Quarenta anos de vida sacerdotal

Nome do ColunistaDom Gil  20/12/2016

Foi naquele dia feliz de 18 de dezembro de 1976, que vi meus sonhos realizados. Depois de estudar 15 anos, a contar do Seminário Menor São José, na cidade de Divinópolis, com o antigo curso ginasial e científico, iniciados aos meus 11 anos de idade, e em seguida o Seminário Maior com os cursos de Filosofia e Letras, naquela mesma cidade, e de Teologia na PUC-MG, em Belo Horizonte, pude concluir o período formativo.

Além de minha querida família profundamente católica, e de tantas outras pessoas, devo destacar minha gratidão a duas pessoas nesta fase inicial de formação. O primeiro é Dom Cristiano de Araújo Pena, 1º Bispo da Diocese de Divinópolis, com quem, inclusive, pude residir durante quatro anos na mesma casa, sendo ele meu formador, meu orientador dia a dia. Por fim, sou-lhe muito grato por ter me ordenado diácono e presbítero. Ele me ensinou, sobretudo, duas coisas muito importantes: a rezar confiantemente a Deus e amar incondicionalmente a Igreja. Ele continua no céu, sendo meu eterno diretor espiritual e meu advogado nas causas difíceis. O segundo é Monsenhor Hilton Gonçalves de Sousa, reitor admirável de meu Seminário Menor, a quem os sacerdotes não perderão se o imitarem na busca do saber, da fidelidade incondicional a Deus e à Igreja.

Nestes 40 anos, três sentimentos estão bem presentes em meu coração. O primeiro é o da gratidão. Não sei com que termos, com que gestos, com que atitudes eu poderei expressar a Deus o meu reconhecimento. Ao ser ordenado na minha juventude de 26 anos, não poderia de forma nenhuma conhecer o que me seria pedido por Deus nos anos seguintes. Pensava que minha vocação seria exercida por ali, nos territórios de minha querida diocese de origem e nada mais. Mas aos poucos observei que Deus não só me pedia coisas, mas muito mais me oferecia oportunidades nunca antes imaginadas. Nas paróquias por onde passei, nas pastorais as quais servi, no curso de História da Igreja que fiz em Roma, nas escolas onde ensinei, nos Seminários que dirigi, fui conhecendo uma multidão de fiéis que me enriqueceram a alma e muitas pessoas que literalmente me evangelizaram.

Como gesto de supremo amor, em 1999, aos 23 anos de caminhada presbiteral, o Senhor me chamou ao episcopado enviando-me como Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Paulo, depois Bispo Diocesano de Jundiaí-SP e atualmente como Arcebispo de Juiz de Fora. Tudo se fez sem nenhum merecimento de minha parte, mas por pura bondade d’Ele e da Santa Igreja que é nossa mãe tão amorosa. Aqui, tenho que expressar minha gratidão ao Santo Padre, o Papa São João Paulo II que confiou em mim e me fez sucessor dos Apóstolos. Ele é hoje meu intercessor na casa eterna do Pai.

O segundo sentimento é o de pedir perdão. Tenho plena consciência de minhas falhas neste processo admirável e misterioso da obra de Deus. Todos os meses me aproximo contritamente do Sacramento da Confissão e suplico a Deus o perdão de meus pecados, negligências e omissões. A cada vez que me levanto do Confessionário me sinto mais forte, mais alegre no serviço do Senhor, e mais reconhecido pela sua imensa misericórdia. Sinto que, por este Sacramento, Ele nos alivia bondosamente de nossas faltas, e nos dá nova força propulsora que nos faz olhar para frente e continuar feliz no exercício do sacerdócio, podendo oferecer, dentro de nossos limites humanos, nossa colaboração na construção de seu Reino.

O terceiro sentimento é o de súplica. Vez por outra, ouço no íntimo do coração diante da Eucaristia: “Levanta-te e come, pois ainda te falta muito a caminhar” (I Rs 19, 7). A cada vez que tenho a honra, a alegria, a satisfação de celebrar a Santa Missa, me inclino, cheio de fé e peço a Cristo presente na Santa Eucaristia bênçãos e graças para continuar até o fim, na alegria que nunca deixou de estar em meu coração que é a alegria de ser Padre. Suplico a Nosso Senhor a coragem para resolver os problemas que são colocados diante de minha missão, sem negligenciar, sem ofender a quem quer que seja, sem quaisquer sentimentos de revolta, ou qualquer outro sentimento negativo contra pessoas que possam me causar danos morais ou que me desejem mal. Sou grato a Nosso Senhor por me dar a capacidade de agir com coragem quando necessário, e de não guardar ódio de nenhum ser humano, quando sou por acaso incompreendido ou ofendido no comprimento de minha missão.

Ao comemorar os 40 anos de vida sacerdotal, ergo o cálice da Salvação e invoco o Nome Santo do Senhor (cf Sl 115), dando graças infinitas pela sua maravilhosa bondade para comigo.

Por fim, convido a todos a elevar comigo uma fervorosa prece ao Senhor da Messe e Pastor do Rebanho, para que envie novos operários, pois a messe continua grande e os operários, poucos, e Deus continua sendo generosamente misericordioso para conosco.

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