Paula Medeiros Paula Medeiros 2/4/2011


Fúria sobre Rodas é diferente de outras produções de ação e garante bons momentos

O caminho trilhado por Fúria sobre Rodas é uma mistura de influências que, em alguns casos, dá certo e, em outros, não. Uma de suas maiores qualidades é assumir sua proposta B, mesmo que, em alguns momentos, tenha faltado um pouco mais de ousadia e coragem da direção. Essa é, por exemplo, a grande diferença entre Fúria e filmes como À Prova de Morte (de Quentin Tarantino) e Machete (de Robert Rodriguez) e é onde sentimos que o filme não é completamente redondo.

Fúria sobre Rodas narra a história de Milton (Nicolas Cage), um cara cheio de segredos que sai em busca de sua neta, roubada pela seita satanista de Jonah King (Billy Burke). Ele fora um pai ausente até que se revolta com o assassinato de sua filha, cometido pelos mesmos adoradores do demônio que levaram sua neta. Aliando-se a Piper (Amber Heard), uma garota que também não tem nada a perder, os dois saem numa busca sangrenta que os levará a driblar qualquer obstáculo que estiver adiante.

As cenas de carnificina, os diálogos repletos de palavrões, algumas das lutas corporais e os carros sessentões em road trips são os elementos que Patrick Lussier usou para compor o clima exploitation de Fúria sobre Rodas. Todos eles foram bem aproveitados pelo diretor e chegam, inclusive, a surpreender quem está esperando mais um Velozes e Furiosos. Até mesmo porque Lussier, apesar de sua carreira baseada em filmes de terror, parecia seguir a linha do horror teen. Suas parcerias com Wes Craven, (A Hora do Pesadelo e Pânico) parecem ter lhe agregado referências que foram bem exploradas aqui.

Contudo, Lussier, em alguns momentos, parece não estar totalmente convencido do gênero que decidiu seguir. Ao invés de mergulhar no trash como Sam Raimi fez em Arraste-me para o inferno (2009) e suportar as possíveis consequências, o diretor preferiu se conter e diminuir o potencial que Fúria sobre Rodas tinha dentro do cinema B. Essa contenção é claramente perceptível da metade para o final, quando as mutilações param de acontecer e os diálogos assumem um tom mais conservador, mais sentimental.

Até o possível desânimo que poderia nos acometer ao ver o nome de Nicolas Cage no elenco é contornado. O ator parece ter encontrado o timing do personagem, principalmente porque ele andava assumindo papéis muito semelhantes a esse, só que fora do contexto B.

Outra boa atuação vem de William Fichtner, que assume o papel do assistente, um súdito fiel de satã. Ele consegue incorporar, muito satisfatoriamente, o teor enigmático e contido de seu papel. Mas isso é uma verdade só até certo ponto. Só até o momento em que aquela falta de ousadia, que mencionamos antes, invadiu o set e eliminou, gratuitamente, elementos que poderiam ter sido bons até o desfecho.

Merece destaque também a trilha sonora. Tão pesada quanto o teor da trama e tão ágil quanto às cenas rápidas, ela serviu como uma luva e contribuiu notoriamente para a construção do mistério e da ação, substâncias básicas do roteiro.

Apesar do direcionamento controverso que o filme foi tomando, Fúria sobre Rodas é puro entretenimento e garante algumas risadas e alguns daqueles momentos: "não é possível que isso esteja acontecendo". Além do mais, ele vai servir como uma ponte para Patrick Lussier. Ele, que dirigiu o também em 3D Dia dos Namorados Macabro, já conseguiu roteirizar melhor e incluir elementos novos em seu trabalho. Que Fúria seja, então, essa transição para um próximo trabalho mais ousado e seguro de si.

Fúria sobre Rodas / Drive Angry

EUA, 2010 - 104 minutos
Ação
Direção: Patrick Lussier
Roteiro: Todd Farmer, Patrick Lussier
Elenco: Nicolas Cage, Amber Heard, William Fichtner, Billy Burke, David Morse


Paula Medeiros
é estudante de Comunicação Social com participação em Projetos Cinematográficos.