Juiz de Fora caminha para inserir ciclistas na mobilidade urbana

ONG mobiliza campanhas e discussões sobre o assunto, enquanto poder público traça planejamento tímido com objetivo de projetos para o futuro

Angeliza Lopes
Repórter
24/10/2015
bicicleta

Já parou para observar que o uso de bicicletas na rotina do tráfego em Juiz de Fora é mais comum do que se imagina? Classificado pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB) a bicicleta é um veículo de propulsão humana que possui direito de trafegar pelas ruas e estrada de todo o país. Mas, a falta de informação faz com que o atrito entre motoristas, motociclistas e ciclistas se torne frequente e até mesmo arriscada. Para quebrar esta barreira, que a Organização Não Governamental (ONG) Mobilicidade JF tem tornado comum discussões sobre o assunto, além de motivar projetos inovadores relacionados a prática do uso da bike para o município.

Além dos trabalhos da ONG, o assunto é comum a todos os municípios com mais de 20 mil habitantes, que estiveram empenhados na elaboração do Plano de Mobilidade Urbana, exigência do Governo Federal para liberar futuros recursos para intervenções no tráfego, com intuito de priorizar os meios de transporte não motorizados e o coletivo urbano. Mesmo com o prazo de entrega estipulado até abril, as diretrizes de Juiz de Fora ainda não foram entregues. Conforme a assessoria de comunicação da Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), o documento, que está finalizado deste a data limite, aguarda a conclusão do Plano Diretor para que sejam apresentados juntos e não haja incompatibilidade entre ambos.

O chefe do Departamento de Estudos e Projetos da Settra, Marcelo Valente, explica que o plano cicloviário que integra o de Mobilidade Urbana é um conjunto de metas para montar a estratégia cicloviária do município. No planejamento, a avenida Brasil é colocada como o grande eixo de fluxo de bicicletas com limitação na via, sendo alimentada por outras ciclovias dos bairros regionais, como Santa Cruz e Linhares. "Na avenida, a ciclovia utilizaria parte da via de rolamento, bidimensional, na margem do rio, com limitação. O plano é uma diretriz que queremos transformar em projeto, futuramente, mas que não está fechado e pode sofrer alterações e ampliações conforme estudos em parceria com as organizações interessadas", explica.

Valente completa que mesmo que a viabilização para estas mudanças no tráfego sejam custosas e burocráticas, qualquer cidade que pense em mobilidade, atualmente, precisa incluir modais não motorizados. O próprio CTB, no artigo 21, prevê a necessidade de garantia de segurança de ciclistas pelos órgãos executivos como um todo, com o intuito de planejar, projetar, regulamentar e operar o trânsito de veículos de pedestres e de animais, e promover o desenvolvimento da circulação e segurança de ciclistas.

Mapa de ciclorrotas

Conforme a ONG Mobiblicidade JF, a discurso de adaptação também deve seguir na direção da conscientização de todos os atores do tráfego quando a necessidade de respeito mutuo entre eles e ciclistas, respeitando seus direitos e deveres no compartilhamento das vias e estradas. Para isso, os voluntários da instituição fazem campanhas, com a distribuição da versão reduzida do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) para o próprio condutor de bicicleta, motoristas e pedestres. "A intenção é mostrar que o código também abarca a direção em bicicletas, que são consideradas meio de transporte", afirma presidente diretor da ONG, Guilherme Mendes.

