Entre os testemunhos da ressurreição de Cristo, um dos mais belos é o dos discípulos de Emaús. O fato está registrado no capítulo 24 de São Lucas. Narra que dois discípulos, cheios de tristeza, desilusão e totalmente desanimados, estavam voltando para sua casa, que ficava na zona rural, a 11 km de Jerusalém. No caminho, Jesus se une a eles, fala-lhes ao coração e, por fim, se dá a conhecer ao partir o pão. 

O evangelho do 3º Domingo da Páscoa narra a volta desses discípulos para Jerusalém, para encontrarem os demais e anunciar que Cristo ressuscitou e esteve com eles. O estado de alma deles neste caminho de volta é justamente o oposto da realidade anterior. Estão alegres, felizes e animados.

Ao encontrarem os apóstolos, estes, a princípio, mostram-se cheios de dúvidas e preocupações. Ainda estavam escutando o que diziam os discípulos de Emaús quando o próprio Jesus se apresenta, outra vez, no meio deles e lhes mostra as cicatrizes de Suas chagas nas mãos e nos pés. À semelhança do que fez com São Tomé, Ele os convida a tocarem n’Ele, para que tenham certeza de que não se tratava de um fantasma. Para dar ainda mais uma prova de Sua ressurreição, come com eles um peixe, comida comum dos apóstolos, pois vários deles eram pescadores. A alegria e o ânimo dos discípulos de Emaús contagia agora todo o grupo.

O trecho do evangelho termina com uma ordem de Jesus: Vós sereis testemunhas de tudo isso (Lc 24, 48). Esse testemunho está bem explícito no livro dos Atos dos Apóstolos que lemos todos os domingos do Tempo Pascal como primeira leitura. Os apóstolos, antes medrosos e tímidos, desanimados e tristes, agora renovados pelas várias experiências de convivência com Cristo ressuscitado, vão dar testemunhos corajosos diante do povo e das autoridades. São Pedro, dirigindo-se aos judeus, proclama: Vós matastes o Senhor da vida, mas Deus o ressuscitou dos mortos e disso nós somos testemunhas (At 3, 15). Em conformidade com as expressões de Jesus no cenáculo, afirma: Deus, porém, cumpriu desse modo o que havia anunciado pela boca de todos os profetas: que o seu Cristo haveria de sofrer (At 3, 18). O anúncio dos Apóstolos, contudo, não é uma denúncia pública simplesmente, mas um convite amoroso à conversão: sei que agistes por ignorância... arrependei-vos e convertei-vos para que vossos pecados sejam perdoados (cf. At 3, 17-19).

O relato da ressurreição do Senhor traz luz e graça, força e consolo para todos nós, no mundo inteiro, neste momento em que enfrentamos a pandemia. Depois de um ano de doenças, contágio, mortes; depois de um ano de medidas tão restritivas, de uso de máscaras, de isolamento, de limitações em nossos afetos; depois de um ano com dramáticas normas de não podermos estar presentes nas igrejas para as nossas consoladoras celebrações; depois de, pela segunda vez, não podermos celebrar exuberantemente nossa Semana Santa e nossa Páscoa, encontramo-nos em um estado da mesma apreensão dos apóstolos  a caminho de Emaús, ou daqueles fechados no cenáculo por medo. Tudo isso são como noites escuras, muitas vezes gerando desânimo.

O fato da ressurreição de Cristo, a luz que vem de suas aparições aos apóstolos, não como um fantasma, mas com um corpo real, redivivo, glorioso, ou seja, revestido de imortalidade, apresentando os mesmos sinais anteriores, até mesmo as cicatrizes das chagas, são a força para nós nestes momentos. Assumamos em nossos corações as experiências dos apóstolos: não desanimar nunca. Tudo suportar com fé e esperança, pois, quando pensamos que tudo está perdido, tudo se renovará. Nem os sofrimentos e nem a morte têm poder perante Deus.

A ressurreição de Cristo, real e verdadeira, é a nossa força, nossa luz. Por isso, todos nós que cremos e amamos a Deus seguimos sendo testemunhas da vitória de Cristo que é também nossa vitória.

 

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