Artigo comportamento das pessoas |
25/06/2001
Quem n?o se lembra do personagem principal do filme ?Melhor ? Imposs?vel?, Melvin Udall, interpretado pelo ator Jack Nicholson, que, dentre outros h?bitos, esfor?ava-se exaustivamente por n?o pisar nas linhas desenhadas na cal?ada por onde passava? Seu comportamento bastante interessante, caracterizado por uma rigidez indiscut?vel, faz lembrar o de algumas pessoas com quem convivemos ou de quem ouvimos falar desde que o pa?s se deparou com a crise energ?tica que vem mobilizando todas as classes sociais. Tais pessoas foram denominadas, pelos jornalistas em reportagem exibida no Jornal Nacional da Rede Globo como ?Os Radicais do Apag?o?.O referido personagem do filme ?Melhor ? Imposs?vel? carregava consigo um diagn?stico, dado por seu psiquiatra, de Neurose Obsessiva Compulsiva. Ele seria facilmente diagnosticado por qualquer profissional da ?rea da sa?de mental devido ? forma exagerada com que manifestava seus sintomas. Tra?os da personalidade obsessiva podem comumente ser encontrados em muitos indiv?duos, entretanto em alguns aparecem de forma t?o intensa que chegam a comprometer seu bem estar.
Essa s?ndrome cl?nica pode ser caracterizada, de maneira simplificada, por comportamento que aprisiona o indiv?duo dentro de uma esp?cie de ritual, ficando impotente frente ? obsess?o. A pessoa sente-se compelida a executar atos repetitivos, como lavar as m?os, conferir se o g?s foi fechado, se a porta foi trancada, se a luz foi apagada. Isso tudo in?meras vezes, at? na mesma hora. O sujeito se aliena nessas atitudes de forma involunt?ria, mas consciente; o que o incomoda e faz sofrer.
? uma pessoa extremamente organizada ? sua maneira, quer controlar tudo, tem medo de ser chamado ? aten??o, o que o leva ? obedi?ncia e ? exig?ncia de que todos tamb?m sejam obedientes. O dinheiro tem grande representatividade em sua vida. Esse indiv?duo perde a liberdade, a espontaneidade, enfim, a tranq?ilidade, quando a s?ndrome chega a um est?gio avan?ado. Para n?o se envolver com sua vida natural, e provavelmente com seus problemas reais, encontra-se capturado por esse comportamento que n?o lhe d? chance de pensar em outra coisa. Essa ? a forma que encontra para viver.
Mas, enfim o que isso tudo tem a ver com a crise energ?tica que assola o pa?s? Essa tal crise, como j? ? sabido, vem obrigando as pessoas a uma mudan?a radical de h?bitos, e, juntamente com isso, oferecendo generosamente a alguns, respaldo legal ao comportamento obsessivo compulsivo, que provavelmente j? era comum a eles. Mas tamb?m vem fazendo com que boa parte dos brasileiros adotem uma maneira de ser semelhante ?quela descrita acima. N?o ? somente na economia que a crise vem influenciando, ? tamb?m na vida emocional das pessoas.
Alguns, encararam de forma radical o racionamento energ?tico abolindo totalmente o uso dos aparelhos el?tricos, inclusive chuveiro e m?quina de lavar roupas. Para essas pessoas, qualquer consumo de energia, que n?o seja o estritamente necess?rio, ? encarado como ato irrespons?vel e desobediente. Restringiram, obsessivamente, suas vidas ? essa economia. Al?m de, sempre, estar vigiando rigorosamente o uso da eletricidade pelas pessoas pr?ximas.
A maioria das pessoas, nos dias atuais, precisa, constantemente, verificar se as luzes foram apagadas, se os aparelhos el?tricos foram desligados, se o consumo de energia est? diminuindo suficientemente, entre outros h?bitos. Percebe-se, ent?o, o aprisionamento necess?rio do indiv?duo nessas atitudes. Assim ele cria rituais, tem medo de ser apanhado na transgress?o do consumo de energia al?m do estipulado pelo governo, precisa se organizar em fun??o das mudan?as, obedecer ?s autoridades, para n?o ter preju?zo financeiro, nem ser punido com o corte de luz; sua liberdade precisou ser tolhida por ele pr?prio.
Essa pessoa n?o se encontra com nenhuma s?ndrome cl?nica, somente est? sendo v?tima das circunst?ncias, mas vem sofrendo um grande desgaste emocional, irritando-se muito em fun??o das limita?es com as quais t?m que conviver. Apesar disso, buscam continuar vivendo da melhor forma poss?vel e conviver com a crise de maneira equilibrada at? que ela seja sanada.
Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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