Iriê Salomão lança livro com obras de Pantaleone Arcuri

Pedreiro italiano foi um dos nomes mais importantes da arquitetura juiz-forana

Lucas Soares
Repórter
17/10/2015

"Eu nasci artista, desenhando. Cresci desenhando e desenhei minha vida inteira." Assim se define Iriê Salomão (foto ao lado), 62, juiz-forano que vai lançar na próxima quarta-feira, 21 de outubro, o livro "Do piso à parede", com obras do pedreiro italiano Pantaleone Arcuri representadas em quadros.

O artista plástico, com trabalhos exibidos em diversos países, é uma pessoa plural. Além da ocupação principal, é conferencista, articulista, escritor espírita, especialista em Patrimônio Cultural, e já foi professor de História e membro do Conselho Municipal de Cultura de Juiz de Fora. "A minha geração jovem, que foi pós Woodstock, todo mundo pintava, fazia artesanato em cores ou fumava maconha. Você podia fazer as três coisas, e eu optei por duas, que foi o artesanato e desenhar. Comecei a pintar mesmo com 12 anos, em 1962. Nessa época, eu conheci o Ney Martins, que foi um dos maiores desenhistas que já existiram. Eu mostrei para ele meus quadros e ele caiu na gargalhada, falando que era um horror, que eram muito ruins, porque eu desenhava com o pincel. Ele me sugeriu então desenhar mesmo. Aí comecei. Eu convivi com ele intensamente dez anos, foi meu grande guru. Fui participando de exposições coletivas, de galerias, vendendo quadros, sempre com essa atividade de hobbie. Tem seis anos que eu abandonei a sala de aula, que já era um projeto meu, devido à bagunça que estão fazendo com a educação nesse país. Planejei meu ateliê, falei com a minha mulher e ela topou. Larguei tudo e vim morar no ateliê. Aí comecei a desenhar firme, como trabalho, e passei a fazer exposições internacionais, nos Estados Unidos, em vários países da Europa, de uma maneira louca! Viram meu trabalho e eu deixei levarem os quadros", comenta.

Salomão conta que um artista deve ser observador. No caso do novo livro, ele revela que se encantou com o piso de um edifício público, todo revestido em ladrilho hidráulico, pela empresa de Arcuri, em Juiz de Fora. "Ele tinha uma fábrica em frente onde hoje é o Instituto Estadual de Educação, na década de 40 e trouxe para o Brasil a tecnologia de fazer telha de amianto. O trem entrava na empresa dele para entregar matéria prima e levar a produção dele. Ele era pedreiro, fazia tudo, e entregava a casa pronta. E era analfabeto. Quando eu vi os ladrilhos hidráulicos, fiquei doido, estudei a técnica e resolvi fazer os quadros. Levei dois anos para desenhar os quinze. Inscrevi esse projeto na Lei Murilo Mendes, que foi aprovado na íntegra, e vamos lançar na próxima quarta (21)", revela. O lançamento acontece às 20h, no Ritz Hotel.

O artista plástico também é escritor espírita, com dois livros já publicados e um a ser revisado. "Claro que um dom influência o outro. Nós somos o que nós conhecemos. Você não pode ser feliz pensando numa coisa e fazer outra. Você pode até fazer, mas não vai ser legal. O conhecimento da doutrina espírita me dá uma disciplina e me ensinou a nunca ver a vida num curto prazo. Eu desenho porque eu quero mostrar pra mim como eu fiz, eu vi, aquele objeto determinado. Se vai vender, se vai fazer sucesso, é outra história que não me pertence. Eu acredito num dom que nasci com ele, desenvolvi o desenho por talento. Dei muita pancada, estudei, aguentei gente tirando sarro da minha cara", afirma.

Cultura problemática

Segundo o artista plástico, a cultura local é considerada um problema crônico. "Tem vários locais que você não pode expor porque as pessoas levam pro lado pessoal. O gerenciamento político da cidade otimiza o artista no geral, mas manobra o resultado do trabalho, dentro do que eles querem. Eu fiquei um ano no Conselho de Cultura, criaram uma cadeira de artes plásticas e me convidaram. Eu fui lá só para ter certeza, mas essa história de conselho não funciona. Só serve para você sentir que está fazendo alguma coisa, mas no final, quem vai fazer é o prefeito. No Brasil é assim, o gestor é dono, faz o que quer, não o que é devido fazer. Nós passamos um ano planejando, buscando auxílio com professores da universidade, para fazer um censo com os artistas da cidade. Nós precisávamos contratar uma pessoa só. O prefeito não tinha R$ 12 mil para isso. Mas tinha R$ 80 mil para tirar do orçamento da Funalfa e dar para o show do Pe. Fábio Melo, outros R$ 50 mil para dar para a Marcha de Jesus", conta.

Apesar disso, Salomão acredita em Juiz de Fora como uma cidade cultural. "Nós precisamos ficar livre da concorrência do poder público. O grande problema dessa cidade é a Câmara dos Vereadores. Entra prefeito, sai prefeito, e eles tão ali, não deixam fazer nada. Antes podia fazer exposição no hall da Câmara e não pode mais, podia fazer apresentação cultural na praça em frente ao Cine-Theatro Central, e não pode mais. O Salão Oficial Municipal está jogado na Praça da Estação Ferroviária, sem apoio da Câmara. É uma concorrência desleal", opina.

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