Professor juiz-forano lança documentário sobre a obra de Emílio Eigenheer
O longa-metragem de 1 hora e 44 minutos, homenageia e difundi a obra do pesquisador brasileiro, maior estudioso sobre a história do lixo no Brasil
Repórter
7/07/2020
Grande desafio para gestão pública, a coleta seletiva depende de outras peças para fazer a engrenagem da separação e destinação correta dos resíduos sólidos girar nas cidades brasileiras. Cooperativas, catadores de recicláveis, indústria e toda população precisam se envolver neste trabalho, que iniciou há 35 anos, quando ocorreu a primeira experiência sistematizada no Brasil de coleta seletiva, na cidade de Niterói, idealizada pelo professor Emílio Eigenheer. Para homenagear e difundir a obra do pesquisador brasileiro, maior estudioso sobre a história do lixo no país, que Ciro de Souza Vale, professor do núcleo de Geografia do Instituto Federal (IFSudeste), campus Juiz de Fora, se dedicou na execução do documentário: Emílio Eigenheer: um observador de resíduos.
O longa-metragem de 1 hora e 44 minutos inicia com imagens da exposição que o pesquisador Emílio realizou, em 2012, na Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro. A mostra reuniu relíquias encontradas na coleta seletiva de São Francisco, na cidade carioca, onde implementou o projeto pioneiro de coleta, 1985. Entre as raridades expostas no evento, estavam um livro de 1578, moedas do século XIV e postais com Selo Olho de Boi, do século XIX. A coleção revelou o olhar singular do professor para o lixo.
“Emílio é o maior estudioso sobre a história do lixo no Brasil. Possui várias obras publicadas, dentre elas ‘A história do lixo’ e ‘Lixo, vanitas e morte’. Ele vai além da questão operacional. Retrata em sua obra uma relação do lixo com a infância, a morte, a degenerescência e aspectos psicológicos e filosóficos”, detalha o idealizador do filme.
Para apresentar toda pesquisa elaborada por Emílio, que mostra como o lixo relaciona-se diretamente com diversas fases da vida humana, Vale entrevistou profissionais de diversas áreas, com apoio do cineasta juiz-forano Wilton Araújo, que dialogam com as falas do pesquisador. Participaram da narrativa o jornalista André Trigueiro, Marco Lucchesi, presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL), Gisele Teixeira, que é engenheira do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (Demlurb), entre outros profissionais da área de resíduos sólidos, da medicina, filosofia, segurança pública, um representante de uma associação de catadores da cidade de Juiz de Fora. Enfim, uma gama de profissões e pessoas que mostram de forma direta como os resíduos estão presentes na vida das pessoas.
Ciro Vale detalha que o filme ainda proporcionará uma importante e necessária reflexão sobre a temática dos resíduos, abordando desde a pedagogia do lixo, até a situação dos catadores e materiais recicláveis e a necessidade de uma gestão mais eficiente desse material. “É preciso pensar sobre o assunto com real seriedade, abordando a complexidade de que ele carrega e a contribuição do professor Emílio Eigenheer é indispensável nesse sentido”.
A estreia do documentário estava agendada para ocorrer no dia 21 de junho, no Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM), mas a situação da pandemia do novo coronavírus causou o cancelamento das atividades culturais na cidade, e, consequentemente, do lançamento. Como o filme não está disponível em plataforma online, os interessados em assisti-lo podem solicitar o link de acesso para o e-mail ciro.vale@ifsudestemg.edu.br.
Homenagem em vida
Antes mesmo de pensar em elaborar o filme com recursos próprios, o professor Vale já nutria pelo pesquisador Emílio grande admiração e amizade, já que ele foi seu orientador no mestrado da Universidade Federal Fluminense (UFF), pelo curso de Ciência Ambiental, e participou de sua banca de doutorado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Depois do meu mestrado, mantive contato próximo com o professor que continuou sendo referência para minha tese. Foi aí que surgiu a vontade de realizar algo sobre sua obra, com objetivo de criar uma narrativa que saísse do senso comum de coitadismo em relação aos catadores. Queria mostrar que o processo criativo deles está dentro e não fora dos depósitos de lixo”, destaca Ciro Vale, lembrando o filme ‘Boca de Lixo’, uma das referências cinematográficas que consegue retratar os catadores de recicláveis com seus valores e virtudes sem glamourização, desconstruindo os esteriótipos.
Futuro livro
Mais que ocupar a telas, o documentário tornou-se inspiração de seu autor para mais um futuro projeto: um livro sobre a obra do professor Emílio. O professor de Geografia conta que conseguiu aprovar financiamento, pela Lei de Federal de Incentivo à Cultura (Lei Rouanet), para execução da obra.
“Agora o objetivo é trabalhar na captação de recursos para sua concretização. Esperamos poder captar os recursos e concluir o livro. O dinheiro arrecadado com a comercialização dos exemplares será revertido para a cobertura do galpão da Associação Lixo Certo de Juiz de Fora”, afirma Vale. A Alicer é uma das três associações que realizam separação dos resíduos recicláveis de Juiz de Fora (Saiba mais sobre a instituição).
O galpão da cooperativa, no bairro Parque das Torres, passa por reformas para melhorar as condições de trabalho dos catadores que vivem em situação de grande vulnerabilidade social, agora agravada pelo novo coronavírus. “Esperamos que esse projeto se torne realidade, pois o período das chuvas é também sempre um tempo de grande tensão para os catadores. A ideia é fortalecer o trabalho da associação, tão importante na coleta dos recicláveis de nossa cidade”, completa.
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