A religião chega pelo rio

Os 150 anos da Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar

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Oficialmente, a vida católica em Gaspar começa em 25 de abril de 1861. Portanto, daqui a dois dias, na próxima segunda-feira (25), a comunidade religiosa comemora o sesquicentenário (150 anos) de criação da Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar.  As festividades serão tímidas (leia na página 7), sem muito luxo, característica dos padres da Ordem de São Francisco que por volta de 1890 desembarcaram na região para assumir o trabalho pastoral da Igreja Católica na comunidade até o dias atuais.
A vida religiosa na colônia, no entanto, começou antes da instalação da Freguesia e a fixação do primeiro religioso em nossas terras, padre Alberto Francisco Gattone. De maneira tímida, é bem verdade, conforme descreve Frei Elzeário Schmitt (1911-2010) no livro “158 Anos - Nas Malhas da História. A assistência religiosa à comunidade vinha de Itajaí, onde o Curato Santíssimo Sacramento tornou-se freguesia em 1833. Na época, a direção eclesiástica era do bispado do Rio de Janeiro. Acredita-se que o primeiro padre a ter subido o rio Itajaí até Gaspar, foi o espanhol Francisco Hernando. Segundo os relatos históricos ele residiu em Itajaí de 1843 a 1845.
As fontes eclesiásticas desse período não confirmam se o padre espanhol visitou os colonos do Pocinho e do Belchior. Um padre das Ilhas Canárias, que residia em Penha, também pode ter sido o primeiro religioso a pisar nas terras do Pocinho por volta de 1850. O seu primeiro nome era Francisco.

Comunicação
Havia, nesta época, dificuldades de comunicação. Mas, mesmo assim, a proximidade do Litoral trazia vantagens. A localização relativamente favorável das colônias do Pocinho e do Belchior, da qual nasceu a Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar, permitiu que os colonos, em geral, não sentissem tanto a falta de pastores como acontecia em outras regiões do Estado. Os desafios eram gigantes na época, não tendo a comunidade muitas opções para se locomover pelo Rio Itajaí-Açú. De Blumenau até Poço Grande, já em 1860, existia um caminho, mas de lá até Itajaí, até depois da enchente de 1911, só havia, uma trilha estreita, por entre a vegetação, que acompanhava a margem do rio.

Schramm reunia famílias para o culto

Fé e esperança. Se fosse para escolher duas palavras para definir a vida religiosa das primeiras famílias que aqui chegaram, provavelmente seriam estas. O percursor de todo este movimento que culminou com a fundação da Freguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar foi o imigrante Frederico Guilherme Schramm com sua esposa Gertrudes Kemperdick e cinco filhos, um irmão e duas sobrinhas. Desde que pisou o vale, Schramm iniciou visitas às famílias, convidando-as para reuniões de culto religioso. Os cultos aconteciam em três casas diferentes: nas residências de João Klock, Nicolau Rausch e Nicolau Deschamps, sucessivamente, aos domingos e dias santos. O começo, portanto, da comunidade católica em Gaspar foi no ano de 1850. As primeiras famílias se reuniram pela primeira vez em uma igrejinha localizada na margem esquerda do rio em uma quinta-feira santa. Graças ao pioneirismo desta comunidade, foi possível, 11 anos mais tarde, em 1861, criar aFreguesia de São Pedro Apóstolo de Gaspar. A igrejinha da margem esquerda não teve padre na inauguração, mas veio um de Itajaí, para a primeira missa ali. Em uma carta, escrita pelo filho de Frederico Guilherme Schramm, João Schramm,  e publicada no livro escrito por Frei Elzeário, ele diz: “na memória da igreja no Brasil, talvez fosse esta, em sua pequenez, pobreza e miserabilidade, uma singular e extraordinária “igreja matriz”; pois quando da criação da paróquia, em 1861, ainda não havia outra..”Igreja matriz” , quase choupanha”.