Mercado de trabalho cada vez mais difícil em Juiz de Fora Só nos cursos de Direito formam, por ano, mil bacharéis. O mercado de trabalho não acompanha a oferta e profissionais são obrigados a sair da cidade

Thiago Werneck
*Colaboração
30/04/2007

A vida do recém formado, em Juiz de Fora, está cada vez mais complicada. A cidade forma muitos profissionais por ano, novas vagas são criadas nas faculdades e a economia do município fica cada vez mais estagnada. Pior é que a capacidade da cidade de gerar riqueza reduziu e a economia não consegue absorver essa mão de obra, causando pressão sobre salários e fazendo com que muitos trabalhadores qualificados acabem saindo da cidade para ganhar a vida.

Só para se ter uma idéia entre os cursos mais concorridos, Juiz de Fora possui oito faculdades de Direito com mais de mil vagas por ano, em Comunicação Social são quase 700 vagas anuais. No curso de medicina, o mais procurado nos vestibulares, são 380 vagas/ano, o de fisioterapia 480 vagas/ano, enfermagem 580 vagas/ano e odontologia 200 profissionais forma por ano.

O economista, Jackson Moreira alerta que o excesso de formandos não causa o saturamento do mercado. "Criar vagas formar profissionais qualificados é ótimo para cidade, o problema em Juiz de Fora é que o mercado não absorve essa mão de obra. O investimento é mau feito e isso acaba minando o crescimento econômico do município", destaca.

 

Com os pés no chão
O estudante de medicina, Ervê Vasconcelos, vai formar só daqui a três anos, mas não vê futuro algum na profissão, em Juiz de Fora. "Não tem como ficar aqui. São três faculdades de medicina com gente formando a toda hora. A cidade já tem muitos médicos e a gente já sente que o mercado é muito restrito. Quando formar vou voltar para minha cidade", conta.

 

"Para quem faz Direito, ficar em Juiz de Fora só se tiver muita sorte. O mercado está fechado e advogar é complicado, a pessoa tem que ficar a caça de clientes ou entrar logo em um escritório de advocacia grande. A saída são os concursos, porque quem faz direito pode participar da maioria deles" avalia o estudante de Direito Rafael Guedes. Carolina

Esse conceito de que Juiz de Fora é apenas uma cidade Universitária é cada vez maior entre os graduandos. A estudante de comunicação, Carolina Vieira (foto ao lado), afirma que vai ficar na cidade, só enquanto for estudar."Quero fazer um MBA por aqui, mas quando me sentir preparada para o mercado devo deixar a cidade. Os jornalistas trabalham muito e ganham pouco e é difícil entrar no mercado. Por estar tão saturado acredito que não dão valor ao jornalista na cidade", acrescenta.

Realidade econômica de Juiz de Fora

Hoje, há um excesso de profissionais qualificados e a concorrência pelo emprego faz os salários ficarem baixos. "É um ciclo vicioso e que tende apenas retardar o crescimento da cidade. Juiz de Fora tem que mudar seu planejamento econômico, não dá para investir apenas no comércio e esquecer outros setores de maior renda. No último senso do IBGE, de 1999 a 2003, a cidade ficou em penúltimo lugar de crescimento econômico quando comparada as 20 maiores cidades do estado. E em 92º comparada com às cem maiores. Não é o aumento no número de vagas nas faculdades que incha o mercado de trabalho e sim a estagnação da economia da cidade", ressalta Jackson.

O economista defende que abrir mais vagas é um ponto positivo. "Quanto mais gente qualificada melhor. O mercado pede isso. O problema é que em Juiz de Fora, o comércio é o principal gerador de rendas, mas não gera renda para investimento. Dados do ministério do trabalho, mostram que em 2005 foram gerados, apenas 152 cargos com salário acima de R$ 1250, em Juiz de Fora. Dados inadmissíveis para uma cidade com cerca de 500 mil habitantes. A cidade precisa de um choque econômico que privilegie outros setores", completa.

Rafael Cury, analista de conjunturas A opinião do analista de conjunturas da UFJF, Rafael Cury (foto ao lado), também é de que Juiz de Fora está ficando para trás. "A cidade tem economia pequena e estagnada, enquanto outras cidades crescem. Juiz de Fora era uma pólo da indústria têxtil e de malharia e com a baixa do dólar e a forte concorrência vinda da China, essa área caiu e a cidade não tomou nenhum novo caminho para crescer", destaca.

Fatos como o grande número de alunos de outras cidades é um fator que ameniza a situação."Temos que considerar que Juiz de Fora é pólo educacional e muitos estudantes de fora vêm para cá. Por isso, as vagas das Faculdades particulares são mais ocupadas por pessoas da própria cidade. Boa parte dos estudantes da UFJF já fazem o caminho normal de abandonar retornar a sua cidade no fim do curso. Isso dá mais importância as vagas abertas pelas Faculdades Particulares, já que elas qualificam estudantes que são de Juiz de Fora.", completa Cury.

*Thiago Werneck é estudante de jornalismo da UFJF