Quem precisa se deslocar pela Cidade Alta diariamente, especialmente em horários de pico, enfrenta uma série de engarrafamentos e retenções. Um dos pontos que concentram maior fluxo é o trecho final da BR-440, na interseção após o Campo Nova União, na altura do Bairro Jardim Casablanca. Esse é um dos impactos medidos pelos estudos realizados pelo Núcleo de Análise Geoambiental (Nagea) da UFJF, que dividiu em pareceres, uma série de implicações a respeito da construção da via expressa que corta o Bairro São Pedro. Além da Mobilidade Urbana, o trabalho reporta e chama a atenção para os problemas sociais e ambientais que a intervenção provocou, indicando ainda uma série de soluções que podem ser adotadas para possibilitar um uso mais adequado do espaço e reduzir os danos causados até o momento.

A finalização da interseção entre a BR-440 e a BR-040, que já tem parte da obra terraplanada e ainda depende da construção de uma espécie de mergulhão, direcionará o tráfego em direção ao centro da cidade, que já trabalha com vias saturadas. “A Rua José Lourenço Kelmer e a Estrada Engenheiro Gentil Forn estão comprometidas em termos de capacidade de fluxo. Até mesmo a descida precária pela Avenida Senhor dos Passos. Hoje, essas vias já estão no limite e em algumas áreas até ultrapassam. A Universidade também, já que enfrenta engarrafamentos nos dois portões, com impacto de mais de 1 km de retenção dentro do campus, que pode ser agravado com a interligação com a BR-040”, explica o professor da Faculdade de Engenharia da UFJF, Cézar Henrique Barra Rocha, que coordenou o estudo.

A BR-440, conforme salienta o professor Cézar Barra, atualmente, funciona apenas em partes. “Há vários trechos fechados ou semi abertos, o que é ruim para a segurança dos pedestres e dos moradores do entorno. Causando acidentes com atropelamentos, com vítimas fatais, porque foi construída uma rodovia colocada em um bairro já consolidado”. O levantamento apontou que a população poderia se beneficiar com a municipalização da via, com a melhoria dos fluxos e até a utilização das ruas já existentes como um binário. O que é capaz de atender a demandas do trânsito da região.

Inundações

Como apontado pelos moradores e trabalhadores do entorno da BR-440 na primeira matéria da série publicada pela ACESSA.com, a população passou a enfrentar inundações frequentes no período chuvoso. O professor Cézar Barra explica que isso é causado por erros na execução da obra de canalização do Córrego São Pedro. O canal foi dimensionado com seção transversal de 27m², quando deveria ter área mínima calculada de 35m². Desse modo, as seções deveriam ser mais baixas e largas. Além disso, a cota do canal ficou mais alta que o Bairro São Pedro, o que formou uma barreira física para o escoamento das águas pluviais e esgotos nas ruas transversais à BR-440.

“A água nessas ruas chega a subir um metro. Desse modo, há moradores que têm a casa invadida pelas águas, com esgoto misturado, porque ali pega o esgoto dos residenciais de vários condomínios da Cidade Alta também. Todos esses córregos deságuam no Córrego São Pedro, que não é tratado”, detalha Cézar Barra. Na época do estudo, o professor identificou medidas adotadas pela população, como a instalação de barreiras físicas, que impedem a entrada da água nos imóveis, para reduzir os prejuízos.

Nesse caso, conforme o professor, os bueiros, que funcionam para tirar a água das ruas, funcionam de maneira contrária, transportando a água do córrego São Pedro para as ruas. Como as manilhas ficaram muito baixas, conforme a água sobe, elas ficam ‘afogadas’, completamente cobertas pelo fluxo de água. “Isso é até incoerente, já que, geralmente, as inundações ocorrem em áreas baixas, quando a água acumulada vem de pontos mais altos. Isso ocorre, justamente, por conta de uma falha gravíssima na construção do canal, que foi mal dimensionada”, pontua Cézar Barra.  

Esse erro tem um impacto social significativo, conforme levantou o estudo. No período chuvoso as pessoas perdem seus pertences, móveis, eletrodomésticos, entre outros objetos. Além disso, precisam esperar o nível da água baixar para sair de casa, correndo ainda o risco de contrair doenças transmitidas pela água sem tratamento, como a leptospirose e a hepatite.

