Eminência Parda Nascida na década de 80 e com os pés fincados nos anos 70, a banda ultrapassa gerações e conquista público cada vez mais variado
Colaboração
19/11/2007
O ano era 1986. O cenário era a boemia juizforana, especificamente, o bar Aconchego, onde um violão circulava pelas mesas e aproximava jovens pela música. Os personagens? Quatro meninos apaixonados por rock, MPB e anos 70. Os elementos que fazem parte deuma história que ainda está acontecendo e ultrapassa as barreiras do Estado.
A banda Eminência Parda surgiu da afinidade entre quatro jovens que, juntos, fizeram vários shows com composições originais e, por motivos diversos, acabaram se separando. Outros músicos juntaram-se ao grupo que teve várias caras, até chegar ao que eles chamam de formação clássica, no início dos anos 90.
Guilei (contrabaixo), Marcelo Panisset (bateria), Danniel Goulart (guitarra e vocal) e Luíz Lima (percussão e vocal) foram agregados à banda em momentos diferentes, atendendo às necessidades do grupo que, da formação original, conta com Edson Leão (vocal) e Weley Carvalho (guitarra).
Juntos, eles compõem essa formação clássica que aliou ao projeto autoral,
que já existia no Eminência, releituras dos artistas que influenciaram a banda.
Nomes como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Clube da Esquina, Alceu Valença, Zé Ramalho,
Ednardo, Mutantes, Secos e Molhados, Raul Seixas e "o inevitável Chico Buarque
de Holanda"
, como diria o vocalista, Edson Leão passaram
a fazer parte do repertório do Eminência Parda.



Novo CD da banda
Mais madura e consciente de suas virtudes, a banda lança seu terceiro cd no próximo
dia 21 de novembro. 'Impressões de Viagem - Brasil 70' traz releituras do rock dos anos 70 além
das composições particulares.
Além de comemorar o 21º aniversário do Eminência Parda, o cd vem coroar o público
que há muito vem cobrando um trabalho com esse perfil. "A gente sempre tocou
essas músicas nos shows, mas nunca pensamos em gravá-las, até que as pessoas
começaram a nos questionar quanto a isso"
, conta Edinho.
O vocalista conta que esse cd já existia no formato demo, como uma forma de memória
da banda. "Começamos a perceber que com o passar do tempo, perdíamos alguns arranjos,
então passamos a gravá-los, quando começou a cobrança, resolvemos tirar essas gravações
da gaveta"
, explica.
O resultado será conferido em um espetáculo que vai além da música. Há
todo um cuidado cênico para que o público entre em um túnel do tempo quando chegar
ao teatro. "O cd é um tributo à produção musical da década de 70, o show
terá uma ambientação especial para que as pessoas possam mergulhar nessa época que
é tão importante para o Eminência"
, orgulha-se o vocalista.
Para conseguir o efeito desejado, a banda contou com o talento da artista plástica Valéria Faria que ficou responsável-além da arte do cd- por criar figurino e cenário que fizessem referência ao período.
Será realizado um trabalho de projeção de imagens da época, de artistas que marcaram o cenário cultural setentista. Além disso haverá uma exposição de vinis e literatura da época e um coquetel tropicalista.
O Eminência Parda contará com alguns artistas locais para dar um toque especial ao evento. Lúdica Música, Nanda Cavalcanti, Ricardo Capra, vocalista da Banda Zona Blue, Ângelo Goulart, do Sambavesso e Francisco Bustamante são os coadjuvantes que pretendem dar um brilho a mais nesse espetáculo que promete ser uma viagem cultural através do tempo.
Um pouco mais de história

Segundo Edinho, esse foi um dos momentos mais marcantes da história da banda.
"O lançamento do 1º cd serviu para mostrar nossa sintonia com o público e isso nos
surpreendeu muito. A gente vinha tocando de uma maneira alternativa e de repente
conseguimos lotar o teatro. Foi muito bom", relembra ele.
Com o objetivo de colocar em prática o lema punk 'faça você mesmo', o Eminência
contribui para a cultura da cidade. "Nossa atuação em Juiz de Fora não é só como
músicos, somos parceiros de movimentos culturais que visam melhorar a dinâmica
cultural da cidade"
, conta Edson.
O músico garante que o sucesso da banda se dá porque eles mantém a essência. "Passamos
por momentos diferentes, mas o foco sempre foi a música dos anos 70. A banda procura
trabalhar na fronteira entre o rock e a MPB pós- tropicalista e isso agrada nosso
público"
.
Edinho, como é conhecido, conta que o público do Eminência é bastante variado e
aposta na internet como responsável por isso. "Nosso público é composto por
pessoas da nossa geração e por jovens que, com as facilidades da internet estão
redescobrindo os anos 70"
.
A paixão pelos anos 70 é o amálgama que une os seis integrantes do Eminência Parda.
"Cada um tem uma influência musical particular, mas todos temos essa ligação especial
com os anos 70 e quando tomamos consciência disso, nosso trabalho ficou melhor"
, conta Edinho.
Mas o músico revela que a banda já cedeu aos encantos do boom dos anos 80,
mas com uma roupagem particular, sem cair no que Edinho acredita ser caricatural
demais. "As pessoas não estão preocupadas em valorizar o que existiu de mais
forte nos anos 80 que é a poética. O som dos anos 80 era básico, apenas quatro
acordes, mas com referências à literatura e isso é mais marcante do que o He-man"
, acredita.
Segundo Edinho, é impossível negar a influência dessa época no trabalho do Eminência
porque a banda surgiu nos anos 80, mas naquela época, Juiz de Fora apresentava um
projeto musical diferenciado do que acontecia no resto do país. "Nossa liberdade
musical era bem maior, enquanto o resto do país fazia um som 'quadradão', nós abusávamos
da criatividade, muitos acordes, arranjos peculiares"
, relembra orgulhoso.
Para Edinho, a banda oitentista Picasso Falsos é a chave do caminho que o Eminência
Parda seguiu."Eles misturavam a poética dos anos 80 com a sonoridade tropicalista,
isso tem muito a ver com o que queremos"
, explica o vocalista.