José Anísio da Silva José Anísio da Silva 17/06/2014

O futebol não é como antes...

copaDa adolescência para a fase adulta, cresci com a informação - especialmente na faculdade - de que o futebol é o ópio do povo ( e a religião também). De que, tanto o primeiro como o segundo conteúdo social, são dois fortes elementos da nossa cultura, que sem questionamentos, anestesiam a consciência das pessoas, sobretudo, as que estão empobrecidas. Em outras palavras, estes dois pilares culturais, não contribuem para a formação crítica de seus cidadãos para a transformação de uma sociedade injusta e alienadora, como a nossa. Estas afirmações, são de fazer, Marx, ícone (atual e necessário) do pensamento revolucionário, revirar-se no túmulo, de tanta indignação.

As metáforas do futebol, tão recorrentes no discurso político oficial, com seus encantos, dribles e decepções, enquadram-se muito bem nas agruras e conquistas (de lutas) do cotidiano do trabalhador brasileiro. Cada trabalhador/a é um/a guerreiro/a no jogo da vida - todo santo dia -. O tempo presente produzido nas ruas, desde junho do ano passado, exige que a Copa das Copas, atenda ao cidadão-torcedor-cidadão, para além das fronteiras do velho gramado. E mais do que pão e circo, a população impõe uma agenda nova para a melhoria de suas condições de vida.

Como anda o nosso futebol? Assim como em outras dimensões da vida contemporânea, o futebol também está perdendo a graça. A bola está ficando quadrada, ou não temos mais artistas do espetáculo em campo? Sem novidades, a não ser as estratégias criadas pelo mercado da bola, no vai e vem de jogadores, não encontro motivações robustas para assistir aos jogos de futebol. Mas mesmo assim (fazer o quê?), fico preso à sala de TV, em casa, principalmente, aos domingos. É o mesmo comportamento dos idos tempos de 1980, com o Flamengo de Zico e Cia. Só que hoje não tenho mais a presença calorosa e apaixonada dos amigos e vizinhos, diante de uma TV. O mundo mudou. O futebol mudou com ele.

A convivência social anda muito chata e apagada. A cidade está chata. A "Maria do Calçadão" despediu-se e agora, quem vai mexer com a gente na rua? O país está sem graça. Nossos representantes políticos/alguns, como crianças mimadas, só querem ter vontades atendidas e poucos serviços sociais à população. As pessoas, de um modo geral, e permanentemente, estão sempre com pressa e sem tempo para "jogar conversa fora". Raro também, tem sido o encontro de amigo/as. E por fim, percebo que o futebol está muito chato. Não poderia ser diferente, porque o futebol espelha fielmente a sociedade, nossas relações sociais capitalistas - dentro e fora das quatro linhas - .

Não temos mais goleadores de ofício. Aquele atacante de origem, como gostam de dizer, os cronistas esportivos, "fazedor" de gols. Hoje, os gols são feitos através de faltas, de penaltis, cobrados por especialistas nestes lances. Temos, via de regra, jogos burocratizados, estudados em versos e prosas, em métricas e rimas, que compõem a sintaxe gramatical, de como não perder a partida. Como diria o excelente Parreira: "vencer de meio a zero está bom". Ah, que saudades do mestre Telê Santana! Preferia perder a jogar mal.

Eu já ia me esquecendo. A Copa do Mundo chegou. Eu vou torcer para a conquista do hexacampeonato. Até porque, esta Copa, tem um significado muito especial para mim: afetiva e espiritualmente. Será a Copa que meu querido pai, meu grande e insubstituível técnico da minha vida, não verá. Boa sorte, Brasil. Saudades eternas. Pai.


José Anísio da Silva
Assistente social, mestre em Serviço Social pela UFJF, especialista em Gerontologia pela FUMEC - Fundação Mineira de Educação e Cultura/BH e pela SBGG/MG - Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia de Minas Gerais. Participa ativamente do CMDI/JF - Conselho Municipal dos Direitos do Idoso de Juiz de Fora/MG.

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