Artigo |
26/06/2002
"Bicho-Pap?o","Velho do Saco", "Lobisomem", juntamente com outras figuras mais concretas como ?o cachorro?, ?o rato? ou at? mesmo ?a barata?, v?m constituindo presen?a marcante como poderosos instrumentos coatores utilizados por pais ?vidos por lapidarem socialmente seus filhos. N?o ? raro encontrar pessoas envolvidas com a dif?cil tarefa da educa??o infantil lan?ar m?o de estrat?gias de controle do impulso da crian?a. Muito bem intencionadas, funcionais em curto prazo, mas deveras desastrosas quando se pensa em sua repercuss?o ao longo da vida.?- Menino, n?o ande na rua sozinho, sen?o o Bicho-Pap?o te pega?. ?N?o solte minha m?o, ou ent?o o cachorro te morder?. ? Estas s?o frases comuns nas portas de escolas, pracinhas, clubes ou outros locais freq?entados por crian?as, pais ou substitutos destes. Intercalam-se com a imposi??o de outros castigos de ordem f?sica ou moral.
O castigo, a puni??o e principalmente a amea?a n?o constituem forma adequada para se atingir ?xito na educa??o dos pequenos. Uma crian?a raramente se convence de que alguma coisa est? errada porque seus pais ou cuidadores dizem que est?.
Torna-se errada para ela porque quer ser amada pelos pais, pela bab?, ou pela professora. Uma vez que a forma mais r?pida de ser amada ? fazer o que as pessoas aprovam e, a longo prazo, identifica-se com seus valores. Apesar de a cr?tica ou o medo do castigo poderem impedir algu?m de agir errado, isso n?o faz com que se tenha vontade de agir certo. Segundo o autor Samuel Johnson, desprezar esse fato simples ? o grande erro no qual caem pais e educadores quando confiam nesses meios negativos de corre??o.
A ?nica disciplina efetiva ? a autodisciplina, motivada pelo desejo interior de agir meritoriamente, a fim de ficar bem a seus pr?prios olhos, de acordo com seus pr?prios valores, de maneira a sentir-se bem consigo mesmo ? ter ?uma boa consci?ncia?. Isso se fundamenta em valores que se internaliza porque se ama e admira pessoas que vivam de acordo com eles, pois, dessa maneira, espera-se ser estimulado por esses outros que t?m tanto significado. Sendo assim, ? poss?vel dizer que o objetivo de um pai na ?rea da disciplina deve ser aumentar o amor-pr?prio da crian?a e torn?-lo t?o forte e relevante que impedir? que o jovem aja erradamente.
N?o se prega, aqui, em hip?tese nenhuma, um tipo de educa??o benevolente e permissiva, mas sim uma maneira de proceder que implica em formas mais bem elaboradas, que possam se solidificar e menos imediatistas. Explicar para a crian?a o motivo de uma repress?o ou proibi??o utilizando uma linguagem acess?vel a ela; respeitar o seu n?vel de desenvolvimento, matura??o e compreens?o dos fatos pode ser mais demorado, mas o efeito pode ser prolongado para o resto da vida. Discernir a hora de falar e a hora de calar e al?m de tudo sustentar uma determinada postura adotada, independente de birras ou pirra?as tamb?m ? importante.
Nesse contexto ? sempre bom recordar a advert?ncia de Freud: a voz da raz?o pode ser insistente, mas ? muito macia, enquanto o clamor das emo?es ? com freq??ncia insuportavelmente alto, t?o alto que pode bloquear todas as outras vozes. E isto acontece especialmente na inf?ncia. Os conte?dos primitivos, aqueles incutidos na inf?ncia mais remota, s?o os alicer?ados com maior intensidade e que costumam permanecer arraigados ao ser humano, muitas vezes para o resto da vida. Demandam grande esfor?o e trabalho para serem superados at? mesmo quando a vontade de mudar ? real.
? preciso que os educadores tenham consci?ncia desse fato e saibam manejar adequadamente os instrumentos educativos com boa finalidade. Conter as atitudes de uma crian?a com os fundamentos da amea?a, do medo, da inseguran?a n?o contribui para um desenvolvimento ps?quico e emocional saud?vel. Outrossim, proporcionam a forma??o de uma personalidade fraca, f?bica, dependente e insegura e que orienta suas a?es atrav?s do medo de supostas puni?es advindas do mundo externo.
Denise Mendon?a de Melo
? psic?loga, formada pelo
Centro de Ensino Superior
de Juiz de Fora.
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