Acenda a fogueira: ? noite de Festa Junina

M?s de junho: ?poca de dan?ar quadrilha e pular fogueira. As festas juninas espalham-se por todos os cantos de Juiz de Fora. Nos dias 12 e 13 de junho, muitos fazem promessas para o santo casamenteiro, Santo Ant?nio, e para S?o Jo?o, o santo das adivinha?es.

Muitos dados curiosos cercam este m?s. Uma colabora??o especial do Prof. Ant?nio Henrique Weitzel, ex diretor do Museu do Folclore da UFJF, traz para o JF Service informa?es sobre as festas juninas e os santos deste m?s.

Festas Juninas - por Prof. Ant?nio H. Weitzel:





Festas Juninas


Texto do Prof. Ant?nio Henrique Weitzel

Origem e divis?o das festas

As festas tiveram uma origem comum e uma forma de culto externo tributado a uma divindade, realizado em determinados tempos e locais, desde a arqueociviliza??o. Receberam, por?m, roupagens novas, ap?s o advento do cristianismo. Portugal antigo nos passou tr?s festas fundamentais: Natal, P?scoa e S?o Jo?o; a primeira e a ?ltima fixas; a segunda, m?vel.

A divis?o das festas populares no Brasil ? a seguinte:
a) Festa de inverno (mais rurais): festas juninas, festas do Divino.
b) Festas de ver?o (mais urbanas): festas natalinas (Natal e Reis), Carnaval.
Obs: Hoje em dia surgem novas festas: as de produ??o, como da uva, da ma??, do milho, da rosa, do pinh?o, etc.


Hist?rico das Festas Juninas

  • Antiguidade:
  • O m?s de junho marca, na Europa, o in?cio do ver?o, de car?ter festivo, quando as popula?es festejavam as colheitas e faziam os sacrif?cios para afastar os dem?nios da esterilidade, pestes dos cereais, estiagens, etc.

  • Culto do Fogo:
  • A tradi??o das fogueiras acesas nos altos dos montes e nas plan?cies era conhecida de toda a Europa, as dan?as ao redor do fogo, os saltos sobre as chamas, a coloca??o nas fogueiras das prim?cias das colheiras e at? mesmo de animais vivos (o gato, encarna??o do dem?nio). O fogo, representa??o do sol, ilumina, aquece, purifica, assa e coze os alimentos, prepara vestes e armas, enfim, d? seguran?a e conforto. Da? as supersti?es: faz mal brincar com fogo, urinar no fogo, cuspir no fogo, arrumar fogueira com os p?s, e outras mais.

  • M?s de junho:
  • Tr?s grandes comemora?es crist?s deste m?s: Santo Ant?nio (13/06), S?o Jo?o (24/06) e S?o Pedro (29/06) marcam exatamente os dias que antecedem e seguem a data (21/06) dessas esta?es extremas: inverno no Brasil e ver?o na Europa. Os portugueses trouxeram para o Brasil este festejos, que tiveram a mais ampla aceita??o desde os primitivos ind?genas. Dos tr?s santos, certamente S?o Jo?o ? o mais comemorado, tanto que se chega a chamar as festas joaninas os festejos realizados no m?s de junho.


Santo Ant?nio: O Taumaturgo, o Milagreiro.

Nasceu em Lisboa, em 15.08.1195 e morreu em Lisboa, em 13.06.1231. Devo??o muito espalhada, mas festas populares quase desaparecidas. Prest?gio mantido como santo casamenteiro e das coisas perdidas.
H? uma s?rie de supersti?es com a imagem do santo, para conseguir as gra?as solicitadas: pendur?-la de cabe?a para baixo, deix?-la no sereno, retirar-lhe o Menino Jesus dos bra?os, amarr?-la pelo pesco?o e jog?-la no fundo do po?o, etc. Tudo isso at? que se consiga a gra?a pedida.


S?o Jo?o: o precursor
Nascido em 24 de junho e falecido em 29.08.0031, na Palestina.

