Paulo César Paulo César 10/12/2011

Gato de Botas não traz roteiro inteligente, mas diverte 

Não é uma novidade um coadjuvante de um filme famoso trilhar seus próprios caminhos e ganhar notoriedade para se tornar protagonista. E isso aconteceu com o Gato de Botas, o comparsa do ogro Shrek na franquia de animação mais famosa da década passada, brinda os fãs com miados, trapalhadas, dança e muita diversão.

Na história, o Gato tem de se empenhar em uma missão junto a seu amigo meio-irmão Ovo, para encontrar a gansa dos ovos de ouro no castelo do gigante, já falecido, para limpar seu nome na cidade de San Ricardo, onde foi criado em um orfanato. Mas, sua cabeça está a prêmio por uma armação do Ovo, que pretende expiar seus pecados levando a prosperidade dourada para a cidade. Juntamente com a charmosa Kitty Mãos Macias, os dois embarcam nessa viagem, onde o céu é o limite.

O roteiro parece complicado, e para seguir a linha dos filmes de hipercultura pop propostos pela DreamWorks, ele é. Entretanto, a mistureba de historinhas para boi dormir que tanto conhecemos são reviradas de ponta cabeça em passagens que tendem ao non sense e seguem somente uma linha, a da diversão. Além dos textos de Charles Perrault, autor do Gato original, a tendência ao parodismo da produtora leva o público à cômica e rítmica aura dos contos do Zorro.

Gato de Botas não perde tempo em pequenos detalhes para introduzir a ação. Do início ao fim emprega em quase todas as sequências, tiradas, tombos e ironias, puxa gargalhadas do mais cético crítico e abraça sem a menor vergonha seu principal objetivo. Em nenhum momento dá indícios que questões "sérias" serão tratadas ao longo do filme, o que também é de costume das produções da empresa.

O protagonista é talvez o melhor dentre todos os readaptados pela Dreamworks desde os tempos de Shrek. Toda a astúcia, canastrice e sensualidade do sangue quente latino são reproduzidos pela perfeição das imagens do longa como se fosse o próprio Antonio Banderas que estivesse ali dançando e galanteando. Por falar em Banderas, a voz do Gato talvez seja sua melhor contribuição para o cinema nos últimos anos.

Sem os grandes roteiros produzidos pela Disney/Pixar, responsáveis por filmes brilhantes como Wall-E, UP – Altas Aventuras e o fantástico Toy Story 3, restou ao diretor Chris Miller se escorar ao refinado acabamento da animação, que de longe supera qualquer uma de suas adversárias em questão de realidade impressa ao seus personagens. Isso faz da carinha de pobre coitado, da qual o Gato usa e abusa para conseguir tudo o que quer, ainda mais cativante.

O que fica de Gato de Botas é toda a alegria de suas aventuras, as caras e focinhos de seus personagens e a musicalidade que conduz a trama. É verdade que está abaixo de outras produções, como o seu "irmão" Happy Feet 2 lançado há duas semanas, por falta de um tema sério e que passe mensagens positivas com lições de moral inclusas. Porém, para quem está ali sentado no cinema, ele é o suficiente para sair com um largo sorriso estampado na cara, com ou sem uma lição de moral fixada na mente.



Paulo César da Silva é estudante de Jornalismo e autodidata em Cinema.
Escreveu e dirigiu um curta-metragem em 2010, Nicotina 2mg.