Paula Medeiros Paula Medeiros 19/3/2011


Estreia da semana, Cópia Fiel, apresenta inquietações diante de formatos convencionais 

A principal marca da obra de Abbas Kiarostami é calcada na sondagem dos limites da representação cinematográfica. O próprio diretor já declarou sua inquietação existencial, somente acalmada pela utilização do novo. E nessa inadequação a moldes convencionais, ele baseia toda sua obra. Através da experimentação, que está presente na maioria de seus filmes, Kiarostami busca estabelecer novas formas de linguagem fílmicas, desde o roteiro à montagem final, confirmando, assim, o cinema como sétima arte.

Cópia Fiel traz uma sutil abordagem sobre realidade e ficção em teores altamente metalinguísticos. O filme nada mais é do que o questionamento de si próprio, e a discussão se dá através do caráter representativo da arte e das atitudes humanas em geral.

O enredo é ambientado em Florença e se baseia na história de uma mãe solteira, interpretada por Juliette Binoche. Ela se interessa por James Miller (William Shimell), escritor do livro Cópia Fiel, que está na Itália para apresentar seu ensaio, baseado no valor da obra de arte e o significado de suas reproduções. Os dois saem juntos e começam numa espécie de jogo em que fingem ser um casal, junto há quinze anos. Todos os possíveis problemas de uma união longa como essa começam a surgir, levando, assim, o espectador a entrar numa mistura, já inseparável, de realidade e fantasia.

Binoche traz leveza à personagem. Ela consegue ultrapassar certas convenções cênicas e atingir um grau de naturalidade invejável, em que ações passam a soar como improviso. Se comunicando com extrema naturalidade em três idiomas – inglês, francês e italiano –, ela encarna na típica mãe solteira carente e confere à trama os elementos necessários para uma discussão profunda e bem formulada.
Aliás, aqui está presente toda a intensidade do filme. É nos diálogos, estritamente bem formulados, que se passa o drama. Eles são bem escritos ao ponto de serem leves sem deixar a dureza e a reflexividade de lado. Seu fio condutor é impulsionado pelo subtítulo do livro de Miller, que diz: esqueça o original, fiquem com a cópia. A partir dessa premissa, toda uma discussão é trazida à tona e ela permeia questões existenciais, como a personalidade única e intrínseca de cada um.

Composta por diversas tomadas incomuns – como a da câmera acoplada à dianteira do carro, que focaliza apenas o rosto dos personagens, sem permitir que o espectador veja o caminho que está sendo traçado – a montagem do filme é ditada por um ritmo mais lento, concordante com a temática reflexiva. A singularidade dos planos é aperfeiçoada, ainda, pela bela fotografia, pensada nos mínimos detalhes.

Para Kiarostami, a estrutura linear do cinema deve ser enfraquecida, para que o espectador assuma uma postura mais ativa e preencha as lacunas deixadas pelo diretor. Cópia Fiel reitera essa premissa e nos permite assumir uma postura crítica e reflexiva diante da situação proposta. Se para o diretor as bases do cinema se dão no "quanto se pode ver sem se mostrar", nada mais conveniente do que apostar na dialética firmada entre original e suas reproduções para instigar a mente humana.

Cópia Fiel / Copie Conforme
França / Itália , 2010 - 106 minutos
Drama
Direção: Abbas Kiarostami
Roteiro: Abbas Kiarostami
Elenco: Juliette Binoche, William Shimell, Adrian Moore



Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos. 


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