Ailton Alves Ailton Alves 28/9/2009

Tudo que se ganha nessa vida é pra perder

Escudo TupiJá vi o Tupi perder uma ascensão – no caso para a Primeira Divisão das Gerais – dentro do Estádio Municipal Radialista Mário Helênio. Foi em 1997, agosto, se bem me lembro, num zero a zero dramático com o Nacional de Uberaba.

Já vi o Galo perder outra ascensão – no caso para a Segunda Divisão do futebol brasileiro – jogando no Mário Helênio. Foi também em 1997, novembro, eu me lembro bem, naquela que foi a mais dolorida das derrotas Carijós: 0 a 1 para o Sampaio Corrêa – no dia em que mais choveu em Juiz de Fora.

Faço isso, uma espécie de inventário de tragédias anteriores, porque no último final de semana, 2009, ouvi – não vi – o Tupi perder mais uma ascensão, agora para a Série C do Campeonato Brasileiro. Foi em Campos, derrotado pelo Macaé: 1 a 2.

Então, dito dessa forma, com as letras frias da cronologia, o Tupi e todos nós, que, contra tudo e contra todos, envergamos a camisa Carijó estamos fadados a nunca ascender, a jamais elevar a autoestima.

Mas, não. Dito de outra forma, com as letras quentes da paixão, tudo tem que acontecer. Talvez não haja uma espécie de maldição, que os fatos se encarregam de transformar numa verdade absoluta.

Se o que restou de um campeonato foi uma eliminação, nada podemos fazer. Não há culpa e, portanto, não há condenação. Não foi ninguém, não é ninguém, talvez nem Deus, quem escreve sempre esse destino.

Agora não adianta dizer que daríamos tudo para não ver o Tupi eliminado, seus torcedores chateados, alguns angustiados. Mesmo porque não temos nada a dar, tudo está além das nossas possibilidades. De nada vai valer se sentir como Atlas, a carregar o peso dos infortúnios nas costas – mesmo porque ninguém vai se importar.

Foi o mais belo dos campeonatos, e o Tupi produziu para as calendas os dois mais espetaculares momentos da sua existência, num extraordinário caso de amor – quase clandestino, é verdade – com a bola, a vitória e a sensação de ser especial. Conquistou demais, ganhou muito, mas, desde que o mundo é mundo, tudo que se ganha nessa vida é pra perder.

Se tudo ruiu de repente, se o Galo viveu, neste campeonato em particular e desde sempre por destino, pisando em ovos, no fio da navalha, na tênue linha entre a euforia e o desastre, é porque o deus da bola assim o quer.

Se não tivéssemos perdido aquele jogo contra o Madureira... Se não tivéssemos deixado o Macaé empatar no último minuto daquele primeiro dos quatro jogos contra a equipe fluminense... Se o nosso goleiro não tivesse cometido aquele erro infantil na decisão...S e nada disso tivesse acontecido não seríamos o Tupi e sim um time comum. E isso – fracassos renitentes à parte – nunca queremos ser.

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Escrever dói, sempre doeu. E tem dias, como hoje, em que só é possível porque alguém já o fez – no caso, Sérgio Sampaio e sua inesquecível canção sobre o destino: “(...) tem que acontecer, tem que ser assim, nada permanece inalterado até o fim (...)”.

 



Ailton Alves   é jornalista e cronista esportivo
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