Tuka: um jovem senhor do rock n' roll

Novo cidadão benemérito de Juiz de Fora, Tuka revela história de amor com o rock, fala do cenário musical brasileiro e da homenagem que recebeu na Câmara Municipal

Lucas Soares
Repórter
19/09/2015

"O Tuka é um pobrestar, um rockstar, que é pobre. Um camarada que deu certo na música, sem ter ficado famoso e sem ter ganho dinheiro", assim se define Douglas Esterce, 50, o empresário e músico que carrega o apelido de "Tuka" desde pequeno e é o mais novo cidadão benemérito de Juiz de Fora (foto ao lado).

A história de amor com o rock começou há exatos 30 anos, na primeira edição do Rock In Rio. "Um amigo meu do quartel levava um CD do AC/DC para a gente ouvir enquanto capinávamos e fazíamos os afazeres do Exército. Era diferente a música, já gostava de Élvis (Presley), mas não era fissurado. Não era um roqueiro como sou hoje, meu vício era o futebol. Quando pintou a possibilidade de ir no Rock In Rio, tinha uma banda que chamava Saxon, que tocava a música Cruzader. Uma música pedrada, violenta, e quando eu ouvi, parece que foi espiritual. A música é bonita pra 'cac.te', tem um refrão forte, e ali me encontrei. Quando vi o Whitesnake, dei uma pirada. Foi 'fo.a' mesmo. Aquele blues-rock foi demais. Depois que fui no Rock In Rio, encontrei um monte de gente bacana e tive esse boom. Saí de lá querendo montar uma banda, ser artista, fazer por brincadeira", comenta.

Apesar de ser reconhecido em toda a região, Tuka rejeita o rótulo de ícone da música da cidade ao analisar o cenário local. "Eu não sou nada. Juiz de Fora é muito musical, em vários estilos. Tem o sertanejo, pagode, as bandas de baile, e o Rock n' Roll desde 1967, com a primeira banda, A Besta. Só tinha música fera. A veia musical é muito potente, mas o poder público não entende isso. Deveríamos olhar isso com mais carinho, introduzindo música nas escolas. Somos bem culturais, tanto em artes plásticas, no teatro, na música. Sinto que não é aproveitado o que a cidade tem de bom", opina.

Já na veia musical de Tuka passa de quase tudo. "Eu só ouço o que eu gosto, tudo o que for de rock n' roll, nacional e internacional. Mas o hard rock, o blues e o heavy metal, eu ouço muito e entendo. Eu gosto das coisas que são novas, que tem a guitarra como elemento de frente, e o vocal legal. Se o cara não tem o vocal legal, não vou conseguir ouvir. Temos grandes vocalistas e grandes guitarristas aqui", garante.

País midiático

Ao comentar o cenário da música nacional, Tuka não titubeia ao apontar os culpados pela baixa exposição do rock na mídia. "É um problema cultural. O país é midiático. E o rock n' roll está elitizado. Tenho três ônibus para levar para o show do Mettalica, a maioria são brancos, ricos, e você não chega na classe menor, porque a televisão não deixa. Tem um canal de música que é fantástico. Ele toca o funkão brabo, não esse fuleira aí, carioca, e sim o funk do James Brown. Mas é um canal fechado. Quem tem canal fechado? Quem tem dinheiro para poder pagar. O pessoal das comunidades não consegue ter. Tem que mostrar para eles essa veia, esse lado da música. Por eles mesmo também, que acabam caindo numa armadilha. Muita gente conhece o Bob Marley porque ele era maconheiro, mas não sabem a história dele, o que ele representa para a música, que o reggae veio de uma vertente do rock. Eles não conhecem Chuck Berry. Ele juntou os brancos com os negros, foi um dos caras mais revolucionários que teve, sem querer. Ele queria tocar rock n' roll e misturou tudo, dentro do momento dele. Quando ele tocou "Johnny B. Goode", misturou tudo. Quem tem internet, conhece tudo. Aí o rock n' roll continua vivaço. E vende CD. Vendi todos do Iron Maden, do Whitesnake. A Europa está recheada de rock n' roll. O problema é nosso, a nossa cultura é muito volúvel", opina.

Para Tuka, a necessidade de aparecer na mídia acaba migrando alguns artistas para outros gêneros. "O sertanejo e o pagode estão cheios de roqueiros. O cara não consegue ganhar dinheiro com rock e acaba indo. Você tem um Victor e Léo, que é rock n' roll pra 'cac.te'. Eles conhecem o rock, e quando misturam, não fica ruim. Os caras são feras. Eu toquei com Theodoro e Sampaio e eles eram todos roqueiros, mas tocam música de raiz, esse forrózão responsa, bonito. O cara tem uma banda maravilhosa, mas precisa ganhar dinheiro. O Rodriguinho, pagodeiro, conhece tudo de Iron Maden, já tocou em banda de cover e sabia todas as músicas, deixando o pessoal impressionado. A música tem que ser universal, e sem influência. Todo mundo fica fazendo a mesma coisa e os músicos tem que ganhar dinheiro", garante.

Homenageado

Na última terça-feira, 15 de setembro, Tuka foi agraciado com o título de cidadão benemérito de Juiz de Fora pelo vereador Roberto Cupolillo (Betão-PT). Na ocasião, além de receber o reconhecimento, o músico foi o primeiro a fazer um show dentro do Plenário da Câmara Municipal, assistindo por amigos e fãs. "Eu fiquei super emocionado, bem lisonjeado. Nós quebramos um tabu, com a primeira vez com um rock na Câmara. Eu fiz minha parte como artista, músico, divulgador da cultura de Juiz de Fora, mas ganhei com isso. O Betão me deu o título, eu fiquei feliz como cidadão. Quem faz pela cidade, merece ser reconhecido, eu tenho um carinho enorme por Juiz de Fora e, onde eu vou, falo que sou daqui", revela.

E quem pensa que os longos cabelos brancos sofrem preconceito, está enganado. "Não sofro preconceito. Acabo sendo tratado melhor do que deveria ser. Sempre tem um roqueiro perdido atrás do uniforme, da farda, do crachá. O roqueiro não sou eu, cabeludão, tatuado. É um cara careca, que vai longe para ver o show. Eu tenho um amigo delegado que é roqueiro, que viaja atrás do rock. Às vezes um gari, que passa, escuta a música e reconhece. Para nós, é o melhor estilo. Estamos todos juntos, com o blues, o jazz, o funk music. Não tem cor, credo. Tem rock na igreja, em vários locais do mundo. O preconceito é dos outros, não é nosso", conclui.

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