Crimes sem castigo

Ailton Alves Ailton Alves 14/01/2008

Iber? Camargo costumava dizer que n?s, brasileiros, temos alma de escravo, por sermos cordiais demais, demasiado cordeiros - n?o os de Deus, aqueles que tiram os pecados do mundo. Fruto talvez da coloniza??o tosca e de ostentar o t?tulo de ?nico pa?s do mundo a comprar a sua independ?ncia. Acrescento - se o mestre permitir - que n?s, os torcedores, temos, al?m da p?ssima mem?ria, a alma submissa por aceitar, sem pestanejar, que o maior cargo de nosso futebol, o de t?cnico da sele??o brasileira, seja ocupado comumente por pessoas desqualificadas. Na hist?ria, para cada Feola, Saldanha ou Tel? Santana - humanistas, acima de tudo - surgem, infelizmente, um punhado de dungas. ? a tradi??o dos t?cnicos prepotentes, que passam pelo comando do escrete canarinho cometendo crimes sem castigo.

Foto montagem com as fotos de Zagallo, Dunga, Scolari e Luxemburgo At? onde a mem?ria pode alcan?ar, o primeiro a macular o cargo foi Zagallo. Primeiro, pela incompet?ncia: na Copa de 1974 tomamos um baile dos holandeses e o t?cnico confessou candidamente que n?o sabia que eles eram bons - todo o mundo j? conhecia o futebol-total da Holanda, tricampe?o europeu de clubes. Mais tarde, Zagallo soltou o brado s?mbolo da prepot?ncia: "Voc?s v?o ter que me engolir". Engolimos, na Copa de 1998, quando ele ficou naquele discurso ultrapassado de "p?tria de chuteiras" e "amor ? camisa amarela", e torrando nossa paci?ncia com a contagem regressiva para o penta - que afinal n?o veio.

Esse misto de incompet?ncia e petul?ncia, inaugurado por Zagallo, encontrou um fiel seguidor em Sebasti?o Lazaroni, o t?cnico (!?!) na Copa de 1990. Ningu?m me contou, eu vi e ouvi, certa vez, ele responder ao rep?rter que lhe perguntara como jogaria o Brasil: "De camisa, cal??o e chuteira". O resultado de tamanho despreparo e arrog?ncia? A pior participa??o do Brasil em uma Copa desde 1966.

Neste s?culo, a tradi??o dos t?cnicos afastados do povo come?ou bem, com o aristocr?tico Vanderlei Luxemburgo. Chamado para, nas Olimp?adas de Sidney/2000, dar ao futebol brasileiro o ?nico t?tulo que n?o possu?mos (a medalha de ouro ol?mpica), ele aproveitou o Sete de Setembro, Dia da Independ?ncia - ?poca ideal para pensar o pa?s e o mal que a elite causa - para fazer uma homenagem ? "p?tria do jeitinho". Disse, com todas as letras, que se ganhasse a competi??o queria todo mundo esquecendo as acusa?es contra ele. E eram muitas na ?poca: ass?dio sexual, sonega??o de impostos, tr?fico de influ?ncias... Menos mal que perdemos para Camar?es e n?o tivemos que perdoar nada.

Pouco tempo depois dessa proposta indecente, com a sele??o em apuros para se classificar para a Copa de 2002, surgiu "o salvador da p?tria" Luiz Felipe Scolari, um nome "imposto pelo povo" - segundo a imprensa comprometida e festeira. Era dif?cil concordar que ele poderia ser esse tipo de pessoa, com esse tipo de honra. Ex-zagueiro med?ocre, f? do ex-ditador chileno Augusto Pinochet, ser humano intrag?vel, adepto das "patadas", da antipatia estudada e das verdades relativas, Felip?o poderia ser tudo, menos representante do torcedor brasileiro, em sua maioria avesso a todas as suas principais caracter?sticas, acentuadas quando ele finalmente classificou a sele??o. A imprensa - festeira novamente - colaborou ao ignorar seus rompantes ditatoriais e deixar passar em branco sua tentativa de censura a um grande jornal de S?o Paulo.

Agora, temos Dunga, leg?timo representante dessa linha ditatorial de dirigir o escrete canarinho. Para quem n?o se lembra, ele ? aquele que, ao levantar a ta?a da Copa de 1994 (ganha de forma med?ocre, quando tr?s italianos perderam p?naltis), ofendeu os jornalistas - "tra?ras", por ousarem fazer cr?ticas. Pior que isso: como capit?o do time, Dunga liderou o "v?o da muamba", as tais 17 toneladas de bagagem dos tetracampe?es, que passaram longe da alf?ndega. O epis?dio, a prop?sito, foi efusivamente defendido por.... Zagallo, ? claro. Afinal, aqueles jogadores "honraram a camisa amarela ....".

Ailton Alves ? jornalista e cronista esportivo
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