Especial Dia dos Namorados 2009

Pessoas se escondem atrás do medo de se envolverDia dos Namorados traz à tona temas como a dificuldade de se relacionar.
Para se entregar, é preciso identificar o que incomoda

Patrícia Rossini
*Colaboração
4/6/2009

O clima de romance toma conta das ruas e das rodas de conversa na véspera da comemoração do Dia dos Namorados, 12 de junho. Para quem vai passar a data sozinho, a "overdose" de corações nas vitrines pode trazer à tona temas como a dificuldade de se relacionar e a tomada de iniciativa, que, de acordo com a psicóloga Ana Stuart, são mecanismos de defesa contra a intimidade. "Cada vez mais, percebo que a dificuldade em lidar com a intimidade é o principal problema de um casal. Por não saber conviver com a ela, a pessoa se esconde atrás do medo de se envolver."

Ela acredita que a habilidade para conviver com a intimidade também é influenciada pela família. "Um casal que compartilha a intimidade com os filhos e fala abertamente sobre os problemas tende a criar um ambiente propício ao desenvolvimento da relação com o íntimo. No sentido contrário, quando os pais escondem esses problemas, os filhos têm chances maiores de se tornarem pessoas fechadas e, por consequência, poderão ter problemas para se relacionar."

A opinião da psicóloga é compartilhada por uma estudante de 22 anos, que preferiu não ser identificada. Ela atribui à criação e ao convívio familiar seu medo de relacionamentos. "Acho que tem muito a ver com o que eu vivi dentro de casa. Meus pais brigavam muito e acabaram se separando, fui criada pela minha mãe e acompanhei todo aquele processo de separação, que é complicado. Talvez isso tenha contribuído para o meu receio de me envolver."

A estudante afirma que, depois de muito tempo convivendo com o problema, decidiu mudar. "É um desafio, pois você já está acostumada a ser de um jeito. Mas estou tentando me tornar uma pessoa diferente e vencer o medo."

Para superar isso, Ana destaca que a pessoa precisa identificar o que a incomoda. "Geralmente, quem teme o envolvimento tenta transferir para o outro os próprios receios. Dessa forma, a relação se transforma numa guerra de poder, na qual quem possui a personalidade mais forte é o vencedor. Esse não é o caminho. Na relação de casal, vencedor é o que vence a si mesmo", completa.

Outros medos

A psicóloga explica que os temores pessoais também podem interferir em outros momentos de um relacionamento, como a tomada de iniciativa e o término. "Depois que se banalizou o 'ficar', as pessoas passaram a evitar a aproximação por temer a rejeição. Por isso, muitos dizem que não querem se comprometer, ainda que, na verdade, estejam atrás de algo mais sério."

Para a estudante, a situação está diretamente relacionada ao medo do envolvimento. "Não tomo a iniciativa porque tenho medo de que a situação se transforme em alguma coisa mais séria. Isso me assusta."

No consultório, Ana Stuart também acompanha casos de pessoas que estão infelizes em um relacionamento, mas não terminam para não ficarem sozinhas. "Há quem se sinta aprisionado numa relação e, ainda assim, não tenha coragem para pôr um ponto final na história. São indivíduos que se consideram uma péssima companhia, pois não conseguem ficar a sós consigo mesmo."

*Patrícia Rossini é estudante  de Comunicação Social da UFJF

Os textos são revisados por Madalena Fernandes