Joaquim
Quando comecei a escrever os textos para a coluna de cinema do Portal ACESSA.com, eu não tirei de mente que, independente do filme, me preocuparia com a qualidade da escrita.
É claro que a empolgação não foi a mesma em todos, na medida em que eu escrevi sobre filmes que me embasbacaram, como “Ninfomaníaca”, que eu acho que foi uma das obras cinematográficas mais incríveis dos últimos anos, e também sobre filmes muito bobos, como o brasileiro “Um tio quase perfeito”. Até que chegou o dia de ontem, no qual eu tinha planejado assistir “Divinas Divas”, dirigido por uma atriz que eu amo, que é Leandra Leal, só que não consegui, pois já não estava mais na lista de exibição. E dentre os que estão em cartaz, eu já tinha lido alguma coisa sobre “Joaquim”, então decidi conferir.
Antes de falar sobre ele, devo dizer que evito criar expectativas antes de ir ao cinema, a fim de evitar o desgosto. Mas, por algum motivo, eu criei com relação a esse, e nem sei explicar o porquê disto. E é aí que entra a questão da qualidade que abordei acima. Eu gostei tanto do filme, mas tanto, que isso me gerou um medo. Medo de não dar conta de escrever uma coluna que faça minimamente jus àquele trabalho.
Esse receio se dá também por uma série de outros aspectos. Por exemplo, à minha não vontade de escrever um texto demasiado longo. Também pela dúvida em abordar ou não questões de ordem histórica. Medo de não colocá-lo na posição de grandeza que ele merece. E por aí vai.
Uma consideração deve ser exposta com relação a “Joaquim”. Ele não é, não é mesmo, uma obra para quem está afim, somente, de comprar uma pipoca e um refrigerante, e se divertir por cerca de duas horas diante de uma tela grande. Ele é para quem gosta de cinema. Um gostar amplamente falando. Gostar da arte cinema. E devo dizer também que eu, enquanto espectador, defendo que as pessoas não são obrigadas a “pré” conhecer as histórias, sejam quais forem, verídicas ou adaptadas.
Vamos lá. “Joaquim” aborda a vida do alferes Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, mártir do movimento conhecido como Inconfidência Mineira. No entanto, a história vai somente até o início de sua participação na luta, mostrando sua vida antes, numa construção histórica e de roteiro que mostra a nascente de sua revolta contra o abuso português sobre a colônia dos Brasis.
Várias são as características que me encantaram no longa. A primeira delas foi a brasilidade. É claro que apontar brasilidade em um trabalho artístico é, sem dúvida, algo de cunho muito subjetivo. Mas o que posso fazer? Eu achei “Joaquim” lindamente brasileiro. Cara e personalidade de filme brasileiro. Com atores pouco conhecidos do grande público, ele não deixa em nada a dever aos que possuem rostos mais conhecidos. Pelo contrário. Vários dos que assisti nos últimos tempos perdem de longe. A direção é simples e bem encaixada, muito provavelmente porque o filme não é pretensioso, e nem a direção é. Ela não errou, não deixou furos. O roteiro é interessante, mostra críticas a um movimento e, ao mesmo tempo, a uma época, não somente a dele, mas também a nossa. Ao movimento, em virtude de suas preocupações, como o fato de desconsiderarem, por completo, a abolição da escravidão, por exemplo. Sobre a época, mostra uma coroa portuguesa dominadora, e um Brasil egoísta, preocupado, em regra, com sua própria vida e seus próprios problemas. ´
É muito possível comparar a história mostrada em “Joaquim” com os dias atuais. Em alguns aspectos eles não deixam subentendido, como quando Tiradentes fala sobre sua admiração à América do Norte. Em outros casos, é bem “encaixável” com nossos dias. Basta querer ver isso ali.
Um dos melhores filmes que assisti este ano, “Joaquim” é fortemente indicado. Mesmo.
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