Eu, Victor, antes e depois de "Dzi Croquettes”
Semana passada, em projeto de extensão proposto pela Faculdade de Turismo da UFJF, sob a organização do Professor Doutor Marcelo do Carmo, ocorreu em Juiz de Fora a Semana Rainbow da UFJF 2017, com a denominação de “UFJF e Miss Brasil Gay – Interfaces Com a Comunidade”. Com uma série de eventos, tais como: debates, exposição fotográfica, shows e mostra cinematográfica; tive a oportunidade de assistir aos filmes apresentados na Videoteca João Carriço, no prédio da Funalfa. Os filmes, escolhidos pelo Professor Doutor Cristiano Rodrigues, da Faculdade de Comunicação da UFJF, aos quais tive acesso, foram a coprodução colombiana/peruana/francesa/alemã, “Contracorrente”, a produção estadunidense “Hedwig – Rock, Amor e Traição” e o documentário brasileiro “Dzi Croquettes”.
Os filmes foram extremamente bem escolhidos, pois abordaram a questão homossexual como um todo. “Contracorrente”, lindo como poucos filmes que já vi, mostrou um mundo que se esforça por conter o homossexual, inclusive mostrando essa contenção vinda de um dos dois membros do casal protagonista, em virtude de sua enorme dificuldade em lidar com sua sexualidade. “Hedwig”, forte e assustador, exibindo uma pessoa que quer incomodar e mostrar aquilo que incomoda a si próprio. Que não se importa em fazer o que for preciso para descarregar o que lhe pesa.
Mas minha opção de escrever e publicar nesta coluna, em agradecimento a essa semana tão rica, foi o sobre o documentário “Dzi Croquettes”.
“Dzi Croquettes” conta a história, através de fotos, vídeos e entrevistas, de um grupo teatral/musical formado, nos anos 70, de homens que se travestiam e criticavam o momento político e social da época. Dirigido por Tatiana Issa, filha do coreógrafo Américo Issa, o qual trabalhou com o grupo. É o documentário mais premiado da história do Brasil!
Iniciado após proposta de um dos membros, Wagner Moreira, o grupo conta com um inacreditável talento corporal, de dança e atuação. Após cerca de um ano em São Paulo, partem para o Rio de Janeiro, onde passam dois anos e têm, lá, o grande reconhecimento, passando o lotar sessões, e gerar incômodo nos governantes da época. Interrompidos então pela censura, passam cerca de um mês proibidos de trabalharem, até que, após conseguirem uma audiência com o censor, conseguem permissão para voltarem a se apresentar. Após algum tempo de sucesso também fora do país, eles retornam, e pouco tempo depois o grupo acaba.
Eu, Victor, desde criança, tinha vontade de fazer teatro. Lembro de minha mãe me levando às peças do Grupo Divulgação. De “invadir” o camarim. Até que, na adolescência, aos 16 anos, eu entrei para o GATTU, do Colégio Técnico Universitário, e participei de duas produções. Saí para estudar para o vestibular, e voltei após me formar, onde permaneci até os 31 anos, em 2012. Tive experiência também em outros dois grupos, porém com menor significado. Além do teatro, tive dois momentos de viver a dança em minha vida, que foi no grupo Tarantolato, que trabalha com dança folclórica italiana, e no Cos’é, que trabalhava com dança contemporânea.
Quando eu vi o documentário... Nossa! Quando eu observava a importância do trabalho daqueles homens, eu percebi o claríssimo valor que aquilo deve ter tido para a Causa Homossexual. Os depoimentos de artistas que eu admiro tanto: Miguel Falabella, Cláudia Raia, Betty Faria, Marília Pêra, Jorge Fernando, algumas das Frenéticas, Nelson Motta, Lisa Minnelli e outros. Falavam deles com tanto respeito. Com tanto amor. Caramba!
Após assistir ao documentário, eu entendi com muita facilidade a necessidade de se conhecer precursores para se praticar algo e compreender algo.
Ele mexeu demais comigo. Os artistas mostraram uma coragem tão necessária para o mundo acontecer. É tão importante haver pessoas assim. Pessoas marco. Apesar de saber que todos temos nossas importâncias, eu passei a ver no “herói” uma espécie de sobre valor. Porque eles me passaram essa imagem. A de heróis. E isso me incentivou a seguir com mais vontade.
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