Para solucionar o problema das inundações, segundo o parecer, um dos caminhos passaria pela instalação de mais uma célula no canal do Córrego São Pedro. Para isso, uma das vias teria que receber a intervenção para um aumento do canal.

Represa de São Pedro

A Represa São Pedro, conforme a Companhia de Saneamento Municipal (Cesama), tem uma barragem de terra de 200m de comprimento por 5m de altura, com área do espelho d´água de 0,04km². Ainda de acordo com a Cesama, a Estação de Tratamento de Água (ETA) instalada no local produz cerca de 120 litros de água por segundo, o que costuma variar de acordo com o nível da represa, que é de 77,3% nessa quarta-feira (10).

A Cesama informa que existem assoreamentos intensos na época de estiagem, quando a vazão fica reduzida. Atualmente, o manancial abastece 8% do município, no entanto, conforme o parecer realizado pelos professores da UFJF, é possível investir no aumento da capacidade do manancial, que poderia chegar a triplicar o volume atual do espaço.

Segundo o professor Cézar Barra, não há registros de processos de dragagem realizados na Represa São Pedro. Com uma obra de reforço da estrutura, como aponta o estudo, seria possível ter ‘piscinões’ que permitiriam o uso do manancial como um reservatório de amortecimento para cheias, aproveitando a água para ampliar o abastecimento na região.

“Fazendo essa dragagem, reduzimos o impacto de inundações tanto na Cidade Alta, quanto na parte baixa da bacia hidrográfica. Teríamos uma atenuação das enchentes”, afirma o professor. Ele aponta que seria possível atender aos bairros do entorno, porque a distribuição é feita por gravidade, vantagem que diminui custos com energia para bombeamento. Além do fato do tamanho das redes ser curto, pela proximidade não só da represa, mas também da estação de tratamento, o que propicia ainda, como frisa Barra, uma capacidade maior de monitoramento.

Para César Barra, é fundamental que a área no retorno da Represa seja preservada para a preservação do recurso hídrico. “Você tem solução para todos esses problemas, para atenuar todo esse impacto, agora o que falta é a vontade política para isso. Os órgãos públicos, que deveriam ter o interesse de resolver os problemas de interesse público, deixam essas discussões de lado ”, avalia. Ele ainda reitera que há diversos trabalhos dentro da UFJF que se debruçam sobre os possíveis caminhos para a BR-440. “Soluções não faltam!”, garante.

Aproveitamento dos usos já atribuídos à BR-440

A parte da BR-440 que já está pronta, segundo o professor Cézar Barra, pode ser convertida em uma via urbana e integrar a rede viária do São Pedro. Ela pode ser aproveitada em toda a sua extensão. Uma das preocupações que a possibilidade de conclusão da integração com a BR-040, é o tráfego de veículos pesados pelo local. O que exigiria outras soluções, já que a localidade não tem estrutura que comporte essa sobrecarga.

FOTO: Divulgação PJF/ Gil Velloso - O professor argumenta que, como a rodovia ficou muito larga, há espaço suficiente para a implementação de uma ciclovia

“As ruas são estreitas, com raio de curva curtos. Na própria UFJF existe uma limitação de tamanho para esses veículos”. O professor argumenta que, como a rodovia ficou muito larga, há espaço suficiente para a implementação de uma ciclovia e até mesmo de uma pista de caminhada. “Esse uso informal já ocorre nos fins de tarde e aos finais de semana. Ele poderia ser formalizado, aproveitando essa largura e as desapropriações que foram executadas. Esses corredores de lazer seriam muito bem-vindos.”

Esta é a segunda matéria da série sobre os impactos causados pela construção da BR-440. Leia também "Obras da BR-440 paradas há 11 anos causam transtornos para a Cidade Alta".

 
Fotos: Foto 1 e 2: Retiradas dos pareceres do Núcleo de Análise Geoambiental (Nagea) da UFJF

Foto3: Divulgação PJF/ Gil Velloso

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BR-440 | juiz de fora

Retiradas dos pareceres do Núcleo de Análise Geoambiental (Nagea) da UFJF - BR-440

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