Medalha Nelson Silva vai homenagear dez personalidades de Juiz de Fora
Nesta quinta-feira, 28 de novembro, a Câmara de Juiz de Fora entrega a Medalha Nelson Silva, em comemoração à conscientização e representatividade negra no Brasil. A sessão solene de outorga ocorre no Plenário do Legislativo, às 19h30, e será transmitida pela JFTV Câmara, canal 35 aberto.
O cantor e compositor Nelson Silva nasceu no dia 22 de janeiro de 1928. Mineiro de Juiz de Fora foi contador, tipógrafo e um dos maiores compositores da história do município e do país.
Sambas, boleros, rumbas, mambos, valsas, toadas, batuques e até hinos religiosos fazem parte de seu acervo musical. Atento à situação do negro no Brasil, retratou a dura realidade enfrentada pela raça, através de cantos e lamentos, usando uma forma de linguagem típica do escravo. Nelson Silva faleceu, por insuficiência cardíaca, em 10 de outubro de 1969, deixando aos integrantes do batuque a sua herança de lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. O grupo até hoje cumpre à risca a trajetória de seus fundadores, honrando o legado deixado pelo artista.
A escolha dos agraciados com a Medalha é feita por uma comissão de Mérito composta pelo Batuque Afro-Brasileiro de Nelson Silva, Secretaria Municipal de Educação, Fundação Cultural, Alfredo Ferreira Lage, Universidade Federal de Juiz de Fora, Câmara Municipal de Juiz de Fora, Conselho Municipal para a Promoção da Igualdade Racial e Instituto Histórico e Geográfico de Juiz de Fora.
Homenageados 2019
Adelino da Silva Benedito
Filho de uma lavadeira e de um pedreiro premiado como compositor de samba, Adelino foi criado em Santa Cecília. Desde jovem, transforma arte em ativismo social com projetos culturais para jovens da periferia. Um exemplo é a peça “Teófilo, um sonho de liberdade”, retrato da valorização da negritude e encenada, inclusive, em penitenciárias da região. Se pelos projetos culturais Adelino mostra para a sociedade a riqueza da cultura da periferia, é na sua carreira em ascensão que quer ser exemplo de representatividade para jovens negros: atua, dirige e escreve as próprias peças, além de atuar na série Carcereiros da Rede Globo. No currículo há também as peças Quebra Nozes e Dom Quixote, com Ana Botafogo.
Escola Municipal Santa Cândida
São 500 estudantes matriculados, com 90% de aprovação e índice zero de violência na escola. Há cinco anos a equipe pedagógica desenvolve projetos para crianças com maior vulnerabilidade social e dificuldades de aprendizagem permaneçam por sete horas na escola. O colégio conta com aulas de xadrez, informática, música, teatro, ecologia, práticas artísticas e laboratórios de reforço de matemática e português, além da oficina de produção de histórias em quadrinhos e jardim sensorial. Os estudantes estão acima da média nacional de leitura, que é de cinco livros por ano, lendo entre oito e dez exemplares nas atividades de leitura. A escola já recebeu diversos prêmios por suas práticas, o mais recente sobre a preservação da água.
Fernando Luiz Baldioti
Jornalista premiado, publicitário e radialista, Fernando se orgulha de ouvir ainda hoje pelas ruas de Juiz de Fora a sua famosa vinheta: "Fernando Luiz... O repórter feliz...Uau". Ele também atuou como repórter em jornais impressos e emissoras de TV. Fernando fez coberturas nas áreas de esporte, política e cultura. O amante do samba é carnavalesco e já foi presidente da escola de samba Real Grandeza. Durante 15 anos, foi locutor do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Também foi secretário da Liga de Futebol de Juiz de Fora, secretário da Defesa Civil, assessor de comunicação da Secretaria de Atividades Urbanas e mestre de cerimônias da Prefeitura de Juiz de Fora, além de ter servido ao Exército.
Francisca da Silva
Prestes a completar 102 anos, Francisca carrega no nascimento a marca da escravidão. Filha de ex-escravizados em Minas e libertos pela Lei Áurea, a lavadeira e passadeira reencontrou a valorização de suas raízes nos sambas e encontros promovidos por Nelson Silva. Mesmo centenária ainda frequenta as rodas do Batuque Afro Brasileiro, no centro. Mãe de nove filhos, 27 netos, 49 bisnetos e oito tataranetos, a mulher analfabeta fez do trabalho o caminho para criar e educar os filhos, orgulhosamente alfabetizados. O orgulho das origens africanas é uma dos motivos de sua paixão pelo samba e pela música lamento “Escravidão e Liberdade”.
