Qual ? a cara desta cidade, que completou, em 2000, 150 anos de funda??o? Qual a identidade de Juiz de Fora? Como os juizforanos se definem? O que se espera desta cidade no s?culo XXI? ? certo que n?o h? uma resposta ?nica para estas perguntas. Por isso o JFService convida voc?, internauta interessado em Juiz de Fora, a responder ? enquete que est? no quadro abaixo. Suas impress?es sobre esta cidade da Zona da Mata mineira podem tamb?m estar em destaque no JFService. Basta que voc? as escreva em uma mensagem de e-mail para jornalismo@jfservice.com.br.

1:
  Uma cidade que ira prosperar no século XXI
  Uma cidade com um passado glorioso, mas que parou no tempo

2:
  Uma cidade onde moram pessoas talentosas
  Uma cidade de pessoas que pensam pequeno

3:
  Uma cidade de pessoas com grandes idéias e com muita iniciativa, que realizam seus projetos
  Uma cidade de pessoas com grandes idéias, mas que não concretizam seus projetos



4:
  Uma cidade de efervescência cultural e educacional
  Uma cidade pobre em cultura e educação

5:
  Uma cidade, predominantemente, de juizforanos
  Uma cidade, predominantemente, de passagem de estudantes e trabalhadores vindos de outros lugares

6:
  Uma cidade com uma identidade definida
  Uma cidade que perdeu sua identidade

   

ATENÇÃO: o resultado desta enquete não tem valor de amostragem científica e se refere apenas a um grupo de visitantes do JF Service.


Identidade cultural local

Luciana Mendon?a
01/12/2000

Na tentativa de investigar quem ? Juiz de Fora hoje, o JFService conversou com o professor da UFJF, Gilvan Proc?pio Ribeiro, que est?, neste segundo semestre de 2000, ministrando um curso de seis meses, no Centro de A??o Cultural, sobre "Identidade Cultural". Durante a entrevista, o professor falou sobre o que est? sendo discutido no curso, sobre a identidade do brasileiro e a do juizforano e apontou solu?es a serem realizadas no novo s?culo, que se inicia em janeiro pr?ximo.

  • JFService: O que vem sendo discutido no curso do Centro de A??o Cultural de Juiz de Fora, sobre identidade cultural?
    Gilvan Proc?pio: A id?ia de identidade n?o ? alguma coisa que exista em bloco, que a pessoa j? nas?a com ela, mas alguma coisa que se constitui cotidianamente. E essa identidade ? sempre constitu?da a partir de alguns pressupostos, que s?o pressupostos de valores, determinados valores comunit?rios que se vai preservar e alguns princ?pios que se estendem desde uma gestual?stica espec?fica, uma determinada forma de gesticular, at? determinados procedimentos ling??sticos e de conviv?ncia no cotidiano: a alimenta??o, o vestu?rio, uma por??o de coisas que identificam determinados grupos. Hoje, a partir da d?cada de 1960, cada vez mais os grupos minorit?rios, ?tnicos, de g?nero, grupos os mais variados poss?veis, v?m requisitando uma caracteriza??o da sua identidade espec?fica. Ent?o se coloca, a partir da d?cada de 1960, um discurso feminista, na busca de uma identidade feminina, o discurso homossexual, o discurso de ra?a, do negro, do ?ndio. Ent?o, voc? vai tendo a pr?pria id?ia de na??o dilu?da, de uma certa forma, na medida em que estes grupos buscam afirmar seu espa?o identit?rio. Ent?o, ? essa a id?ia do curso, o que a gente est? discutindo.

  • JFService: Como essa discuss?o sobre identidade cultural se realiza na cidade de Juiz de Fora?
    Gilvan Proc?pio: Eu trouxe essa discuss?o para uma realidade concreta, que ? Juiz de Fora, para ver como ? que o juizforano se enxerga. A gente tem uma caracteriza??o contratante com rela??o ao povo de Belo Horizonte, que meche com a gente, dizendo que n?o falamos Juiz de Fora e sim "Xix de Fora". Seria um certo contraste ling??stico com rela??o a isso. Chamam a gente de "carioca do brejo", pela proximidade com o Rio de Janeiro. Ent?o, existe uma identidade juizforana? A cidade passou por um processo de transforma??o, principalmente nos ?ltimos 40 anos - um processo que a desfigurou, do ponto de vista arquitet?nico e urban?stico - mudou a fei??o dela, a partir da d?cada de 1960. Eu me mudei para Juiz de Fora em 1960. At? 1965, Juiz de Fora tinha bonde, era uma cidade meio buc?lica. De l? para c?, ela entrou em um crescimento desenfreado, uma destrui??o em massa das constru?es tradicionais que existiam na cidade, que lhe davam uma certa fei??o muito caracter?stica. Arquitetonicamente, Juiz de Fora quase desapareceu. Por outro lado, Juiz de Fora ? uma cidade de passagem, n?o ?? Como ? uma cidade, essencialmente, de vida estudantil, voc? tem um imenso aglomerado de pessoas que passam por Juiz de Fora.