mapaA ONG avalia que existem soluções a médio prazo para minimizar os impactos de conflito entre motoristas, motociclistas e ciclistas, além das ciclovias que dependem de altos investimentos e projetos morosos. Em fevereiro, A Mobilicidade buscou inspiração de uma iniciativa da ONG Transporte Ativo (TA) do Rio de Janeiro que criou através de workshop um Mapa de Ciclorrotas. A ação foi realizada em Juiz de Fora no início do ano com a mesma metodologia e reuniu mais de 40 ciclistas, não ciclistas e pessoas que usam a bike para lazer com o intuito de traçar as rotas mais usadas na cidade. Para executar o Mapa Ciclorrota, entregue em fevereiro para a Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra), seria necessário apenas sinalizações verticais e horizontais simples nas vias e emplacamento indicando constância de fluxo de ciclistas na área, para chamar à atenção para o compartilhamento. "Temos que ter cuidado para não nos tornarmos reféns das ciclovias. Por isso, o mais importante é a conscientização de todos os condutores que a melhor solução é um uso compartilhado sem disputas. As próprias diretrizes para conduzir a bike e regras de equipamentos de segurança devem ser avaliadas com cautela, pois grande parte das normas brasileiras foram adaptadas sem avaliar a realidade dos ciclistas".

O modelo traça cinco eixos principais de circulação, que são: na avenida Brasil, que segue da Zona Norte ao Centro, na avenida Rio Branco em toda extensão, da avenida Rio Branco com a Dom Silvério, da ponte da rua Benjamin Constant até o Linhares – Eixo Leste e o Eixo Cidade Alta que segue pela estrada Engenheiro Gentil Forn ou avenida Itamar Franco até bairro São Pedro.

A assessoria de comunicação a Settra explica que recebeu o Mapa e está avalizando o material recebido pela ONG para verificar a possibilidade de confecção de um projeto sobre o assunto.

Fluxo de ciclistas e bicicletário

Para entender o fluxo de ciclistas na cidade, com o intuito de auxiliar nas estratégias de políticas públicas do Executivo, que a Mobilicidade faz em períodos durante o ano Contagens de Ciclistas de Juiz de Fora. Em três anos, já foram levantados dados na avenida Brasil, Benfica, Bom Pastor e Avenida Itamar Franco com a Rio Branco. O último local foi espaço para a contabilização mais recente, quando foram somados 1.144 ciclistas (Avenidas Itamar Franco/Rio Branco), sendo que há dois anos, no mesmo local, a contagem registrou 1.141 condutores de bike. Desde total, cerca de 35% eram de bicicletas cargueiras – usadas para fazer entregas. Já no Bom Pastor, também neste ano, esta média de entregadores chegou a 50% do total.

Os números revelam a demanda contínua de estrutura para atender estes condutores, que se arriscam em travessias perigosas, além de não usufruírem de opções de bicicletários, principalmente, na região Central da cidade. O empresário do setor de hortifruti da rua Floriano Peixoto, Vinícius Ferrugini, afirma que o uso da bicicleta é essencial para entregas pelo comércios do centro. Há 37 anos no mesmo endereço, ele conta que a maior dificuldade são as rivalidades no trânsito, de motoristas de carro e moto que não aceitam a presença das bicicletas nas ruas. Além disso, a falta de bicicletário deixa as paradas mais arriscadas.

"A bicicleta cargueira é mais viável para as entregas, pois possibilita a parada em locais com pouco espaço, dentro dos prédios e casas comerciais, são mais ágeis e baratas. Mas, o poder público nos cobra para não parar em determinados espaços, no entanto não temos muitas opções mais adequadas", reclama.

bicicletarioPara oferecer espaços adequados de estacionamento, a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) já instalou sete bicicletários em praças da cidade, sendo que os três principais pontos da região Central, que são o Parque Halfeld, praça da Estação e Antônio Carlos aguardam a avaliação do Patrimônio Cultural da Prefeitura de Juiz de Fora (DIPAC) quanto o melhor local para instalá-los. A previsão é que sejam implantados até o final de novembro.

Os pontos que já possuem são: as praças Geremias Garcia, em Benfica; Doutor João Tostes, no Bom Pastor; Riachuelo, no Centro; Alfredo Lage, no Manoel Honório; Agassis, no Mariano Procópio; Jarbas de Lery Santos, em São Mateus e Santa Terezinha, na Avenida Rui Barbosa.

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