Geração fast-food do games
SPOILER: O texto de hoje terá tons de "velho saudoso". Estejam avisados.
Saudações, intrépidos desbravadores do mundo dos games! Fazia algum tempo escrevia um texto mais reflexivo sobre o mundo dos games, me limitando mais aos reviews – que foram MUITOS, nesse último mês – e aos comentários pré e pós E3. Tendo dito isso, achei melhor viajarmos juntos para um dos cantos mais controversos do Universo Gamer: A dificuldade
Desde os temos mais remotos deste universo, existiu o fator dificuldade. Não se pode dizer ao certo o que ele visava definir, mas conseguia distinguir um "público-alvo", por assim dizer. Enquanto os jogadores menos afincos preferiam os games mais simples e fáceis, os gamers mais hardcore, aqueles que erroneamente são chamados de "viciados", preferiam os games mais difíceis. Fechar um game, de Nintendinho, sem usar passwords ou coisas do tipo, era tarefa para poucos. Games como Battletoads e Megaman 2 são conhecidos como exemplares dessa tarefa quase hercúlea, seja por conta dos bugs malditos, seja por conta do nível absurdo de desafio. E mesmo quando o progresso do jogo poderia ser salvo, as coisas permaneciam difíceis: Donkey Kong Country, do Super Nintendo, Alien Soldier, do Mega Drive e posteriormente, Dark Souls, são exemplos notáveis de como salvar progresso pouco influencia na dificuldade.
Havia mais tempo disponível antigamente. A vida, mesmo que fosse muito corrida, não chegava nem perto do rush dos dias de hoje. Não é mentira quando eu digo que meus pais e tios jogavam games, mesmo trabalhando bastante. Lembro-me, até hoje, das tardes de sábado que eu, meu tio e meu primo, ficávamos jogando Sonic 2, no Mega Drive, vendo quem chegava mais longe no jogo. Mas aí, fatores como evolução tecnológica, agilidade do envio e recebimento de informação ("culpa da internet", gritaria minha avó) contribuíram para um aumento drástico da "velocidade" do mundo, que não pouparam os games também. Esse tio em questão nunca mais jogou videogame, desde então. Hoje, com célebres exceções, vemos games rasos, de fácil e rápida absorção. Vivemos a era dos games fast-food, a era onde um jogo foi feito para ser desfrutado rápido. Esqueça as campanhas de 20 ou 30 horas de jogo. Esqueça personagens ou modos secretos – aliás, esqueça os segredos. Nada mais disso importa. Tudo em nome da experiência cinematográfica nos games, correto? Uma experiência para todos!
ERRADO. Muito errado.
Eu não quero que o game seja uma experiência cinematográfica. Eu quero ter é orgulho de ter finalizado um jogo e vibrar quando faço isso. Dane-se a experiência cinematográfica, dane-se ficar assistindo mais do que jogando. Cinema já existe. Games foram feitos para serem jogados e nos desafiarem a vencê-lo.
O que nota-se hoje é uma falta absurda de desafio nos games e, quando este fator é presente, ele é visto como dificuldade. Exemplo claro disso é Dark Souls. É considerado por muitos como um dos jogos mais difíceis de todos os tempos, se não o mais difícil. Sabe quem deu a fama de difícil à Dark Souls? Justamente quem não está habituado à ser desafiado. Justamente quem joga games rasos, dessa geração fast-food. Dark Souls está longe de ser difícil. Ele apenas pune (e muito) os erros, fazendo com que você – jogador – acabe aprendendo a não errar do mesmo jeito várias vezes. Games difíceis são aqueles que são BEM difíceis, pouco balanceados e cheios de bugs, quase 100% das vezes de propósito, como alguns jogos de naves com adversários que lotam a tela de tiro ou o Contra de Nintendinho. Dark Souls não é difícil, muito pelo contrário: Dark Souls não é fácil – o que é completamente diferente de ser difícil. Ele não te dá a comida, mastigadinha, na boca: Ele fala para você mesmo ir lá na cozinha pegar a comida.
Me arriscando (mais ainda) a parecer um velho saudosista chato, a geração atual precisa, de uma vez por todas, aprender que desafios tem o objetivo básico de serem vencidos e pararem de enxerga-los como barreiras impossíveis de serem transpostas. Não estou dizendo para todos os games do mundo serem difíceis, só quero que parem de ser idiotas.
Leon Cleveland é formado em Comunicação Social pelo Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora. É fã de desenhos animados, mitologias, heavy metal, culinária, gastronomia, bacon e é completamente apaixonado por games. Tão apaixonado que sua Tese de Conclusão de Curso foi "O uso da Linguagem Cinematográfica nos Games". Já escreveu para várias publicações, analógicas e digitais, sobre o assunto e planeja se especializar na recente área de "Crítica de Videogames".
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