  • JFService: Se h? um grande n?mero de pessoas que n?o s?o daqui, que est?o de passagem, ent?o, quem ? Juiz de Fora?
    Gilvan Proc?pio: Este ? o problema. ? grande o n?mero de pessoas que se fixaram aqui, mas que n?o s?o daqui. Os rostos mudam com grande rapidez. Voc? n?o tem o estabelecimento de um certo sentido comunit?rio, de liga?es afetivas que sobrevivam aqui. As rela?es s?o todas muitos transit?rias.

  • JFService: Em 2000, aconteceram diversos debates sobre a hist?ria de Juiz de Fora, em fun??o das comemora?es dos 150 anos da cidade. Como o professor interpreta a origem do munic?pio?
    Gilvan Proc?pio: Na origem, Juiz de Fora era um caminho. A voca??o hist?rica da cidade ? a de servir de passagem. A cidade se constituiu de uma forma muito aleat?ria. Inclusive, se voc? observar o tra?ado do centro de Juiz de Fora, se v? uma liga??o muito grande com a ma?onaria, uma certa triangula??o com as ruas Get?lio Vargas, a Rio Branco e a Esp?rito Santo. Ali dentro est?o as outras ruelas. A organiza??o da cidade se deu por causa dos tropeiros que vinham pra c?. At? que, depois, veio o tal Juiz de Fora. A popula??o come?ou a aumentar, come?ou a haver uma s?rie de demandas, de conflitos, de quest?es de terra e outras coisas, e vem o Juiz de Fora para morar aqui. Quer dizer, at? o juiz era de fora.

  • JFService: O que mais marca a cidade de Juiz de Fora hoje?
    Gilvan Proc?pio: A marca da cidade est? na cultura. Juiz de Fora tem uma produ??o cultural altamente significativa. A produ??o de m?sica, por exemplo, ? muito boa. A de poesia ? altamente sofisticada. O teatro ? de peso. Os espa?os culturais de Juiz de Fora tornam a cidade privilegiad?ssima. Isso d? ? cidade esse perfil: aqui se respira cultura. O interessante da cidade ? que ela n?o ? s? um espa?o arquitet?nico. A cidade ? um espa?o imagin?rio. Voc? tem uma identidade e tem que construir um imagin?rio comum, uma fabula??o comum. Essa mem?ria local tem que ser mantida. ? essa mem?ria que alimenta o imagin?rio.

  • JFService: O que acontece quando h? crise de identidade, quando esse imagin?rio vai sumindo, a mem?ria vai sumindo?
    Gilvan Proc?pio: Voc? vai desenvolvendo, cada vez mais, um senso, que ? um senso moderno, de que voc? n?o pertence a lugar nenhum, que voc? est? solto dentro do espa?o. Isso pode implicar, no limite, na pessoa, em uma desagrega??o mental enorme. O que grande parte das pessoas v?o procurar nos analistas, hoje? Uma seguran?a que a sua realidade n?o lhe d? mais. Os v?nculos se tornam bambos. N?o h? identifica?es. Talvez, o v?nculo mais forte ainda seja o da fam?lia. Mas, assim mesmo, no espa?o urbano, a fam?lia tende a se estilha?ar, cada vez mais. Ent?o, o indiv?duo se v? absolutamente isolado. Se voc? n?o pertence a coisa alguma, quem ? voc?? Do ponto de vista psicol?gico e social, ? altamente complicado. As pessoas v?o ficando muito desagregadas. Voc? n?o tem coisas que se mant?m ao longo do tempo.

  • JFService: Qual seria a sa?da para conter essa crise de identidade?
    Gilvan Proc?pio: A sa?da vem de baixo pra cima. Isso s? pode ser constru?do na medida em que voc? permite que uma parte significativa da popula??o seja inclu?da no universo da cidadania. Do ponto de vista geral, n?s n?o nos sentimos brasileiros. O governo ? sempre o inimigo, ? sempre o outro lado. Temos que passar por um processo de ampla transforma??o social, que come?a de baixo pra cima. Nesse sentido, algumas organiza?es n?o governamentais t?m hoje um papel muito significativo. Acho que a escola tamb?m pode dar uma contribui??o muito significativa para isso. Mas tem que ser outra escola. A gente tem que construir isso.

Gilvan Proc?pio Ribeiro
? formado em Letras, especialista em Literatura Brasileira e mestrando em Teoria Liter?ria (conclus?o prevista para 12 de dezembro de 2000). Em Juiz de Fora, al?m de professor na UFJF, onde est? desde 1973, ? diretor do Conselho Diretor do Theatro Central e Editor Geral da Editora da UFJF. J? foi tamb?m membro do Conselho Diretor do Espa?o Mascarenhas, diretor do F?rum da Cultura e do Centro de Estudos Murilo Mendes.

O Centro de A??o Cultural
Organiza??o aut?noma de professoras, ex-professoras e donas de casa que se re?nem para discutir temas pol?ticos, sociais e filos?ficos, com objetivo de promover uma reciclagem de conhecimentos gerais. Hoje, 110 mulheres integram o grupo. Criado em 1978, o Centro de A??o Cultural discutia, inicialmente, assuntos que eram pouco divulgados em fun??o do momento pol?tico em que o pa?s se encontrava: uma ditadura militar e a censura dos meios de comunica??o. Atualmente, as integrantes se re?nem ?s segundas-feiras, ? tarde, em um espa?o do Centro de Estudos Murilo Mendes. A coordenadora deste per?odo ? Linda Velloso.


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