Dos números de ocorrências consolidados de 2022, transitar em velocidade superior à máxima permitida para a via em até 20% foi a infração mais cometida pelos condutores em Juiz de Fora, com 19.694 notificações totais, até o momento, segundo dados da Seção de Estatística do Departamento de Trânsito de Minas Gerais (Detran/MG) . Esse número representa cerca de 25% do total de infrações registradas durante todo o ano. Em 2021, no ano todo, foram 6.332 violações do mesmo tipo, cerca de três vezes menos ocorrências do que nos primeiros sete meses de 2022. Um dos motivos que ajuda a explicar a diferença expressiva entre os números, é que parte dos equipamentos eletrônicos não estavam em funcionamento antes de maio de 2022.

Outra infração medida pela fiscalização eletrônica, que é avançar o sinal vermelho do semáforo - exceto se houver sinalização permanente livre de conversão à direita- foi a 6ª infração com maior número de registros, com 3.019 ocorrências durante o ano, o que corresponde a 3,8% do total de infrações, até agora. Em 2021, quando parte dos equipamentos não estava funcionando, foram registradas apenas 3 notificações deste tipo de violação.

O número de autuações de trânsito desde que os novos e antigos radares passaram a funcionar em maio de 2022 mais que dobrou entre junho, julho e agosto, em comparação ao mesmo período de 2021, conforme Detran. Somando os dados de maio, junho e julho de 2022, são 50.591 ocorrências em Juiz de Fora, o que representa mais do que o dobro de autuações dos três meses em 2021, quando foram computados 20.397 registros.

Em maio de 2021 foram 6.120 autuações, no mesmo mês em 2022, foram 12.012. Em junho do ano passado, foram 7.831, no mesmo período deste ano, o número de infrações subiu para 20.675, chegando a quase 3 vezes mais ocorrências do que no ano anterior. Em julho de 2021, foram 6.446 autuações, neste ano, 17.904.

O levantamento total de autuações do ano de 2021 chegou a 85.305 notificações. Com os registros feitos de janeiro a agosto de 2022, o total de infrações alcança 78.746 e, segundo o Britto, deve chegar a quase o dobro do ano anterior. Segundo o mestre em Engenharia de Transportes e observador certificado do Observatório de Segurança Viária, José Luiz Britto Bastos, com esse quadro, é possível projetar que os números de 2022 devem avançar para quase o dobro de autuações de 2021, caso o comportamento dos condutores permaneça como está.

Na avaliação de Britto, o grande problema do trânsito em Juiz de Fora é que os condutores da cidade naturalizaram o desrespeito às normas de trânsito. “Abusam do excesso de velocidade, avançam semáforos. É comum ver as motocicletas que não esperam o sinal verde na intercessão. Os motociclistas sempre dão partida na moto antes de estarem com o direito à passagem. Eles avançam o semáforo e ainda colocam em risco a vida das pessoas”, exemplifica.

Nesse sentido, para Britto, a fiscalização é imprescindível. “Ainda bem que temos a fiscalização eletrônica, porque não temos agentes de trânsito suficientes para estar em todos os lugares. Contamos com cerca de 70 agentes, quando deveríamos ter cerca de 290, porque o recomendado é ter um agente para cada mil veículos e, hoje, temos uma frota de cerca de 290 mil veículos na cidade.”

O mestre em Engenharia de Transportes explica que todos os atores do trânsito precisam cumprir suas obrigações. “Numa cidade, o pensamento que os condutores precisam ter é de que a velocidade estabelecida para cada ponto está na lei. Se é 40km, ele não pode passar disso. Se você estiver dentro do seu limite, muito bem. Se estiver fora, está errado e precisa ser punido.” Ele cita experiências como as que têm sido adotadas em pontos de São Paulo, em que os motoristas reduzem para passar pelo radar dentro do limite indicado e depois aceleram até chegar no próximo equipamento. “As multas lá serão feitas pela média. Então se sai de um radar e passa para o outro, acima da velocidade permitida para a via, o automóvel vai ser multado pela média que fizer”.

Esse direcionamento, de acordo com o engenheiro, não vale apenas para a velocidade, mas também para todas as outras normas contidas no Código de Trânsito Brasileiro (CTB). “Por exemplo, há ciclistas que não entendem que precisam parar no semáforo, ou que têm que respeitar as normas do Código de Trânsito Brasileiro (CTB). Ele não pode andar montado na bicicleta em cima da calçada, não pode andar na contramão, coisas assim”, pontua o observador.

