Paulo César Paulo César 8/10/2012

Leandro Hassum protagoniza a comédia sem graça Até que a sorte nos separe

O gênero com maior espaço no nosso atual cinema é a comédia. São as que ganham mais destaque na mídia, pois, geralmente, reúnem a nata dos profissionais em evidência no cenário televisivo. Entretanto, por serem tão ligadas aos moldes da TV (leia-se Globo), essas comédias descambam para algo cansativo, exagerado e, por vezes, sem graça. Com Até que a sorte nos separe, nem mesmo o conhecido talento de Leandro Hassum consegue legitimar o humor e, por incrível que pareça, ele é um dos grandes problemas.

O longa traz o casal Tino (Leandro Hassum) e Jane (Daniele Winitis), que ganharam R$ 100 milhões na Mega Sena assim que se casaram. Depois de 15 anos esbanjando a fortuna, o rapaz descobre que sua conta está no vermelho, sua mulher está grávida e ele não tem mais aptidão para voltar para a profissão da juventude. Com a ajuda do seu vizinho economista e metódico Amauri (Kiko Mascarenhas), Tino vai tentar reduzir os gastos, mesmo sem contar a Jane e, ainda, reaprender valiosas lições que há muito estavam esquecidas.

A história tinha até potencial para render, no mínimo, uma daquelas comédias morais, sobre erros, aprendizados e redenções, já que é inspirada no best-seller Casais inteligentes enriquecem juntos, porém com pouco tempo de fita já é possível observar que tudo não passou de uma boa intenção. O roteiro recai para o lado do non-sense cômico e sobrecarrega a tela com números stand-up de Leandro Hassum. Suas caras, bocas e toda a sorte situações bizarras, além dos gritos e urros escalafobéticos, comprimem o restante dos personagens, que passam a elenco de apoio de luxo. A trama paralela envolvendo Amauri e sua esposa Laura (Rita Elmôr), que seria o contrabalanço da situação de Tino, foi mal desenvolvida e vazia. A grande lição de moral que dependia da conexão entre as duas histórias foi reduzida a uma situação novelística, totalmente previsível.

A opção do diretor Roberto Santucci em centralizar Hassum prejudicou a linha narrativa do filme, já que parecia praticamente obrigatório que o ator fizesse alguma piada em toda a sequência em que estava presente, mesmo quando o apelo não era necessário. Seu trabalho é inferior ao que fez no bobo, mas sucesso de bilheteria, De pernas pro ar (2011), em que a graça, mesmo rala, era compartilhada por todo o elenco. Daniele Winitis se sai bem nas poucas vezes em que tem o centro das atenções, assim como Aílton Graça, que rende boas cenas como um designer de interiores fajuto. Até a ponta de Maurício Shermman como um "poderoso chefão" (o que não deixa de ser verdade, já que o filme é produzido pela Rede Globo) quebra um pouco a escatologia, que naquele momento já aborrecia.

Talvez este filme coloque de vez na cabeça de alguns produtores que este tipo de comédia só funciona em sitcons, humorísticos dominicais e novelas das sete. Os façam investir mais em histórias construtivas, que tenha humor, porém, daqueles que os risos são consequências de situações absurdas do cotidiano. Daquelas que vez ou outra acontece em nosso país, e que só dando boas gargalhadas mesmo para engolir.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.

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