Giovana Bellini
Nascida em Juiz de Fora Giovana é graduada em Publicidade e Propaganda e se especializou em cinema e em gestão de projetos e programas sociais. Com mais de dez anos de experiência, atuou na produção de televisão e cinema de 2005 até 2013. Há seis anos, trabalha na Fundação Cultural Alfredo Ferreira Lage (Funalfa). Atualmente, Giovana é gerente do Departamento de Acesso à Cultura da Funalfa, onde se dedica a fazer a ponte entre a classe artística de Juiz de Fora e a Fundação. Além de viabilizar eventos culturais e supervisionar projetos, ela atua na realização de trabalhos sociais. Uma das coisas que Giovana busca em seu trabalho é possibilitar que outras pessoas tenham seu lugar de fala respeitado.
Instituto Cultura do Samba
Há 16 anos em atuação, o Instituto é considerado um dos responsáveis pela preservação das tradições carnavalescas de Juiz de Fora, promovendo e divulgando o samba em suas diversas manifestações. A entidade organiza oficinas de mestre-sala e porta-bandeira que atende desde crianças até a terceira idade. As aulas são gratuitas, com parte teórica e prática, além de palestras, seminários e viagens com os alunos a outros municípios, em busca de trocas de experiência. Todos os anos o Instituto entrega um troféu em homenagem a personalidades do samba e amigos, como forma de agradecer a divulgação dos trabalhos desenvolvidos. Juiz de Fora foi a primeira cidade a comemorar o Dia da Porta-Bandeira, homenagem a Nancy de Carvalho.
Padre Carlos Augusto Alves dos Santos
Na Vila Olavo Costa, o padre conhecido como “Povo de Deus” desenvolve projetos de coletas de material reciclável há alguns anos. A ideia surgiu quando crianças da comunidade estavam para celebrar a Primeira Eucaristia e as famílias não tinham como arcar com as despesas da cerimônia, como velas e camisas. Reunindo educação para a sustentabilidade e uma forma de gerar renda, o padre observou a quantidade de material reciclável disponível, que poderia ser vendido e revertido em renda para as famílias, e ampliou as atividades do projeto. Em um segundo momento, a paróquia abriu as portas para que jovens em situação de vulnerabilidade pudessem vender o material coletado e retirar o sustento de suas famílias.
Valmir Costa
Nascido no Rio de Janeiro, Valmir Costa mudou-se para Juiz de Fora aos 13 anos. Hoje, com 49 anos, ele esbanja talento na fabricação de cofres, porta-lápis, porta-jóias e luminárias. Foi o “Centro de Convivência Recrear” que, de acordo com Valmir, o ajudou a encontrar a paz. O Centro oferece atividades educativas e de geração de renda para pacientes com distúrbios mentais. Diagnosticado com epilepsia e com transporto bipolar, Valmir passou por diversos hospitais psiquiátricos de Juiz de Fora e participa há quase 10 anos das oficinas no Centro de Convivência. Lá, atua como locutor da Rádio Piraí, abrindo os programas com a mensagem “não desperdice a sua loucura”. Valmir sonha em estudar jornalismo.
Victor Alexandre Pereira (RT Mallone)
Estudando música há 16 anos, aos 24 de idade o rapper lançou um álbum com sete músicas autorais que já está disponível nos principais tocadores e foi indicado como um dos melhores do ano no segmento. O álbum leva como título a expressão que inspirou as iniciais do nome artístico, “Roho Tahir”, que significa alma pura. Nascido no bairro São Benedito, onde trabalhou de balconista em padaria e auxiliar de pedreiro, o rapper começou participando do coral do projeto Curumim e hoje tem a música como única profissão, com uma média de seis shows por mês, entre Minas, Rio e São Paulo. O músico desenvolve projetos com hip hop nas escolas e já participou de palestras em centros socioeducativos para menores infratores.
Zélia Maria da Costa Ludwig
“Sou mulher, negra e cientista”. Única professora negra na Faculdade de Física da UFJF, Zélia é reconhecida internacionalmente por trabalhos de Ciência dos Materiais. A escassez de mulheres nos espaços da ciência, principalmente as negras, motiva a cientista a empoderar estudantes para ocuparem tais espaços. Por meio de ações, como oficinas e palestras em universidade e escolas, Zélia leva o incentivo para que mulheres tenham confiança em si próprias, curiosidades e invistam na carreira de cientista. Outro trabalho da professora é o resgate da ancestralidade e do protagonismo do continente africano na produção do conhecimento científico, que mostra a matemática, desenvolvida na África, antes da invasão europeia.
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