Rafael Tavares Rafael Tavares 30/7/2010

Almas à Venda

(Cold Souls - 2009)
Direção: Sophie Barthes

Imagem do filme Almas à Venda Enquanto grandes produções hollywoodianas aportam em nossos cinemas semana após semana, eventualmente chegam às nossas praças filmes não tão grandes assim, de diretores desconhecidos e sem grandes estrelas nos cartazes. Sofia Coppola e Spike Jonze são diretores que figuram como autores desses filmes alternativos, lista na qual Sophie Barther e seu Almas à Venda entram agora com merecimento.

Estrelado por Paul Giamatti, mais conhecido por seus coadjuvantes em O Ilusionista e Entre Umas e Outras, a produção de 2009 conta a história de um ator (Giamatti, interpretando a si mesmo), numa crise criativa que recorre a um tratamento nada convencional para resolver seu problema: a extração de almas. Porém, após algumas complicações e decidido a 'reimplantar' sua alma, ele descobre que ela está no corpo de uma atriz russa, após ter sido levada por uma mula do mercado negro de almas.

Para muitos a premissa pode parecer absurda, mas são justamente filmes como esse, que abusam do absurdo e do realismo fantástico, que melhor conseguem discutir e refletir o momento histórico e a sociedade na qual estão inseridos – e Almas à Venda pode ser considerado um grande filme por fazê-lo.

Na sociedade capitalista atual, onde a publicidade e a padronização dos costumes e gostos tomam proporções significativas na vida das pessoas, extrair, vender e alugar almas serve de boa metáfora para refletir nossas desejos e sonhos: cada vez mais pessoas aderem às cirurgias plásticas, à mesma moda, às mesmas músicas.

Mas, abrir mão de sua essência causa transtornos, não só para Giamatti, que precisa reencontrar a sua - e reconciliar-se com ela - para poder voltar a ser quem era, mas também para nós, na vida real, já que não é por acaso que a grande doença da nossa geração não é a AIDS, nem o câncer – e sim a depressão.

Como todo filme brilhante, Almas à Venda permite múltiplas e longas reflexões. Reflexões sobre a Humanidade, sobre a vida. E por quê não? É uma pena que pequenos grandes filmes como Almas à Venda não aportem nos cinemas semanalmente.



Rafael Tavares é diretor, produtor e roteirista audiovisual, formado em Produção Audiovisual e pós-graduando em TV, Cinema e Mídias Digitais