Baixo índice de geração de empregos em Juiz de Fora gera preocupação nos setores

Economistas afirmam que é preciso investir e propor novos modelos para impulsionar a contratação

Eduardo Maia
Repórter
29/07/2014
Carteira de Trabalho

O saldo negativo da criação de empregos no primeiro semestre de 2014 tem preocupado economistas e setores ligados à contratação de mão de obra. A queda de 502 postos de trabalho demonstra um baixo índice em relação ao mesmo período de 2013, quando foi registrada a criação de 1.954 novos empregos. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE).

Dos quatro setores que mais empregam no município, três  acompanharam o saldo total, fechando em queda: o setor de serviços fechou com índice negativo de 682 postos contra 1.752 criados no ano passado. No comércio, o índice teve uma leve ascensão, mas permaneceu dentro da margem deficitária, de 887 para 720 negativos. Na construção civil, foram 538 pessoas empregadas, número inferior aos 735 registrados no primeiro semestre de 2013, enquanto na indústria de transformação o número de postos criados caiu de 433 para 298.

Na visão do coordenador dos cursos de Economia e Administração das Faculdades Integradas Vianna Júnior, Sílvio Reis de Almeida, a queda é atribuída a dois fatores. Um deles é a carência de mão de obra qualificada no níveis médio e técnico, refletindo inclusive na oferta de salários mais robustos. O segundo é que Juiz de Fora começa a sentir os reflexos de desaquecimento das economias nacional e internacional.

"Tanto a conjuntura nacional quanto a internacional não favorecem o cenário da economia. E Juiz de fora não tem uma base tecnológica, ainda é basicamente de serviços e de construção civil. Isso vai impactar em salários mais baixos, na falta de atrativo para que os formados permaneçam na cidade. Há outros polos de excelência e Juiz de Fora, que tem uma localização favorável, ainda paga salários baixos, não agregando valor à produção de conhecimento e inovação. Todas essas variáveis repercutem nos salários e emprego", explica o economista.

"É preciso empreendedorismo"

Para Almeida, é necessário que o empresariado deixe de lado o "conservadorismo" e passe a realizar novos investimentos. "Falta empreendedorismo aos empresários de Juiz de Fora. Os empresários questionam 'Como concorrer com a China, se a compra no comércio eletrônico e chega em casa muito rápido?'. É preciso inovar. Os empresários, de maneira geral, não querem arriscar, só arriscam se o Estado estiver junto, quando estão amparados por um financiamento de BDMG ou BNDES. Quem arrisca é somente o microempresário, que pega recursos do seu fundo de garantia e cria um pequeno negócio. Mas, o médio e grande empresário só investe se o Estado entrar como sócio", critica.

O presidente do Sindicato do Comércio de Juiz de Fora (Sindicomércio-JF), Emerson Beloti, observa uma retração dos negócios desde o principio do ano, comprovada pela dificuldade de atingir as metas. Ele justifica a situação em razão dos altos juros cobrados aos empresários e consumidores e enfatiza a necessidade de uma reforma tributária que permita ao empresário realizar novos investimentos.

"As empresas são muito tributadas, cheias de obrigações acessórias, que exigem mais investimentos dentro da empresa e acaba canalizando em mais concentração do que descentralização de recursos. O empresário não está suportando mais os altos tributos. Nós temos que fazer com que nossos representantes tenham compromisso com uma reforma tributária, porque o fardo pesou para empresas, está muito difícil. O empresariado está fazendo muitas contas, o dinheiro não entra", relata.

Beloti acredita que o segundo semestre possa ser mais favorável, permitindo novos investimentos. "O empresário investe conforme a situação. Nós acreditamos que será melhor, mas os fatores de hoje continuarão no primeiro semestre. A diferença que o empresário irá vender um pouco mais. A previsão é para que no ano que vem, o desempenho seja ainda mais fraco e isso vai depender de vontade política", reforça.

Secretário acredita em melhorias no cenário

Seguindo a mesma expectativa de uma leve recuperação do comércio e serviços no segundo semestre, o secretário de Desenvolvimento Econômico da Prefeitura de Juiz de Fora, André Zuchi, explica que também há outros investimentos que possibilitarão reverter o cenário, principalmente a partir de 2015.

"A economia nacional está num processo de desaquecimento e este ano isso se agravou. Como somos uma cidade polo, que tem um setor comercial e de serviços muito forte, sentimos um reflexo nacional. Temos alguns fatores positivos como a entrada em operação do Shopping Jardim Norte e de algumas empresas que passarão a contratar a partir do ano que vem, o que deve melhorar a situação", prevê.

Sobre os números do Caged, Zuchi atenta para fatores como a mobilidade das pessoas, mas considera preocupantes os maiores registros de demissão em comparação com os de admissão.

"Infelizmente há um número maior de demissões. Ainda não representa um cenário de desemprego, mas no curto prazo, isso naturalmente vai desaguar na redução da taxa de emprego. Mesmo assim, a gente nota que a economia cresce um pouco. O cenário internacional influencia, mas a matriz adotada pelo governo federal tem uma data para exaurir, o endividamento das pessoas está no limite. É preciso refazer essa matriz e dar foco nos investimentos", propõe.

Evolução do Emprego por Nível Setorial em Juiz de Fora JAN-JUN/2014
SETORES TOTAL ADMISSÕES TOTAL DESLIGAMENTOS SALDO VARIAÇÃO EM %
Extrativa Mineral 15 14 1 0,71%
Indústria de Transformação 5.013 4.715 298 1,40%
Serv. e Ind. de Utilidade Pública 164 115 49 5,08%
Construção Civil 4.766 4.228 538 5,30%
Comércio 9.987 10.707 -720 -2,30%
Serviços 17.324 18.006 -682 -0,92%
Administração Pública 2 15 -13 -0,42%
Agropecuária 220 193 27 2,42%
Total 37.491 37.993 -502 -0,35%

Fonte: CAGED - MTE


Evolução do Emprego por Nível Setorial em Juiz de Fora JAN-JUN/2013
SETORES TOTAL ADMISSÕES TOTAL DESLIGAMENTOS SALDO VARIAÇÃO EM %
Extrativa Mineral 11 13 -2 -1,33%
Indústria de Transformação 5.180 4.747 433 2,11%
Serv. e Ind. de Utilidade Pública 69 78 -9 -0,92%
Construção Civil 6.132 5.397 735 6,36%
Comércio 10.363 11.250 -887 -2,79%
Serviços 19.295 17.543 1.752 2,44%
Administração Pública 1 5 -4 -0,31%
Agropecuária 188 252 -64 -5,31%
Total 41.239 39.285 1.954 1,40%

Fonte: CAGED - MTE

Gráfico 1

Gráfico 2

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