A Prefeitura emitiu uma nota nessa terça-feira, 23 de março, em que os médicos infectologistas são unânimes na defesa da intensificação das medidas de isolamento social no momento em que todo o país vive o auge da pandemia da Covid-19.  “Abre-se dez e ocupa-se dez. É como enxugar gelo”, alertou o chefe da Unidade de Tratamento Intensivo (UTI-Covid) da Santa Casa de Misericórdia, Eduardo Borato. Ao constatar a gravidade da situação, a prefeita Margarida Salomão antecipou-se ao Estado e decretou lockdown na cidade em 7 de março. O governador faria o mesmo em todo o estado no dia 11. Também decretaram lockdown São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia, Goiás, Paraíba, Ceará, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal.

A Sociedade de Medicina e Cirurgia de Juiz de Fora, o Conselho Regional de Medicina de Minas Gerais e o Sindicato dos Médicos de Juiz de Fora e da Zona da Mata divulgaram manifesto no qual ressaltaram “quão imperativa e urgente é a necessidade de que, neste momento atual, intensifiquemos as intervenções que comprovadamente têm eficácia para controle da transmissão viral: o distanciamento social e a vacinação”.

O médico Eduardo Borato afirmou que deve-se atuar na causa raiz do problema: a falta de isolamento social. Borato se diz preocupado ao ver pessoas nas ruas, ignorando orientações das autoridades sanitárias. “Parece que o pânico do início da pandemia passou na cabeça de alguns. Todo mundo perdendo parentes, pessoas próximas, e alguns nem acreditam na doença.”

A atual fase é a pior desde o início da pandemia, quando a Santa Casa montou a UTI Covid. “Estamos vivendo as consequências do Natal e do Ano Novo, período no qual houve um certo relaxamento da população”, disse. Borato lembra que o lockdown na cidade foi decretado há quase 15 dias e o número de atendimentos de casos suspeitos na emergência tem sido representativo, pois a enfermaria está cheia e a UTI trabalhando no limite. O médico informa que os pacientes têm chegado em estado muito grave e que a mortalidade na terapia intensiva é alta. A equipe da Santa Casa tem conseguido salvar vidas, mas ele pondera que os pacientes saem com algumas sequelas permanentes. “Eles demoram muito tempo para alcançar a qualidade de vida e a condição clínica que possuíam antes de ter a Covid”, afirmou.

Vírus mais contagioso

A P1, uma das variantes do coronavírus detectada em Juiz de Fora por estudo realizado por pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), possui potencial de transmissibilidade muito maior. Ela foi identificada em Manaus, que teve alta elevação no número de contaminados.
O infectologista Guilherme Côrtes Fernandes afirma que o protocolo sanitário adotado pelo governo de Minas não é suficientemente eficaz para controlar o avanço desse vírus. As principais orientações do protocolo são uso de máscara, álcool gel e distanciamento de dois metros entre as pessoas.

Ele entende que Minas e todo o país deveriam ter investido em ações de vigilância epidemiológica. A detecção dos casos, isolamento dos infectados, quarentena dos contactantes e intensificação do isolamento social foram considerados essenciais para quebrar a cadeia de transmissão. O infectologista explica que não há flexibilização segura sem evidências claras de diminuição do contágio por, pelo menos, duas semanas com restrições mais intensas, como acontece neste momento. Ele observou uma preocupação muito grande dos governantes com danos à economia e pondera que se houvesse controle da transmissão viral, os reflexos negativos teriam sido menores. “Quanto mais longa a epidemia, pior para a economia”, avaliou.

Mortalidade alta nas UTIs

A dinâmica da infecção pela Covid geralmente implica em queda da oxigenação com complicações respiratórias. O infectologista Marcos Moura, da Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Saúde (SS), informa que 10% dos contaminados se transformam em casos graves que necessitam de intubação em UTIs, onde a mortalidade é altíssima.

O médico informa que os leitos de UTIs são escassos e que aproximadamente 80% dos destinados a Covid-19 são pactuados, o que significa que não são permanentes. A grande ocupação de vagas pelos contaminados faz com que faltem vagas para pacientes, como vítimas de acidentes de trânsito, alertou.

Moura faz um alerta ao citar matéria divulgada pela BBCNews, em 19 de março. O texto informa que 80% dos pacientes brasileiros que necessitam de ventilação mecânica invasiva (intubação) morrem. O levantamento avaliou cerca de 163 mil internações de pacientes com Covid-19 entre 15 de agosto e 31 de dezembro de 2020. Os dados foram obtidos pelo sistema SIVEP-Gripe do Ministério da Saúde (MS).

Insumos em falta

Outra grande preocupação das autoridades da saúde é quanto ao risco de falta de insumos para intubação de pacientes. O avanço da epidemia aumentou a demanda pelo chamado kit- intubação e há receio da falta, principalmente de sedativos.

A Secretaria de Saúde (SS) de Juiz de Fora faz o monitoramento constante dos produtos médicos e farmacêuticos para o combate à Covid-19 utilizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A SS está atenta à situação e de forma semelhante ao externado pelos órgãos e autoridades nacionais, vê com preocupação o atual cenário. A dificuldade para aquisição desses insumos no mercado nacional pode ocasionar o desabastecimento em curto prazo.

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