Escritora juizforana, residente na Suíça, lança livro de mistério e terror, com pitadas de paranormalidade e drama
Chico Brinati
Repórter
13/09/05
ACESSA.com - Marilza, você é juizforana e saiu daqui para viver na
Europa. Como era sua vida em Juiz de Fora? Tem alguma lembrança boa da
cidade natal?
ACESSA.com - Por que você foi para a Suíça?
ACESSA.com - Quais são as suas influências literárias?
ACESSA.com - Esse tipo de literatura é escasso entre os autores
brasileiros, são poucas as obras nesse estilo. A quê você atribui isso?
ACESSA.com - O que te levou a escrever "Marie Louise"?
ACESSA.com
- Ele foi escrito originalmente em qual língua? Num site de
vendas pela Internet está como literatura estrangeira...
ACESSA.com - É o seu primeiro livro? Está planejando escrever outro?
M. L. Wilson - Marie Louise foi o primeiro a ser lançado, numa
tiragem independente por ser o mais simples. Mas tenho outros dois escritos
que precisam de uma adaptação na Inglaterra. Na Suíça falta o palco de ação
necessário para o enredo. Estou na dependência de encontrar uma editora para
Marie Louise no Brasil, para poder passar uma temporada na Inglaterra. À
distância é impossível ficar cuidando dele, dificulta muito o processo de
divulgação e livraria.
Nascida no bairro Fábrica, "no seio de uma família simples, mas com
pretensões", filha de um mecânico com uma dona de casa, a juizforana
Marilza Limas Wilson, hoje, é uma escritora de renome internacional. Autora
do livro "Com quem está falando Marie Louise?" (um thriller
de mistério e terror, com pitadas de paranormalidade e drama), ela respondeu
às perguntas da equipe da ACESSA.com por email, diretamente da Suíça.
Conheça um pouco sobre essa juizforana:
M. L. Wilson - Várias. Algumas ficaram realmente na memória. Do
casamento da irmã mais velha, a tia e primas me passando de colo em colo,
chamando-me por um apelido adocicado de criança. Deveria ter uns dois anos
na época. Recordo-me ainda da minha mãe estufada como um bolo fofo,
corrigindo-me a leitura que fazia em voz alta dos anúncios comerciais do
bonde que ia para a fábrica. Ela dizia aos passageiros sentados ao lado:
"ela só tem cinco anos, mas já sabe ler". Certa vez, eu quebrei um galho de
rosa do pé do jardim do Museu Mariano Procópio, para levar a uma professora
do Grupo Antônio Carlos. Na ocasião já morávamos no Bonfim. O jardineiro
aborrecido seguiu-me até a escola e se queixou, naturalmente. A diretora ouviu a reclamação displicente, enquanto, a professora que
recebeu a rosa fez um escândalo danado, mandou até chamar a minha mãe.
M. L. Wilson - Sempre quis morar na Europa, a cultura, a
independência me atraía. Principalmente a cultura italiana me despertava
enorme interesse. O Brasil era um país que estabelecia limites às mulheres,
após viver nele um determinado tempo, a necessidade de se estender além,
aparecia. A Europa vive em eterno movimento, é o centro dos acontecimentos.
Quando cheguei na Suíça em 1977, encontrei o país das maravilhas. Pegava-se
num jornal hoje, e dizia: "amanhã eu vou começar a trabalhar". Indiferente
ao país de origem, tudo se arranjava imediatamente, sem problemas. Quando íamos
embora da firma, o patrão ficava zangado conosco, em razão de não ter outro
para colocar no lugar. Observando ainda, que nessa ocasião o povo suíço
ainda gostava de nós. Éramos recebidos de braços abertos. Hoje em dia, por
causa do tipo de brasileiros que invadiram a Suíça, a situação mudou. ACESSA.com - Como a literatura entrou na sua vida?
