Palavrinhas mágicas A escola ensina a criança, mas o hábito da educação tem que ser reforçado em casa pelos pais. Educadores explicam como ensinar as crianças
*Colaboração
20/02/2008
Conseguir tirar um 'muito obrigado' ou um 'por favor' da boca de uma criança é uma missão impossível? Não, não é. É realmente uma tarefa difícil que necessita de dedicação diária, mas com carinho, cuidado e agindo em parceria com a escola, é possível deixar os pequenos educadinhos.
Palavras como 'por favor', 'obrigada', 'com licença', 'desculpe' e 'de nada' são peças fundamentais no vocabulário de qualquer indivíduo e devem ser ensinadas desde cedo, porque utilizá-las sempre é uma questão de hábito.
Professora de crianças entre quatro e cinco anos, Bela Pinto Martinho (foto abaixo) explica que, como seus pimpolhos ainda não conhecem as letrinhas, o trabalho é feito verbalmente.
"A gente ensina nas questões do dia-a-dia mesmo, não elaboramos uma didática
específica. O trabalho é direto com a criança. Se ela quer um lápis emprestado do
coleguinha, ensinamos a pedir 'por favor', se um faz um favor para o outro, ensinamos
a agradecer e assim vai"
.
A participação dos pais
Apesar de estar sempre atenta a essas questões, 'tia' Bela admite que com alguns
é mais fácil do que com os outros porque eles esquecem com muita facilidade, por
serem muito novinhos. "Tem que ficar recordando sempre e a participação dos pais
é fundamental nesse processo"
, diz.
Professora da mesma escola, mas atuando junto com crianças maiores, de seis anos, Adélia Saggioro reforça a importância da participação dos pais. Segundo a professora, se a criança não tem o reforço dessas palavrinhas mágicas em casa, fica difícil assimilar.
Ela diz que não é tão difícil ensinar uma criança, basta utilizar as palavrinhas sempre em situações cotidianas porque uma hora o pequeno vai se incomodar com isso e perguntar, nessa hora os pais têm que estar prontos para responder.



"Se cada vez que você pedir um copo d'água para seu filho, usar o 'por favor' e
depois o 'obrigada', vai chegar uma hora que ele vai te perguntar: 'por que você
fala sempre isso comigo?'Aí você explica que isso faz parte da educação. Criança
é curiosa por natureza. Isso sempre dá resultado"
, ensina.
O combinado não sai caro
Para que nada saia errado no decorrer do ano letivo, Adélia conta que, a cada início
de ano ela faz um combinado com os alunos. "São acordos que a gente faz, coisas
que eles devem e não devem fazer. São eles que escolhem o que entre nesse combinado"
.
Nesses combinados estão coisas como: não levantar fora de hora, não conversar dentro de sala, pedir por favor, dizer muito obrigada, entre outras questões de ordem cotidiana.
Segundo Adélia, essa tática é usada todos os anos e dá um excelente resultado.
"Cada vez que eles têm uma atitude que foge a esse combinado, reforço com eles
e eles se arrependem. Na medida em que foram eles próprios que escolheram e aceitaram
o combinado, não podem reclamar"
, conta.



Esses combinados depois de acertados ficam expostos na sala de aula com 'letra palito', que a que os alunos conhecem. Eles ficam em um lugar de fácil leitura onde eles possam estar sempre lendo para recordar.
Mas a idéia é estar sempre por perto para ensinar. "Tem que estar sempre reforçando,
senão não dá certo. E a melhor maneira de fazer isso é na hora em que eles são
autoritários ao pedir algo, quando esquecem de agradecer. É aí que pais e professores
têm que entrar para dizer que não é assim que faz"
.
A difícil arte de dizer obrigado
O pequeno Pedro Manuel (foto ao lado), garante que aprendeu direitinho as lições
de 'tia' Adélia.
"Eu sempre falo por favor quando peço um copo d'água para minha
mãe. E peço desculpas também quando falo palavrão"
, diz.
Adélia explica que 'desculpa' e 'por favor' são mais fáceis de serem ditas, mas o 'obrigado' é muito difícil de ser dito porque não é um hábito familiar.
"Não é comum as pessoas dizerem 'muito obrigada' dentro de casa, então, fica
difícil que a criança repita isso na escola, com os amiguinhos ou com os professores"
, justifica.
Outra barreira para que essa palavrinha mágica saia da boca dos pequenos é o fato de nem sempre eles perceberem que o outro está fazendo algo por eles. Nesses casos, é preciso que o adulto mostre o que está sendo feito e reforce a necessidade do 'obrigado'.
"Em alguns casos, eles até usam, mas em outros fica difícil eles perceberem que
é a hora de dizer. É preciso ficar atento"
.
Educar não é mesmo tarefa fácil, mas é possível formar adultos educados e conscientes com um pouquinho de dedicação e atenção aos hábitos das crianças. É preciso fazê-las entender que a grande magia dessas palavras é torná-las seres humanos melhores.
*Marinella Souza é estudante de Comunicação da UFJF