Pelas ruas

João Marcos é motorista de aplicativo. Na lida diária com os passageiros, percebe que, em muitos lugares, os radares realmente têm uma atuação educativa. “A Avenida Rio Branco é um ponto que realmente precisa de fiscalização em toda a sua extensão. Temos uma concentração de tráfego de pedestres e ciclistas. A Avenida Presidente Itamar Franco é outro lugar que exige esse acompanhamento. Para o motorista, se manter os 50km indicados para a via, não vai ter problemas”, comenta.

FOTO: Angeliza Lopes - Fiscalização eletrônica na Avenida Rio Branco

Na visão do condutor, há pontos que não foram contemplados pela fiscalização eletrônica em  que há necessidade de acompanhamento, como a Avenida Garcia Rodrigues Paes (Acesso Norte). “Na entrada, pelo Bairro Industrial, as pessoas trafegam em alta velocidade e, geralmente, causam muitos acidentes. Não sei por que não tem um radar ali. É necessário.”

FOTO: Angeliza Lopes - Fiscalização eletrônica na Estrada Gentil Forn

João Marcos explica que em alguns pontos, na visão dos motoristas, especialmente em morros, alguns radares acabam não cumprindo a função educativa que têm. “Na Estrada Gentil Forn, por exemplo, ninguém sobe em alta velocidade. Para subir pega ônibus, carreta, vai devagar porque tem radar na frente. Na subida do Bairro Barreira do Triunfo é semelhante, assim como no Vivendas da Serra. No sentido da descida, concordamos com a posição em que ele está, mas na subida, acreditamos que não seja lugar de ter radar.”

Há uma outra característica que chama a atenção, conforme João Marcos. Há pontos em que o limite estabelecido para o limite de velocidade é menor do que a velocidade permitida para a via. “Se a via permite que você trafegue a 60km, não faz sentido colocar um redutor que estabelece o limite de 40km. Perde o sentido educativo que o equipamento tem, como ocorre na Avenida Brasil, no sentido da Vila Ideal.”

Falta Educação

O que é consenso entre o mestre em Engenharia de Transportes e o motorista profissional é o que os números de registros de autuações contam sobre os condutores de Juiz de Fora: falta educação. “Infelizmente, temos muitos condutores que são mal educados para o trânsito. E na maioria das vezes, eles andam acima da velocidade. Não é levado a aprender, não tem um curso, não tem uma base. Qual é o pensamento? Eu sei que ali tem radar, vou passar devagar, depois vou acelerar de novo. Infelizmente, é uma cultura juiz-forano, há muitos motoristas mal educados.”

Na visão do trabalhador, João Marcos, é preciso investir na formação continuada dos condutores. “A educação vem através do estudo, da atualização, da reciclagem do conhecimento. Eu tenho carteira D, para ser motorista de ônibus. Para isso, preciso estar com os cursos em dia. Se precisar transportar passageiros, cargas perigosas, devo passar algumas horas sentado e aprender de novo. O que falta é isso: ir além da arrecadação e investir na educação”.

Para José Luiz Britto Bastos, no Brasil, esse é um dos principais desafios. “Educação para o trânsito é fundamental, mas a gente aqui não aplica o que determina a norma. O Código de Trânsito diz que a Educação para o trânsito deve ser aplicada do primeiro ao terceiro grau, mas o artigo do código de trânsito que determina isso, não foi regulamentado.” Ele, que trabalha nesse campo, afirma que só temos educação para o trânsito, porque as secretarias, de modo geral, procuram desenvolver um trabalho nessa área. No entanto, infelizmente, as iniciativas não são tão intensas e numerosas como deveriam ser, de acordo com o Código.

Há também outras iniciativas que dependem de mudanças estruturais, como considera João Marcos. Em alguns empreendimentos, residenciais e comerciais, especialmente as construções mais recentes, não foi incluída a demarcação de espaços adequados para que os motoristas, sejam eles profissionais ou particulares, possam fazer o desembarque de passageiros de maneira segura e correta. “Precisamos ter mais pontos para parada que possam ser utilizados por qualquer condutor. Não só algumas classes, como os taxistas, que possuem essa autorização. Precisamos atualizar a cobrança e fazer com que as novas construções já incluam lugares para esse desembarque, porque é uma necessidade que atinge a muitas pessoas.”

Angeliza Lopes - Fiscalização eletrônica na Avenida Rio Branco

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