M. L. Wilson - Eu li um livro, que acredito que quase ninguém leu.
Parece incrível, tinha apenas nove anos. Nessa idade, já fazia perguntas a
respeito da morte. Freqüentava enterros, velava os mortos da vizinhança a
noite inteira e passeava pelos cemitérios. Um dos meus preferidos era aquele
da entrada e saída da cidade. Conhecia quase todas histórias de assombrações
contadas no interior. Na Suíça, os defuntos não são cuidados em casa, em
Juiz de Fora, antigamente, sim. Criava-se um laço profundo em relação ao
morto. Desenvolvi uma imensa curiosidade a respeito. Certo dia, sentada no
jardim do Museu Mariano Procópio, (eu gostava de passear lá) refletia
profundamente a respeito do sofrimento e da morte, quando olhei ao lado e
encontrei um livro no banco. Chamava-se "A Dor Suprema de Victor Hugo". Uma
obra de difícil leitura para a criança que eu era. Embora não seja dada a
crendices, o achado constitui um mistério até hoje. Como fora parar
justamente ali, no momento em que meu cérebro bombardeava-me com perguntas?
Certamente eu compreendi pouco a respeito do tema na ocasião. Contudo, se
abriu uma porta mostrando-me uma palavra desconhecida: reencarnação. Assim a
literatura entrou na minha vida.
M. L. Wilson - É difícil responder. Meu conceito sobre literatura é
um emaranhado de influências. Gosto de uma infinidade de autores, clássicos
ou modernos. Desconheço o preconceito, seja de época ou nacionalidade,
inclusive gênero. Alguns certamente contribuíram, ainda irão colaborar
fornecendo parcelas de sua genialidade no meu modo de criar, sentir a
literatura, enraizando-a no perfil do meu ideal. A obra máxima de D.H.
Lawrence, "Mulheres Apaixonadas", desempenhou uma espécie de chave de ouro,
influência decisiva. Talvez, dado ao fato de ter sido lido cedo por mim. A
linguagem saborosamente bem delineada, romanesca e eloqüente,
entusiasmou-me. Numa época de intelectuais, Birkin foi meu primeiro
inconformista. A necessidade de novas dimensões de sentimentos encontrada
nele, incentivou-me a buscar o incomum, emprestando-me bastante liberdade na
arte de ser. Lawrence, paralelo a diversos autores, comprova que grandes
romances jamais precisam necessariamente desenvolver seus enredos em grandes
cidades. Concedo, também, uma atenção especial à literatura russa. É uma das minhas
preferidas. Alguns títulos são tão sugestivos (Almas Mortas, Os Demônios, O
Idiota), é difícil resistir à tentação. Dostoiévski mostrou-me o inferno. A
paixão, o desespero dos seus personagens pode levar-nos ao êxtase. Na
literatura da língua inglesa, começo com Shakespeare. Escritores da
categoria de Henry James ocupam um espaço de destaque nas minhas estantes.
Examino freqüentemente suas obras. Tenho afinidade com Edgar Allan Pöe.
Sentimos o mesmo interesse mórbido, um fascínio especial pela morte e o
mundo sobrenatural. Existe ainda a maravilhosa literatura francesa. Enfim, o
universo esta repleto de gente criativa, precisa-se realmente ser forte. Do
contrario cairemos nas suas influências. Contudo, é certo que seguirei o meu
próprio estilo. Não desejo compromissos com gêneros, sequer monumentos.
Apenas aquele de escrever cada vez melhor, se possível. Afinal, a prática
faz o mestre.
ACESSA.com - Você escreveu um livro que os críticos chamam de "470
páginas que incomodam", pelo alto grau de perversidade, suspense...
M. L. Wilson - Penso que meus amigos críticos assustaram-se demais.
Não esperavam, certamente, que uma mulher pudesse escrever um livro de
tamanha ação e suspense, ainda por cima brasileira e mineira. Mesmo na
América do Norte, este gênero pulsante de thriller costuma ser
exclusividade masculina. O homem geralmente apavora-se ao perceber a
criminalidade e violência que certas mulheres podem desenvolver, mesmo sendo
apenas mental. A perversidade em Marie Louise não é espontânea e
animal, mas calculada, fruto de um caráter humano degenerado, cuja cobiça
desconhece limites. Nada perdoa, sequer os inocentes. É a intenção primeira
do livro, apontar a decadência dos valores morais atuais, não apenas
masculino, igualmente feminino. Marie Louise incomoda sim.
