BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) - O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, tomou posse nesta segunda-feira (2) com discurso de pacificação e sem tocar em pontos sensíveis às Forças Armadas.

Conhecido pelo perfil discreto e articulador, Múcio foi escolhido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o cargo com o objetivo de desfazer crises e conduzir a intricada transição da pasta.

Ele disse à imprensa que, na pasta, quer manter as tradições militares. Nesse contexto, conta, escolheu os comandantes das Forças Armadas preservando o critério de antiguidade, por meio de uma rápida pesquisa na Internet.

"Quando Lula me chamou, ele disse: 'Olha, você escolhe os comandantes e depois vamos conversar sobre isso'. Depois do almoço, ele me telefonou e eu disse que já havia convidado todos os comandantes", disse.

"Eu não conhecia nenhum dos comandantes. Eu fui na Internet, vi quem era o mais antigo e eles viraram comandantes. Quem era o segundo virou o primeiro, o terceiro virou o segundo", completou.

Múcio fez um rápido discurso ao ser empossado. Ele disse que as Forças Armadas estão à serviços da democracia e evitou comentar assuntos sensíveis aos militares.

"Nosso país possui tradições pacíficas. Apesar de sua relevante dimensão geopolítica, o Brasil e suas Forças Armadas sempre se posicionaram a serviço da paz, da democracia, do respeito às instituições e da cooperação com os seus vizinhos.

O ministro disse que concentrará a função política da Defesa para dar condições aos trabalhos das Forças Armadas.

"Em mais de duas décadas, o Ministério da Defesa tem desempenhado com inegável proficiência sua missão de coordenar a formulação das políticas de defesa e de seus marcos regulatórios. Dadas as peculiaridades, procurarei na direção política superior das Forças Armadas coordenar esforços e assegurar meios e condições para cumprir suas missões."

À imprensa o novo ministro ainda disse que não deve realizar uma ação mais direta para acabar com os acampamentos em frente aos quartéis-generais e disse que os movimentos vão se "esvair" aos poucos.

"Na hora que o ex-presidente entregou o seu cargo, saiu [do país], e o [ex-vice-presidente Hamilton] Mourão fez o pronunciamento e pediu que as pessoas voltassem aos seus lares. Aquelas manifestações no acampamento, e eu digo com muita autoridade porque tenho amigos lá, é uma manifestação pela democracia [...] Eu acho que aquilo vai esvair e chegar até um ponto que todos queremos", completou.

Múcio ainda disse que a despolitização de militares, insatisfeitos com a vitória de Lula, não é "como uma chave, que você vira de uma vez". Para o ministro, se os contrários ao petista não dificultarem a dinâmica e criarem problemas ao trabalho, não há problema.

Participaram do evento os ex-integrantes do governo Jair Bolsonaro (PL) Bento Albuquerque (Minas e Energia), Joaquim Silva e Luna (Itaipu e Petrobras) e Fernando Azevedo (Defesa). O ex-ministro da Defesa Raul Jungmann, do governo Michel Temer, também acompanhou a cerimônia.

O ex-ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira, que deixou o cargo com o fim do governo Bolsonaro, não esteve presente.

Durante a posse, Múcio ficou ombreado à equipe que escolheu para conduzir as principais funções do Ministério da Defesa e das Forças Armadas.

Os comandantes Júlio César de Arruda (Exército), Marcos Sampaio Olsen (Marinha) e Marcelo Kanitz Damasceno (Aeronáutica) foram apresentados pelo ministro.

A equipe da Defesa é ainda composta pelo secretário-geral Luiz Henrique Pochyly e o chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas, almirante Renato de Aguiar Freire.

A escolha dos novos comandantes, na avaliação de oficiais-generais ouvidos pela reportagem, já foi um demonstrativo de que Múcio tentaria interferir o mínimo nas Forças.

O ministro escolheu os oficiais mais antigos de cada Alto Comando --o que, pelas regras militares, promove poucas alterações na estrutura de cada Força e não exonera nenhum oficial de alta patente pelos critérios de antiguidade.

Apesar dos receios no período de transição, Múcio conseguiu se aproximar do ex-ministro Paulo Sérgio e dos ex-comandantes do Exército (Freire Gomes) e Aeronáutica (Baptista Júnior).

O único a embarreirar o diálogo foi o comandante da Marinha, Almir Garnier, como mostrou a Folha de S.Paulo.

O almirante também decidiu não realizar a tradicional passagem de comando, marcada para sexta-feira (5), como sinal de protesto.


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