
Vida no coração da cidade
Árvores do Parque Halfeld superam as marcas do tempo e se
transformam em um museu natural em pleno centro de JF
Repórter
16/11/2006
![]() |
![]() |
![]() |
|
|
![]() ![]() |
![]() |
|
![]() |
![]() |
![]() |
Cento e quarenta e oito árvores. Quem passa todos os dias
pela área do Parque Halfeld, não imagina a riqueza histórica existente no coração da cidade.
São cedros, palmeiras, ipês, figueiras e até um pau brasil compondo esse
museu natural bem no centro de Juiz de Fora. Os dados são da Agenda JF,
levantados em uma pesquisa para a manutenção do local. Se somarmos todos os anos de
vida das 148 árvores da região, chegaríamos a
um total de dar inveja a qualquer historiador: mais de dez mil anos.
Criado em 1854, o Parque abriga
53 espécies distintas, sem contar com as gramíneas, arbustos,
folhagens e epífitas do entorno. Seu valor histórico foi reconhecido em
1989, quando tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal.
"A maioria das espécies é exótica"
, observa o biólogo e consultor da
Associação do Meio Ambiente de Juiz de Fora (AMA-JF), Arthur
Valente (foto abaixo). Isso significa que as espécies foram
trazidas para o local, diferentemente do pensamento popular de que as
árvores são nativas da região.
Entre os exemplos mais distantes da terra "onde tudo o que se planta dá", é possível destacar os flamboians, originários em Madagascar, ilha do continente africano, a Caneleira da Índia, nativa do Sri Lanka e Índia, além do Alfeneiro do Japão, típico na Ásia. De acordo com Valente, desde o período do Brasil-Colônia são trazidas espécies dos quatro cantos do continente ao país , fato que contribuiu para a diversidade no paisaigismo de ambientes públicos, como é o caso do Parque Halfeld.



Em frente ao Edifício Clube de Juiz de Fora, há um exemplar da Araucaria excelsa (foto acima, à direita), muito conhecida na Austrália. Há ainda espécies como o Jamelão, originário da Ásia Tropical, e o Cipestre Fúnebre, com origens registradas no Japão.
As recordistas em quantidade são as palmeiras, com cerca de 10 exemplares da Palmeira Imperial, nativa de Cuba, além da chinesa Palmeira-Leque-Falsa e da Palmeira das Bermudas, as duas com quatro representantes no parque. A Palmeira Ráfia é a única da espécie com apenas um exemplar. Em segundo lugar, vem a Tipuana, com 10 exemplares no parque, típica da América do Sul, muito comum nas praças juizforanas.
O Parque reserva espaço também para as preciosidades da nossa natureza. A
começar pelo Cedro que corre risco de extinção e, no entanto, possui nove
exemplares preservados no parque. Na esquina da Rua Marechal
Deodoro com a Rua Santo Antônio, um exemplar da Peroba Rosa está imune de
corte, devido ao decreto
municipal número 2.793, no ano de 1982. A expectativa é de que esta árvore tenha cerca
70 anos. Outras espécies ameaçadas de extinção são a Canela
Cheirosa e o Pau
Brasil, esta última imune de corte em 20 de setembro deste ano.
Árvores no meio urbano

Durante um estudo biogeográfico das áreas verdes de Juiz de Fora, a professora em parceria com a aluna Renata Geniany (leia a matéria), constatou que a região central da cidade está carente de vegetação. "Os bairros centrais apresentaram um índice de 6,6% de sua área composta por área verde, sendo que o recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) é 12%", revela a professora.
Embora o Parque Halfeld seja um forte
representante da natureza nessa região, a professora explica que seria
necessário uma distribuição melhor dessas árvores. "Não adianta uma
concentração grande no parque, sendo que há ruas sem nenhuma área verde. O
índice é calculado a partir de uma distribuição equilibrada por arruamento",
avalia.
Para o biólogo da AMA-JF, Arthur Valente (foto ao lado), é necessário que sejam apresentadas alternativas para a falta de área verde no centro. "Temos que revitalizar as praças de todos os bairros da cidade, levando o conforto das árvores e a história de cada espécie à população. Na Mata do Krambeck, por exemplo, poderia ser construído um Jardim Botânico, devido a quantidade de espécies nativas e exóticas na área da fazenda e por apresentar muita área de floresta nativa", sugere.
A história do Parque Halfeld
"O Parque Halfeld é considerado o primeiro logradouro público criado em Juiz de Fora. O terreno foi adquirido pela Câmara em 1854, numa área delimitada por ranchos de propriedade do engenheiro Henrique Guilherme Fernando Halfeld. Com a aquisição o local passou a ter uma destinação pública como Largo ou Jardim Municipal.
Os vereadores demoraram a manifestar preocupação em embelezar o lugar. Em 1879, a Câmara Municipal reitera a indicação de Marcelino de Assis Tostes para que o largo fosse ajardinado. No ano seguinte a Câmara encarregou o arquiteto Miguel Antônio Lallemant de fazer a planta para o ajardinamento da praça e em 4 de março do mesmo ano fechou o contrato para a realização do serviço com os senhores Júlio Monfá e André Alfeld. Antes do final do ano de 1880 as obras no largo já estavam terminadas no entanto o resultado final não agradou aos vereadores que em vistoria no local.
Vinte anos depois, em 1901 o largo municipal foi completamente remodelado por Francisco Mariano Halfeld, que custeou todas as despesas executadas pela Companhia Pantaleone Arcuri.
A inauguração das obras de remodelação do Parque Halfeld ocorreu no dia 5 de outubro de 1902, mas antes por oficio de 17 de julho de 1902 o coronel Halfeld comunicara à Câmara Municipal que ficara tão satisfeito com acabamento das obras que havia gratificado aqueles construtores por intermédio de seu representante capitão Antônio Pinto Monteiro com a importância de quinze contos de reis.
Reformas sucessivas foram realizadas durante as décadas de 50, 60 e 80 gradativamente mudando a concepção paisagística do Parque Halfeld como passou a ser conhecido. O Parque Halfeld foi tombado pela Prefeitura Municipal de Juiz de Fora em 29 de dezembro de 1989".
Fonte: Patrimônio Histórico da Prefeitura de Juiz de Fora. Texto do documento de tombamento do Parque Halfeld.