M. L. Wilson - Pessoalmente nunca soube da existência de uma obra
neste estilo, mas gostaria de conhecer alguma. Temos notado no nosso site,
que o brasileiro sequer se atreve a tentar escrever o livro de mercado. É
medo naturalmente, ainda orgulho e falta de informações. Verificamos na
internet, não encontramos cursos no Brasil e sites que orientassem a
escrever livros do gênero de Best-Seller internacional. Programamos um para
poder ajudar, faríamos um exame geral de várias obras importantes,
esclarecendo estruturas e métodos usados, começando por cima. Autores como
Thomas Harris, Umberto Eco, David Seltzer, Mario Puzo etc. Recebemos uma
quantidade enorme de e-mails de novos escritores, a maioria com nível de
instrução superior e boas idéias. Contudo, despreparados totalmente,
tivemos que descer ao nível humilde de "Um Morto ao Telefone", de John
LeCarre, o pior livro que ele escreveu. O problema primeiro chama-se orgulho
e vaidade. Muita gente acredita que diplomas fazem um autor, certamente
ajuda. Mas fosse o caso, todo professor de literatura seria um escritor.
Desse modo, nos vimos confrontados com a famosa frase de Vince Lombardi:
"Todos possuem a vontade de vencer, mas poucos possuem a vontade de se
preparar para vencer".
M. L. Wilson - Faço parte de um grupo de autores que se reúne faz
anos na Suíça. Quase todos moram na Europa, principalmente nos países
alemães. No início ignoramos a questão, mas depois começamos a nos preocupar
e a debater sobre a obscuridade dos brasileiros no mercado de livros
mundial. Resolvemos, então, seguir uma linha de "produção" de Best-Seller.
Houve muita gente audaciosa, que via no ramo internacional um futuro
promissor, propondo até que escrevêssemos o gigante de mercado, aquele livro
que arrecada 25 milhões de dólares pelos direitos de ser filmado na América.
Respirando fundo, começamos a trabalhar nas obras.
ACESSA.com
- Qual foi a sua inspiração? Foi baseada em alguma situação de
sua vida?
M. L. Wilson - Alguns anos atrás, surpreendi a Christina Onassis
saindo de uma joalheria em Paris, na Praça Vendôme com a pequena Athina
Onassis na época. Ao ficar decidido definitivamente que escreveríamos o
livro de mercado, estava sem a menor idéia sobre o tema abordar. Na mesma
semana encontrei uma foto da menina numa revista alemã, quando era criança e
perguntei-me: o que teria acontecido se ela tivesse perdido também o pai,
rica como era? Assim nasceu Marie Louise, que dela tem apenas a riqueza.
M. L. Wilson - Provavelmente esta havendo um mal-entendido, dado ao
nome supostamente estrangeiro, mas Wilson é internacional (no livro ela
assina M. L. Wilson). Ele foi escrito
em português. Todos nós já tentamos escrever em alemão, idioma que nos
facilitaria a lançar um livro aqui. Conhecemos editores, temos amizades nos
jornais, a dinâmica de trabalho é completamente outra, no Brasil tudo é
difícil.
ACESSA.com - Fale um pouco do livro.
M. L. Wilson - Marie Louise foi escrito na categoria de policial de
horror e suspense, o tema tem prioridade no cinema atual americano. O
sucesso de "O Exorcista" e "A Profecia" abriu várias portas. A Suíça como um
país montanhoso oferecia o cenário ideal para a estrutura do livro, algo
indispensável numa categoria de mercado que todos propõem escrever.
Lembrando ainda que, quem trabalha e depende do emprego para sobreviver, é
importante não precisar se mover do lugar onde mora. Esse é um dos maiores
problemas encontrado por meus amigos nas suas obras, e nas minhas duas
primeiras. Assim, trabalhei simplesmente na mesma idéia de Stephen King, ele
deveria ter tido pouco recurso financeiro ao escrever "O Iluminado".
Contudo, ele criou uma estrutura simples no livro, que poderá facilitar a
primeira obra de vários autores. Marie Louise é sim, superior. Mas deve-se
ao fato de seu sistema ter servido de modelo para o meu, auxiliando-me. No
momento, vários amigos pretendem usar Marie Louise como exemplo. Entretanto,
devem considerar que o molde vem do Iluminado. Conteúdo Recomendado