Complexos culturais:

  • Fogueira: prefer?ncia por madeiras resistentes, que produzem boas brasas. Proibidos: o cedro (madeira da cruz de Cristo), a emba?ba (onde se escondeu Nossa Senhora na fuga para o Egito) e a videira ( d? o fruto que produz o vinho, usado nas missas para a transforma??o no sangue de Cristo). ? acesa pelo festeiro. Festa braseiro, ? atravessada de p?s descal?os (quem tem f?, n?o queima o p?). Nela assam-se batatas, mandioca, milho, inhame, pinh?o; torram-se amendoins. Ao seu redor realizam-se brincadeiras de roda e dan?as folcl?ricas: cana-verde, batuque, ciranda, quadrilha (a mais famosa).
  • Mastro: Enfeitado e trazendo dependurados frutos da terra: frutas, espiga de milho, flores, etc.
  • Lavagem do santo: ? meia-noite, num c?rrego. Magia da ?gua.
  • Reza: Ao entardecer da v?spera de S?o Jo?o, antes de se acender a fogueira. Rezas, ladainhas, cantos, beijamento das fitas do altar.
  • Fogos e bal?es: Fogos de artif?cio - rito pirot?cnico, bombas para espantar o dem?nio. Bal?o sobe para acordar S?o Jo?o, levando-lhe recados e pedidos. Se desde, ? malhado com paus e pedras.

  • Casamento: Os noivos, os padrinhos, o padre, o delegado, o juiz, o escriv?o e os convidados. Cunho humor?stico. Depois v?m as dan?as, principalmente a quadrilha, de origem francesa (marca??o em franc?s macarr?nico).

  • Quadrilha: ? a dan?a caracter?stica das festas de S?o Jo?o, de origem francesa e marcada alternadamente em franc?s e portugu?s, mas um franc?s estropiado (balanc?, anavam, anarrier, otrefo?, vira vort?, chang? de dame, grande roda, l? vem chuva, coroa de rosas, coroa de espinhos, etc.).

  • Sortes: S?o adivinha?es rituais, para elucidar os interessados sobre o seu futuro, especialmente o relacionado a noivado e casamento. Por exemplo: a) o primeiro pobre a quem se der uma esmola na manh? de S?o Jo?o, o nome dele ser? o nome do noito; b) enfiar uma faca virgem (que nunca foi usada) no tronco da bananeira, na noite de S?o Jo?o. No dia seguinte, aparecer? nela a inicial do nome do noivo; c) enrolar papeizinhos com os nomes dos namorados e colocar numa vasilha com ?gua. O nome do futuro esposo aparecer? no papelzinho desenrolado; d) quebrar um ovo e jogar a clara numa vasilha com ?gua. No dia seguinte, aparecer? uma figura: se for navio, indica viagem; se for igreja, casamento; se for caix?o, ? morte na certa. E muitas outras sortes mais.


S?o Pedro: o ap?stolo

Na cren?a popular, ? o chaveiro do c?u, o manda-chuva. Com sua festa se encerra o ciclo junino. Entrou mais para o anedot?rio popular; pouca presen?a na l?rica popular: menor que Santo Ant?nio e bem menos que S?o Jo?o. Protetor das vi?vas. ? santo sagrado para os pescadores, que lhe fazem bel?ssimas prociss?es fluviais e mar?timas, no dia de sua festa, a 29 de junho. A Igreja comemora nesta data S?o Pedro e S?o Paulo Ap?stolo. Mas o povo desconhece o segundo santo. S? cultua S?o Pedro.


Bibliografia:

LIMA, Rossini Tavares de. Folclore das Festas C?clicas. S?o Paulo: Irm?os Vitale, 1971.

LIMA, Rossini Taveres de & ANDRADE, Julieta de. Escola de Folclore, Brasil. S?o Paulo: Editorial Livramento, 1979.

LIRA, Mariza. Migalhas folckl?ricas. Rio: Laemmert, 1951.

MARTINS, Saul. Folclore: Teoria e M?todo. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1986.

MANTINS, Saul. Folclore em Minas Gerais. Belo Horizonte: UFMG, 1991.

MORAES FILHO, Mello. Festas e tradi?es populares do Brasil. Belo Horizonte: Itatiaia. S?o Paulo: Edit. da USP, 1979.